Obstinado. Esse é o adjetivo que descreve com mais acuidade a personalidade do empreendedor gaúcho João Alfredo Dresch. Afinal, desde 2012, ele se mantém firme em sua cruzada para se tornar o primeiro fabricante independente de um automóvel elétrico, no Brasil. Batizado de JAD 2, acrônimo das iniciais de seu nome, o bólido acaba de ganhar uma segunda versão. Dessa vez, o carro sai de “fábrica” com o carimbo do Departamento de Engenharia da Universidade de Passo Fundo (UPF). Foi lá que a equipe composta de 46 pessoas, entre estudantes e professores, ajudou a dar vida ao JAD 2.
Coube aos universitários o desenvolvimento do chassis e o teste dos componentes estruturais que sustentam a carroceria do veículo. Esse processo levou dois anos. O mesmo período foi gasto pelo empreendedor para desenvolver o design, as formas do molde da carroceria de fibra de vidro e a aquisição dos acessórios. As principais peças (como a bateria, o painel e os airbags) foram importadas da China. A mais cara foi a bateria, que custou R$ 20 mil.
JAD 2 / Foto: divulgação“O valor compensa e os produtos têm garantia de dois anos”, destaca. O motor fornecido pela brasileira WEG possui 12,8 CV e potência de 72HP. Para carregar a bateria, basta plugar o cabo do veículo numa tomada 220V por três. Cada carga é suficiente para percorrer 120 quilômetros, a uma velocidade máxima de 100 KM/h. Cada carga completa custa módicos R$ 5.
Assim como no caso do JAD 1, a nova versão do estiloso subcompacto foi concebida na garagem desse morador de Lajeado (RS) e contou com a parceria do fiel escudeiro Adilson de Brito. Apesar da exposição obtida na mídia, João Alfredo ainda caminha praticamente solitário nesta trilha. O sonho de ver o projeto abraçado por um órgão de fomento estatal (BRDE ou BNDES) ou um investidor privado, ainda não se concretizou. “Quando eu lancei o primeiro modelo, me tornado pioneiro neste setor, no Brasil, recebi diversas consultas. Mas era tudo de gente `mais pelada´ do que eu!”, diverte-se.
Levando-se em conta os gastos iniciais e a necessidade de pagar o investimento feito ao longo dos últimos 10 anos, ele diz que a venda de cada veículo, já com a produção em escala industrial, teria de ser feita por entre R$ 60 mil a R$ 80 mil. Trata-se de um valor elevado para uma marca desconhecida e um projeto que ainda precisa se provar viável. Contudo, bem mais em conta que o montante cobrado pelos similares Renault Zoe (R$ 150 mil), Bolt (R$ 175 mil) e BMW i3 (R$ 200 mil).
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por João Alfredo Dresch a 1 Papo Reto.
Como se deu essa parceria com o Departamento de Engenharia da Universidade de Passo Fundo (UPF)?
Em 2014, quando lancei o JAD 1 houve uma grande exposição na mídia, e o reitor da Universidade de Passo Fundo viu a matéria e me procurou, propondo uma parceria. Como não tinha nada a perder, embarquei no carro e parti em direção ao campus da universidade.
Foi feito algum investimento no desenvolvimento do projeto e dos componentes do JAD 2?
JAD 2 / Foto: divulgaçãoA estrutura do JAD 2 foi integralmente projetada pelos alunos e professores da Faculdade de Engenharia da UPF. No total, 46 pessoas dedicaram cerca de dois anos e os gastos da instituição se resumiram às horas trabalhadas e ao conhecimento utilizado no processo. Eu banquei a compra e os testes dos materiais.
Um dos maiores projetos de veículos independentes no Brasil, a montadora Gurgel, acabou tendo de criar tudo do zero, porque as grandes montadoras se recusaram a fornecer-lhe peças e equipamentos. Como o srº pretende escapar dessa dependência?
Estou tranquilo porque sou dono de todas as etapas do processo. O design foi criado por mim e o projeto de engenharia foi um presente da UPF. Neste protótipo, estou utilizando um motor que ganhei da catarinense WEG, uma das maiores do setor no mundo. O restante das peças, como a bateria e o painel, eu importei da China.
Já existem interessados em ajudá-lo a tirar este sonho do papel e ir além do protótipo?
Quando desenvolvi o primeiro automóvel elétrico, recebi inúmeros contatos de interessados, mas era tudo de gente “mais pelada” do que eu. Continuo em busca de investidores. Estou tentando ver se sensibilizo os acionistas da WEG a entrarem no projeto.
