Jornalistas não vivem no mesmo planeta que os demais seres humanos. Não é arrogância mas sim constatação vergonhosa do fato. Imagina que ainda por cima decidimos escrever para outras pessoas sem nem ao menos saber direito o que elas querem ou se interessam diariamente. No fim a gente acaba escrevendo sempre para alguma minoria, em alguns casos só para outros coleguinhas de profissão.
Há muitos anos, no século passado, eu quando era repórter passei por um vexame desses. De manhã cedo saindo para trabalhar passei pela portaria do prédio, dei bom dia – sim sou educadinho – e aí o porteiro do turno sabendo de minha condição “jornalística” falou: você viu Fernando morreu o João Paulo.
No ato pensei: o papa. Parei um instante e lembrei que ele, como todo papa, já era bem velhinho – até porque ninguém vira papa no vigor da idade mas já, como diziam os antigos, próximo ou em via de dobrar o cabo da Boa Esperança. Bom, enfim, aí não sei porque perguntei ao rapaz: mas ele morreu de quê?
Ao que ele me respondeu seguro: num acidente da via Dutra.
Pensei na hora: puxa nem sabia que o papa estava aqui no Brasil que desinformado que eu sou. Mas também sei lá quantas vezes ele já veio? Duas, três? Está deixando de ser notícia…porém aquilo dele morrer na Dutra me deixou curioso e perguntei ao rapaz: na Dutra? o que ele fazia por lá?
Ao que ele me esclareceu: voltava de um show.
Parei, pasmo, e disse alto: show?
É, show com o Daniel, respondeu ele pasmo com minha ignorância.
Sim era o cantor João Paulo da dupla João Paulo & Daniel e não o João Paulo II.
Fiz uma cara séria de luto e disse: uma grande perda.
E fui me embora. É isso que dá não conhecer xongas de cultura popular.
Fernando Neves é jornalista e sócio da Argonautas Comunicação & Design