Adeus, 2015!

Leitores de 1 Papo Reto, mais um ano terminando e espero que tenha sido, em sua maior parte, de conquistas e alegrias. Claro, sabemos que também ocorrem os imprevistos que fazem parte dessa caminhada louca chamada vida… Em vez de lamentar, melhor lembrarmos das coisas bacanas que aconteceram, certo?

Grafite, arte, pichação…

Umas das primeiras coisas de que falei neste espaço foi sobre o grafite visto como pichação e vandalismo; e sobre grafite como uma redenção do ato de pichar. Dependendo do ponto de vista, os dois termos podem ter igual peso, mas o ponto principal nessa discussão é: a pichação também não pode ser vista como arte?

Pois se arte é o ato de a pessoa expressar o que vê e o que sente do mundo, por que não? Por outro lado, muitas vezes para a maioria das pessoas o que conta é se há muitas cores ou não. Mas o que configura o “ato de vandalismo”, independentemente do número de cores utilizadas, é se o trabalho foi feito ou produzido de modo que tirou o direito do outro. Aí a própria ação em si se torna um ato de vandalismo.

Ainda sobre esta temática, outra história bacana que pude contar a vocês em 2015 foi sobre a exposição de grafite que ocorreu em uma região da cidade de São Paulo muito nobre (Jardim Europa), para uma arte que é da rua. Ali, pudemos refletir sobre até onde a arte urbana se embrenha, claro que para muitos que vêm da rua houve forte resistência a aceitar o grafite fechado em salas para poucas pessoas verem.

Essa mostra do grafite nos mostrou, em resumo, que a arte urbana tem suas diversas vertentes e cabe a cada artista ter e saber qual é o seu posicionamento nela. Para quem viu foi puro deleite – não importa se entre quatro paredes ou não, o grafite é uma expressão artística contemporânea fortíssima.

Teatro para valorizar a cultura negra

Outra coisa que achei bacana este ano foi o teatro feito e pensado para a valorização da cultura negra. A peça “Luz Negra”, da companhia Pessoal do Faroeste, retratou bem a cidade de São Paulo nos anos 20 e 30, onde houve uma grande efervescência política e cultural produzida pela população negra de São Paulo – ao lado do movimento dos modernistas que tomava conta da cidade.

Essas apresentações ocorreram em uma região da Luz, que já foi considerada “Boca do Lixo”. Mas pela qualidade do que se faz lá, a dramaturgia pode ter a chance de dar ainda mais colorido para aquela região (que no final do ano sofreu um revés duríssimo com o incêndio na Estação da Luz).

Também destaco o grupo Coletivo Negro, com a produção “Revolver”. O coletivo se dedica a pesquisar o lugar do negro nos palcos. Escrevi também sobre Simonal – o musical sobre o controvertido cantor Wilson Simonal. Não escrevi, mas cito a peça “O Topo da Montanha”, que é uma ficção sobre o último dia da vida do líder político Martin Luther King – com Lázaro Ramos e Tais Araujo.

E, em se tratando de cultura negra, uma das coisas que eu trouxe para cá e mais curti foi uma plataforma virtual onde poetas de diversas partes do mundo podem expor e divulgar suas obras. A plataforma online Badilisha Poetry X-change foi idealizada pela organização African Centre, com sede na Cidade do Cabo, na África do Sul, com o propósito de promover um intercâmbio cultural.

Os poemas publicados podem ser lidos e ouvidos em sua língua materna no site: uma musicalidade de dialetos que encanta os ouvidos num doce embalo. Como poucos entendem, ao final há uma explicação em inglês. Não se trata da tradução exata, apenas um resumo. De qualquer forma, o esforço feito para colocar o projeto em pé é de se aplaudir.

E o racismo nas redes, hein?

O que podemos lamentar em 2015 é o nosso atraso em relação a direitos humanos. Ainda não resolvemos o racismo!

Atrizes como Taís Araújo e a jornalista Maria Julia Coutinho, a Maju, ambas famosas e globais, foram algumas das vítimas nas redes sociais. Há milhares de anônimos que sofrem discriminação racial. É triste, mas a cultura afro resiste – aliás, sempre resistirá, diversos meios de expressões artísticas fazem, e sempre fizeram, com que o talento do negro seja percebido nesse mundo bizarro e racista em que vivemos.

Na cidade de São Paulo, o que testemunhamos ano após ano é produção e conquista de espaço do povo negro. Na dramaturgia, na música, nas artes visuais e em outras formas de manifestações criativas e afirmativas de nossa cultura.

Enfim, mais um ano terminando e desejo a todos um 2016 melhor. Mais arte, amor e saúde! Do resto, como sempre, corremos atrás!

Rodrigo Garcia é designer gráfico e arte-educador.