Quando o bilionário americano Warren Buffett anunciou a doação, em vida, de 99% de sua fortuna para projetos sociais, muitos brasileiros ficaram admirados. Afinal, por que alguém abriria mão de um patrimônio, avaliado em US$ 44 bilhões, de uma forma tão generosa? Na verdade, a cultura da filantropia entre os americanos, especialmente os bilionários, é muito antiga e possui raízes seculares também na Europa, continente de onde saíram os primeiros imigrantes que colonizaram essa parte do Novo Mundo.
Os brasileiros, em geral, também têm muito a dizer quando o assunto é ajudar o próximo. Pesquisa realizadas pelo Instituto de Desenvolvimento do Investimentos Social (IDIS) e o Instituto Gallup, mostra que 77% fazem doações regularmente. Estes recursos são destinados a entidades religiosas (obras sociais de igrejas e pagamento de dízimo), ONGs que atuam em causas específicas (educação, assistência à criança etc.), campanhas motivadas por tragédias climáticas ou àquelas organizadas por grandes grupos: Teleton e Criança Esperança. O total chegou a R$ 13,7 bilhões em 2015 e nesta conta inclui também as esmolas.
No entanto, existem diferenças substantivas no que se pode chamar da qualidade da doação quando comparamos com o que acontece no hemisfério norte. “Os brasileiros são movidos por emoções do momento, enquanto os americanos e europeus enxergam a doação (em dinheiro ou bens) como uma ferramenta capaz de fazer transformações na sociedade”, diz Andrea Wolffenbüttel, diretora de comunicação e de relações institucionais do IDIS.
Para disseminar o conceito da doação como um instrumento de mudança social, o Instituto está elaborando uma campanha sobre o tema. O trabalho terá como base a experiência americana e a ambição do IDIS é fazer pegar no Brasil o Dia de Doar, que nasceu nos EUA como Given Tuesday e acontece após o Dia de Ação de Graças, o feriado religioso mais relevante daquele país.
E, sem dúvida, o IDIS possui senioridade e relevância para liderar este debate. Até porque, desde sua fundação, há 18 anos, se tornou uma das vozes mais ativas neste campo. Tudo começou com o inconformismo de seu fundador, Marcos Kisil. Médico de formação ele acabou enveredando pela área de gestão de ONGs e se tornou um dos maiores especialistas do mundo em investimento social privado.
Aliás, a trajetória de Kisil abre a série de vídeos-documentos Grandes Lideranças do Terceiro Setor, produzida pelo IDIS em parceria com a Fundação Escola Aberta do Terceiro Setor. “O projeto nasceu como uma forma de documentar a história do fundador do IDIS”, conta Andrea. “Mas percebemos que poderia se converter numa ferramenta importante para ajudar a disseminar o conceito de filantropia, no Brasil”.
A campanha para o fortalecimento do Dia de Doar está prevista para ser lançada em outubro, durante o VI Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais, em São Paulo. Mas a estratégia do IDIS neste campo vai além. E vez de focar apenas nas famílias mais abastadas, que em geral possuem institutos e fundações ligadas a causas, a ideia é integrar os brasileiros de todas as classes sociais. E também o poder público.
Uma das ações de advocacy (conceito americano para trabalho em prol de causas) leva em conta a criação de fundos patrimoniais, a partir dos recursos obtidos com multas aplicadas por órgãos governamentais. Da prefeitura, do estado e da União.
Hoje, já existem mecanismos setoriais como o Fundo Amazônia que financia ações contra o desmatamento. Os recursos são oriundos de doações do BNDES, de outros agentes financeiros e também de parte das multas ambientais. “O melhor seria se estes recursos fossem geridos por organismos independentes, controlados pela sociedade e não pelo governo”, destaca a diretora do IDIS.
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Sobre a decisão de Warren Buffett