Questão de identidade

A primeira surpresa de quem acessa o site do ID_BR – Instituto Identidades do Brasil é o nível de transparência, poucas vezes visto, mesmo no chamado Terceiro Setor. Em poucos cliques é possível saber quanto e em quais áreas a ONG investiu seus recursos em determinado mês. O nome das empresas parceiras e demais apoiadores também estão lá. Assim como a biografia profissional dos seus principais gestores: Luana Génot, fundadora e diretora-executiva, e Márcio Caetano, diretor de relações institucionais, além dos integrantes do conselho consultivo: Leila Velez, co-fundadora da Beleza Natural, Sônia Hess, ex-Dudalina, e Luiza Trajano, da rede Magazine Luiza.

Na noite de quinta-feira (11/5) esse time estará de prontidão à porta do principal salão do sofisticado Hotel Copacabana Palace para receber os convidados de seu jantar anual de arrecadação de fundos. Os recursos servirão para engordar o caixa do Instituto que atua na qualificação de jovens que participam de programas de diversidade racial em grandes empresas.

Na verdade, essa é uma forma bastante resumida, e por que não dizer simplória, de descrever o importante trabalho realizado pelo ID_BR. Afinal, mais do que cuidar da empregabilidade de jovens talentos, a dupla Luana e Márcio comandam um time cuja missão é bastante ambiciosa. “Queremos ajudar a acabar com o racismo institucional no Brasil”, diz Márcio.

Para isso, eles vêm atuando em diversas frentes desde a fundação da ONG, em 2013. Neste período, foram criadas iniciativas que já se integraram ao calendário corporativo e de celebração do Mês da Consciência Negra, em novembro, no Rio de Janeiro. Tratam-se de um fórum e uma corrida de rua, respectivamente, com a marca Sim à Igualdade Racial. A lista inclui ainda um selo, com o mesmo nome, outorgado após um longo processo de certificação. Tudo começa com a aplicação do Jogo do Privilégio Branco.

“Fazemos palestras de conscientização e acompanhamos o desenvolvimento de programas de diversidade”, explica o diretor de relações institucionais. E o idioma usado por eles é a linguagem dos negócios. “Nós deixamos claro que a luta contra o racismo é uma bandeira de toda a sociedade e não apenas de um grupo”. E nada melhor do que os números* para justificar a importância da promoção da diversidade.

– O poder de consumo dos afro-brasileiros é estimado em R$ 1,5 trilhão. Se este contingente fosse um país, estaria no G20 – o grupo das 20 maiores economias do planeta

– Empresas com índices altos de diversidade de raça têm 35% mais probabilidade de obter resultados acima da média no seu ramo

– Apenas 5% dos cargos executivos, nas 500 maiores empresas brasileiras, são ocupadas por afro-brasileiros. No caso das mulheres, o patamar é de 1%

– No ritmo atual, levaríamos 150 anos para acabar com as desigualdades entre negros e brancos, no Brasil

Segundo Márcio, que é formado em direito e possui um longo histórico de ativismo social e militância política, a opção em colocar o debate no plano mercadológico foi a saída encontrada para fazer com que o sentido de urgência desta questão fosse compreendido pelos integrantes do mundo corporativo.

Este trabalho já despertou a atenção até de empresas baseadas fora do Brasil. Em janeiro, o ID_BR foi convidado para uma palestra na sede do Google, em Mountain View, na Califórnia. Em março, o Instituto levou a campanha Igualdade Racial: Uma Causa de Todos ao SP Fashion Week. No início deste mês, Luana foi a única brasileira presente no Simpósio Líderes do Amanhã, ocorrido em St. Gallen, na Suiça, e que reuniu 200 jovens de todo o mundo.

A parceria entre Márcio e Luana começou por acaso, em meados de 2015. Àquela altura, o projeto do ID_BR já estava rodando e tinha como foco a corrida e a grife de camisetas concebidas por Luana. O insight para criar o projeto surgiu durante o curso de publicidade na PUC-RJ, em sua volta ao Brasil após uma longa temporada atuando como modelo na Europa.

SAIBA MAIS:

Sobre o II Jantar Beneficente Sim à Igualdade Racial, em 11/05

*Fonte: site do ID_BR