Comunidade de Porto de Pedra (AL), coloca o peixe-boi como protagonista do desenvolvimento econômico e ambientalTudo no pacato e “sonolento” povoado de Porto de Pedra, situado no litoral norte de Alagoas, nos remete ao mar. A economia local sempre foi muito dependente da pesca e do movimento de turistas atraídos pelas águas mornas e de um colorido azul-turquesa que encanta de imediato. O comércio é ralo em opções, mas gigante em números de ponto-de-venda que, junto com as casas, quase “engolem” a pista de mão dupla da acanhada AL-101. Nem pense num item além dos de primeira necessidade.
Quem adoece é colocado numa ambulância ou no carro de um parente rumo à capital, Maceió. O mar é tão soberano na região que até mesmo o principal rio da cidade, o Tatuamunha, desemboca nele.
E foi às margens deste curso d`água que fomos recebidos pela presidente da Associação Peixe-Boi, a bióloga Flavia Rego. Ao lado do oceanógrafo e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Clemente Coelho Junior, ela fez uma animada e detalhada preleção de como seria nossa manhã.
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Flavia Rego, presidente da Associação Peixe-Boi[/caption]
A primeira parte consistia em assistir a soltura de Diogo, um jovem peixe-boi encontrado na costa de Pernambuco e que acabara de completar o período de readaptação na unidade, mantida pelo Centro de Pesquisas e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene). Lá, ele recebeu cuidados veterinários, carinho e atenção graças aos recursos materiais e profissionais resultantes da parceria entre órgãos federais (o ICMBio), ONGs (a SOS Mata Atlântica) e grupos privados (a Fundação Toyota do Brasil).
Mas nem sempre foi assim.
Até a criação da entidade, no final de 2009, esse mamífero-marinho era visto com indiferença, descaso e até mesmo como um verdadeiro estorvo. É que apesar de se alimentar apenas de algas, folhas e capim-agulha os pescadores o encaravam como mais um dificultador em sua já agitada rotina na busca pela sobrevivência. Desde então, Diogo e outros de sua espécie vêm sendo colocados como peça fundamental do desenvolvimento econômico da região.
“A conservação do peixe-boi passou a ser o centro de nossa estratégia de desenvolvimento do turismo de base comunitária com vistas à geração de renda”, explica Flavia. A bióloga lidera um grupo de 48 famílias que têm nas atividades ligadas à preservação da espécie a sua principal fonte de renda. “As regras ambientais não são seguidas somente por força da lei. Mas sim porque a população entende o seu valor econômico e social”.
De fato, é possível enxergar inúmeras mudanças, para melhor, desde a primeira vez em que 1 Papo Reto passou pela região; em julho de 2016. As regras para passeios de jangada pelo rio Tatuamunha estão mais severas. Barco a motor, nem pensar! Apenas jangadas de casco feito de fibra e movidas a remos. Nesta visita somos conduzidos pela dupla de pescadores Cristiano e Cesar.
Converso com eles para checar se o discurso evangelizador da sonhadora bióloga ecoa em quem integra a base da associação. De fato. Todos têm plena consciência sobre os benefícios da preservação do rio, da extensa área de mangue e tudo mais que compõe aquele exuberante ecossistema.
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Pescadores atuam como agentes ambientais e guias[/caption]
O nível de entendimento e comprometimento é fruto de um trabalho que envolve 70 moradores, que se revezam em diversas tarefas: atendimento aos turistas, monitoramento do ecossistema e produção de utensílios (chaveiros, sandálias e camisetas, por exemplo) vendidos na lojinha que fica na sede da associação. Cabe à ala jovem um protagonismo bastante específico (e estratégico) que são as oficinas, palestras e outras atividades destinadas aos estudantes da rede pública.
Na noite anterior, havíamos participado de um luau que contou com uma exposição de três deles: o desenvolto Fabiano Farias, o tímido Isaque Manuel e o calado Liliberty Alexsandro. Na entidade, eles ajudam no atendimento aos visitantes e nas tarefas tecnológicas (internet, site etc.). Algumas vezes, o clima esquenta no pedaço. Não por conta da temperatura, mas pela atitude intimidatória de algum turista, especialmente do Brasil.
É que por conta das regras definidas pelo ICMBio, responsável pela gestão da área situada na Costa dos Corais, existe uma limitação diária de passeios. São apenas 10 com um total de 70 pessoas. Nestas horas, quem entra em cena é a presidente Flavia que já aprendeu a driblar o famoso
Sabe com quem você está falando?. “Ao ouvir a frase eu sempre devolvo: agora é que eu quero saber, mesmo, pois se o senhor (senhora) é realmente importante deveria estar é nos ajudando a proteger a região!”.
De acordo com a bióloga, que deixou o magistério para se dedicar ao peixe-boi, o discurso vem funcionando bem até hoje!
SAIBA MAIS SOBRE:
Sobre a Associação Peixe-Boi
Sobre a preservação da Costa dos Corais
Credito das fotos: divulgação (Rafael Munhoz)
* O jornalista viajou a Pernambuco e Alagoas a convite da Fundação Toyota do Brasil
Texto atualizado às 09h30min de 11/4/17Autor: 1 Papo Reto
Sobre o/a Autor(a) 1 Papo Reto
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