Dinheiro para causar impacto social

Uma das queixas recorrentes das ONGs e dos empreendedores que atuam com projetos de impacto social, especialmente na base da pirâmide, é a falta de recursos. Na verdade, dinheiro disponível existe. Uma prova disso é que os brasileiros possuem R$ 800 bilhões depositados em contas de cadernetas de poupança. A estes recursos somam-se outras centenas de bilhões aplicados em fundos e nos papeis do Tesouro Nacional. Por sua vez, os chamados bancos de fomento (BNDES, BNB, BDMG e Caixa) penam para cumprir as metas anuais de empréstimo. A alegação mais comum é sobre a falta de interessados. Do outro lado, reclama-se do excesso de exigências e garantias.

Para ajudar a quebrar este círculo vicioso, que atrasa o desenvolvimento da economia e reforça a concentração de renda, gestores de empresas e ONGs vêm buscando saídas criativas. Uma delas é a criação de mecanismos destinados a financiar projetos de impacto social. O mais recente deles é a Plataforma de Empréstimos Coletivos SITAWI. Trata-se de um produto com características únicas, pois reúne o espírito das vaquinhas virtuais (crowdfunding) e garante uma taxa de retorno atrativo: 1% ao mês, o dobro da obtida com a poupança.

Quem está por trás da iniciativa é o Instituto Sabin, criado em 2008 e que já investiu R$ 30 milhões em diversos programas, notadamente naqueles ligados a área de saúde. Para este ano, o orçamento foi fixado em R$ 5 milhões. Desde 2014, no entanto, o Instituto começou a olhar também para iniciativas no campo da inovação social. A ampliação do foco é resultado de seu engajamento no debate global sobre o papel das entidades de filantropia empresarial. “Em vez de operar projetos nós entendemos que seria melhor aportar recursos, conhecimento e esforço institucional para garantir a escala das iniciativas”, conta Fábio Deboni, gerente-executivo do Instituto Sabin.

Deboni, gerente-geral do Instituto Sabin/ Foto: divulgação

Em grande medida, o Fundo sintetiza essa nova abordagem do Instituto. Para colocar o produto financeiro de pé, foram gastos R$ 500 mil. Os recursos estão sendo usados para bancar o custo operacional e antecipar recursos para as cinco organizações e empresas que participam da primeira rodada de captação: COOPSERTÃO, UPSaúde, Inteceleri, Stattus4 e Orgânicos in Box (ver detalhes abaixo). Ao entrar na plataforma o investidor escolhe qual dos projetos pretende beneficiar. Cada iniciativa é resumida em um vídeo que conta a história da empresa ou ONG e a cota mínima é de R$ 1 mil.

A meta é levantar R$ 1,5 milhões, até o final de agosto, nesta operação de empréstimo coletivo, também conhecido como crowdlending ou equity crowdfunding. Para cumprir o objetivo, Deboni explica que tanto o Instituto quanto a SITAWI, operadora do fundo, estão trabalhando duro na divulgação. Nesta primeira fase, o esforço se concentrou nos iniciados: investidores sensíveis a ativos com foco em propósito. “Estamos mobilizando nossa rede de relacionamento e de influência para divulgar a proposta”, conta. Desde o dia 16 de junho as adesões já somaram R$ 330 mil e quem lidera essa corrida é COOPSERTÃO, que arrecadou R$ 158 mil, ou 62% da meta. O investimento inicial

Esta opção de obtenção de recursos para financiar projetos e iniciativas de impacto social ganhou um novo impulso, após a edição da Instrução CVM 588, em 13 de junho de 2017. Desde então, o volume de empréstimos nesta modalidade deu um salto de 451%, saindo de R$ 8,34 milhões, em 2016, para R$ 46 milhões, no ano passado.

SAIBA MAIS

Sobre as empresas e ONGs incluídas na Plataforma de Empréstimos Coletivos

Sobre o mercado de Crowdlending no Brasil