Novos jornalismos vêm aí

Há algumas semanas o texto “Reinvenção do Jornalismo (spoiler: é hora de abaixar o topete mas levantar a cabeça)”, do jornalista Leandro Beguoci, deu o que falar no feed das redes sociais de profissionais da comunicação. Nele, Beguoci vai a fundo na reflexão sobre como a crise no setor pode ser enfrentada. Apesar de não existir nenhuma fórmula mágica a ser seguida, ele aponta caminhos e dá exemplos de novos modos de fazer e financiar o produto jornalístico.

Nesta terça-feira, 26/5, Beguoci, que é editor-chefe da F451, empresa de mídia que produz sites como a versão brasileira do Gizmodo, compartilhou suas ideias sobre o futuro da profissão no Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, da nossa parceira Mega Brasil. Ele falou com 1 Papo Reto sobre esses novos desafios.

Em “Reinvenção do Jornalismo”, você menciona que o Facebook vai ter que se tocar que não pode ser apenas uma plataforma com fotos de gatinhos e posts de boatos. Faz diferença para o Face o que é publicado lá?
Acho que sim. A plataforma só é útil quando entrega valor. As pessoas têm que ver esse valor em usar a plataforma, que hoje é a primeira fonte de informação para muitos. Então, sim, existe essa preocupação com o usuário. Na sede do Facebook, em Nova York, há um cartaz escrito “People Over Pixels” (pessoas acima dos pixels). A empresa sabe que estar relacionada a marcas conhecidas por seu conteúdo é parte importante do negócio. Um exemplo disso é que, agora, o New York Times, a National Geographic, o Buzzfeed, entre outros, estão publicando diretamente em páginas especialmente desenhadas para isso. Eles vão ganhar publicidade com publicação no Facebook.

Você esperava tanta repercussão do seu artigo?
Não esperava. Foi incrível, fiquei impressionado. Depois disso recebi alguns convites, como de falar na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, na Editora Abril, aqui em São Paulo…

Empresas de comunicação, como a própria Abril, resistiram muito em mudar e agora sofrem as consequências?
Sim e não. Eu entendo a resistência neste momento. É duro falar sobre isso quando se vê tantas demissões no mercado. A minha reflexão sobre isso começou em 2013, na época do post do (jornalista) Bruno Torturra no Facebook, o “Ficaralho” (em que Torturra afirmava não ser uma má notícia ser demitido, pois todos jornalistas teriam a chance de empreender fora das redações). Acho que ele poderia ter sido mais sensível. Eu cresci em Caieiras (SP), uma cidade industrial, e sei que há muito sofrimento associado a demissões e a mudanças. Tem uma coisa interessante acontecendo no jornalismo, mas existe uma dor atrelada ao processo.

Essa discussão toda sobre o fim do jornalismo impresso importa para quem não é jornalista?
As pessoas ainda não se tocaram do tamanho da crise do jornalismo. Até porque hoje elas consomem muita notícia pelas redes. Quando se fala de jornalismo importa a discussão sobre o modelo de fazer jornalismo. De fazer e de financiar. Porque os monopólios, oligopólios não se preocupavam com isso. Eles precisavam de estruturas grandes. Na verdade, as estruturas foram se tornando grandes. O Estadão, por exemplo. Começou como um jornal de política e economia, e aí foram criando mais suplementos para alcançar mais pessoas. Agora, lidamos com a perda do monopólio da atenção.

Você falou no início da sua palestra que estamos na fase de formular novas perguntas. Quais são elas?
A pergunta não é qual será o futuro do jornalismo, mas quais jornalismos teremos? Como vão se sustentar esses jornalismos? Como vão conversar com as pessoas? Que tipo de acordos terão que fazer com novos parceiros? Quais serão os novos formatos? E, principalmente, como vão criar valor para o que fazem?