Que tal um game para avaliar candidatos a presidente na vida real?

Toda semana tem gente reclamando das autoridades públicas. “O prefeito daqui só faz uma coisa de bom: enriquecer”, ou “O governador não consegue resolver o problema da segurança pública” ou “A presidente não me parece boa gerentona como dizem” ou “Os deputados só querem folgar e nada de trabalhar”, e por aí vai.

Como jornalista e não defensor de qualquer partido ou político, justamente por causa da profissão, eu observo que uma das razões para não termos gestores públicos qualificados eleitos para funções de comando é que não se exige uma formação mínima desses candidatos para exercer importantes cargos públicos.

Um imbecil, um marginal, um professor universitário, um administrador premiado têm rigorosamente a mesma chance de assumir o cargo mais importante da República: o de presidente. Isso, desde que tenham a partir de 35 anos de idade e sejam filiados a um partido, fora outras condições simplórias.

Se ele já administrou uma cidade, um estado, uma empresa, por exemplo, isso não conta pontos para ele ganhar o direito de dirigir o país.

É democrático permitir esta amplitude. Impor restrições classificatórias poderia inibir que gente mais humilde pudesse concorrer ao cargo. Mas abre as portas para gente despreparada em relação às responsabilidades inerentes ao cargo público.

Currículo mínimo

Eu discordo dessa abertura irrestrita para qualquer um poder vir a se tornar presidente, prefeito, governador, senador, deputado, vereador porque sinto que para qualquer função é preciso ter condições e preparo para assumi-la. Ainda mais cargo público e de chefia.

E, para igualar as oportunidades, o Estado brasileiro precisa proporcionar essas condições a todos, ou seja, cumprir com suas obrigações de favorecer uma boa formação educacional e dispor de cursos especiais para formação de servidores públicos, aberto a todos e praticamente gratuitos. Quem não puder pagar poderá vir a prestar serviços ao público para compensar.

O currículo mínimo para cada cargo deveria ser amplamente debatido, de modo a qualificar melhor as escolhas do eleitorado.

Game de estratégia

Enquanto isso não acontece, eu sugiro que se crie um game de estratégia. Poderia começar com um para os candidatos à Presidência.

Há tecnologia sobrando para bolar um game de gestão fictícia do Brasil por parte do candidato. À medida em que o tempo for passando, as variáveis são inseridas, com base em fatos reais e imaginários (guerra, incidente diplomático, surto de doença contagiosa, seca, enchentes, greves etc.) para poder avaliar como cada candidato se sai na administração de crises.

E cada candidato também teria oportunidade para implantar um plano de ações em prol do desenvolvimento do país em busca de provocar reações positivas entre a sociedade.

Ao acompanhar o desenrolar do “torneio”, os eleitores veriam quem se sobressai na disputa virtual e teriam uma fonte de informações a mais para balizarem o voto. Para os candidatos, a competição seria um bom trampolim para a eleição real.

Dos atuais candidatos praticamente declarados, temos a atual presidente e dois ex-governadores – um já foi ministro e outro é senador. Quem venceria esta disputa virtual?

Certamente, este torneio seria melhor para o eleitorado do que ficar seguindo pesquisas de opinião…

Imagina na China

Aproveitando o assunto, li recentemente texto do jornalista Merval Pereira, de “O Globo”, sobre como a China adestra os gestores públicos. Eleição lá não é relevante. Os gestores começam trabalhando no setor público no “andar de baixo” e vão galgando espaços na hierarquia. Leia um trecho do artigo:

“Segundo Eric Li, a seleção dos dirigentes na China, embora feita por um partido único, o Partido Comunista, é marcada por um sistema que leva dirigentes de pequenos municípios a galgarem degraus na hierarquia única e exclusivamente pela eficiência de suas ações.

Diz ele que o período de 20 a 30 anos é consumido para que a seleção afunile até a chegada dos líderes no Comitê Central, formado na sua maioria por elementos vindos das camadas inferiores da sociedade.

Ele compara este tempo de seleção, em cada etapa do processo, com um MBA das melhores universidades americanas, e diz que o voto popular não faz falta na meritocracia que a China está organizando.”

Sergio Cross é diretor da Profissionais do Texto Agência de Comunicação