Os sul-coreanos sempre se guiaram por uma lógica própria para explorar os mercados globais. Primeiro, voltaram os olhos para a Ásia, depois para os Estados Unidos e a Europa. Os chamados países emergentes da América do Sul e da África sempre estiveram numa espécie de segundo plano. Contudo, quando decidem se mover em direção a determinada região, o fazem com apetite de um verdadeiro Tigre Asiático. É o caso da Hyundai, que chegou ao Brasil apenas em fevereiro de 2011, com o lançamento da pedra fundamental da fábrica situada em Piracicaba (SP) e onde, desde setembro de 2012, são produzidos o compacto HB20 e o utilitário esportivo (SUV, da sigla em inglês) Creta. De suas linhas de montagem já saíram um milhão de unidades e, hoje, a marca ocupa a quarta posição do ranking de vendas de automóveis, com uma fatia de 9,7%.
Mas o apetite do Tigre em relação ao mercado brasileiro está longe de estar saciado. O objetivo, agora, é conectar a subsidiária com as principais apostas em nível global: mobilidade e inovação aberta. O símbolo desta nova fase são o IONIQ elétrico, um compacto movido a bateria, e o Sonata híbrido, um sedã capaz de rodar com combustível líquido e uma bateria elétrica. A previsão é que ambos sejam comercializados por aqui até o final de 2019.
Apesar de a montadora sempre ter investido pesado em tecnologia, especialmente no desenvolvimento de motores a hidrogênio, elétricos e híbridos, a Hyundai sempre optou por seguir sozinha neste caminho. A guinada na estratégia se deu em 2017, com a criação da subsidiária CRADLE (berço, em inglês, mas que se tornou acrônimo para Center for Robotic-Augmented Design in Living Experiences). Baseada no Vale do Silício e em Israel, a subsidiária tem a missão de conectar a Hyundai a desenvolvedores de soluções de mobilidade, espalhados pelo planeta. São softwares, dispositivos dotados de Inteligência Artificial (IA) e equipamentos capazes de viabilizar a produção de veículos autônomos, capazes de se comunicar com os demais e até voar.
A abertura visa a recuperar o terreno perdido para as concorrentes, especialmente a americana Ford, a primeira do setor a instalar seu Centro de Tecnologia e Pesquisa, no Vale do Silício. “De fato, saímos atrasados nesta corrida. Contudo, o mercado continua aberto, pois nenhuma empresa conseguiu chegar a uma solução definitiva no campo da mobilidade”, diz John Suh, presidente da Hyundai CRADLE. “A indústria está diante de um desafio tão grande que uma única empresa não será capaz de apresentar as soluções”. Em sua primeira visita ao Brasil, o executivo desembarcou em São Paulo com a missão de apresentar o IONIQ no 30º Salão do Automóvel e conversar co executivos da filial, além de parceiros de negócios sobre os progressos obtidos pela divisão que comanda.
Em pouco mais de um ano, seu trabalho tem se concentrado em fechar parcerias com startups da área de tecnologia. “A nova geração de baterias sólidas está sendo desenvolvidas por duas empresas concorrentes”, conta. Caberá à Solid Power e à Ionic Materials criarem um modelo de bateria de estado sólido, considerada mais segura e barata que as atuais de íon de lítio.
A CRADLE também recomenda a compra de parte do controle de startups promissoras, baseadas em diversos mercados. A transação se dá a partir de fundos de private equity. A lista inclui empresas como Grab (de Singapura e especializada em mobilidade inteligente), Car Next Door (serviço de compartilhamento de veículos que opera em Sydney), Revv (da Índia e que atua com frota compartilhada) e Migo (de Seattle e cuja função é ajudar o consumidor a definir a melhor equação de mobilidade).
Apesar disso, na visão do executivo, os automóveis não deverão sumir da paisagem tão cedo. Até lá, o que deverá se intensificar é a mudança na relação das pessoas com os veículos. “O conceito de posse está dando lugar ao de uso”, diz. Mesmo assim, essa tendência não se dará de forma rápida, tampouco simultaneamente em todos os países. “Tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil, a posse do bem ainda é dominante entre os consumidores”.
Mas isso deverá mudar rapidamente, ao menos no que depender dos parceiros da CRADLE!
POR DENTRO DO IONIQ
(O modelo vendido no Brasil será 100% elétrico)
– Autonomia de 280 quilômetros
– Abastecimento de 80% da bateria em 24 minutos, por meio de carregador rápido de 100 kW
– A “família” IONIQ inclui uma scooter, uma bike e um patinete elétricos
– Trata-se do único carro verde no mundo com três opções de motorização: elétrica, híbrida e híbrida plug-in (abastecido na tomada)