A força do consumo coletivo no mercado de orgânicos

A pandemia provocada pelo novo coronavírus nos atingiu de uma forma tão abrupta e intensa que revelou o pior e o melhor das pessoas. Por um lado, expôs expressões de máxima individualidade e, por outro, intensificou o espírito de solidariedade e coletividade. Há inúmeras histórias de personalidades envolvidas em gestos e atividades solidárias, mas há também muitas outras envolvendo pessoas anônimas, que aquecem o coração e nos fazem ter fé na humanidade.

Uma dessas histórias envolve o produtor e distribuir de orgânicos de São José dos Campos, Bruno Ceni.  Por iniciativa de uma de suas clientes, a Ana Paula Suzuki, de Monteiro Lobato, eles criaram grupos de consumo coletivo, uma alternativa de compra de produtos orgânicos a preços acessíveis.

O primeiro grupo iniciou de maneira informal. Para garantir suas próprias compras de orgânicos a preços de atacado, Ana Paula começou a oferecer a possibilidade para alguns amigos. No início, fazia um pedido só, ia até São José dos Campos buscar e ela mesma separava os itens solicitados. Detalhe, sem receber nada por isso. As vendas começaram a aumentar e, junto com Bruno, eles estruturaram um modelo de venda e entregas a cada quinzena.   

O grupo cresceu e expandiu para a cidade vizinha. Hoje, são dois grupos de consumo coletivo, um em Monteiro Lobato, com 80 pessoas, e outro em São Francisco Xavier, com 45 pessoas. “Temos demanda para formação de outros grupos”, diz Ceni.

Venda direta, no interior de SP

Para intermediar e administrar vendas, Ana recebe comissão de 5%. Os clientes, em comum acordo, tomaram a iniciativa de pagar mais 5% em cima do valor de suas compras.  “O valor é opcional, mas todos pagam”, diz Ana.

É uma relação de ganha-ganha. Os grupos facilitaram o acesso a produtos orgânicos aos moradores das duas cidades, que não precisam mais se deslocar até São José dos Campos, e possibilitam a compra a preços menores que os praticados nos supermercados e varejões.

A formação dos grupos coletivos foi apenas uma das oportunidades que o empreendedor vislumbrou para reestruturar e reinventar seu modelo de negócio em tempos de pandemia.  Ele também trocou as vendas no atacado e as feiras (faz apenas uma feira) por entregas de cestas no sistema delivery. 

“Achei que as pessoas fossem parar de ir às feiras e comecei a oferecer o delivery para os meus clientes. Eles começaram a indicar o serviço para parentes e amigos e hoje a estrutura que eu tenho já está pequena”.

De fato, a pandemia gerou nas pessoas uma maior preocupação em se alimentar melhor para aumentar a imunidade. Uma enquete informal realizada pela Organis, associação de promoção dos orgânicos, apontou que o consumo de orgânicos aumentou 44,5% em sete meses. Destes, 62% alegam maior preocupação com a qualidade da alimentação.

Milena Miziara

Autor: Milena Miziara

Sobre o/a Autor(a) Milena Miziara é jornalista. Desde 2019 também atua como sócia-fundadora da marca de frutas Laverani Orgânicos (SP)


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