Ligados na tomada, mas ainda presos no futuro

No início da década, os integrantes da Associação Brasileira de Veículo Elétrico (ABVE) fizeram uma previsão otimista em relação ao futuro do setor: até 2020 teríamos entre 40 mil e 60 mil veículos com este perfil rodando nas ruas e estradas brasileiras. A realidade, no entanto, vem se mostrando, digamos, madrasta. De acordo com dados do Renavam, a frota chega a apenas 5.270 veículos, incluindo três mil trólebus e ônibus puramente elétricos e os híbridos, dotados de bateria e motor a combustão. Os óbices para o desenvolvimento do setor incluem desde uma visão estreita do governo, que não aceita isentar do pagamento de IPI estes modelos, conforme foi proposto em 2014, até a falta de uma política que valorize e/ou privilegie estes modelos no transporte coletivo. “A decisão do governo castrou a evolução do setor”, lamenta Ricardo Guggisbnerg, presidente-executivo da ABVE.

Para ele, ainda existem possibilidades de reverter este quadro e acelerar para o mesmo patamar da Europa, onde diversos países já anunciaram prazos para o banimento de veículos com motores a combustão. A França e o Reino Unido, por exemplo, fixaram a data em 2040. A Noruega, contudo, saiu na frente: 2025. Por aqui, uma das opções para dinamizar o mercado elétrico seria a inclusão de elétricos ou híbridos na concorrência para renovação das frotas de ônibus das capitais. “Nós defendemos que 20% do total dos 1,5 mil ônibus previstos na licitação de compra de ônibus para a cidade de São Paulo tenham este perfil”.

Para não depender da boa vontade de burocratas e políticos, nem ficar eternamente pregando para convertidos, a ABVE reservou um espaço importante no Salão Latino-Americano de Veículos Híbridos-Elétricos, que acontece na capital paulista de 21 a 23 de setembro, para tentar evangilizar corações e almas. Essa interlocução se dará por meio de debates, especialmente no painel Mobilidade Híbrida e Elétrica e a Qualidade Ambiental das Metrópoles, para o qual é esperada a presença de algumas dezenas de prefeitos.

Em sua 13ª edição, o evento pretende confirmar sua vocação como sendo a principal vitrine desta tecnologia no continente, abrindo espaço para o lançamento de veículos importados e a apresentação de projetos locais, destinados a resolver questões pontuais, mas vitais para o setor. As oportunidades estão desde a criação de sistemas de recarga da bateria e o destravamento remoto das portas dos veículos, até aplicativos para a gestão dos serviços de compartilhamento. “O ideal é que as prefeituras utilizassem contratos no modelo de Parceria Público Privada para melhorar a mobilidade como um todo”, destaca Ricardo Takahira, diretor da ABVE.

Para ele, o avanço do sistema de serviços de veículos compartilhados (tanto de automóveis quanto de bicicletas) deverá dar um novo impulso ao setor. Hoje, já existe um projeto neste sentido operando em Fortaleza, o Vamo, além de estudos similares em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, incluindo bikes e automóveis.

São estes movimentos, aliás, que têm feito com que a frota de veículos elétricos deslanche por aqui, de forma exponencial. Saltando de 62 unidades vendidas no acumulado de 2010 para 1.452 no período janeiro-junho deste ano. Pouco, muito pouco para um país das dimensões do Brasil e no qual a poluição, especialmente atmosférica ainda responde por inúmeras doenças e mortes.

SAIBA MAIS:

Sobre a política europeia de banimento de motores a combustão

Sobre a falta de incentivos fiscais ao setor

Sobre o sistema de carro elétrico compartilhado em Fortaleza

Sobre as mortes causadas pela poluição atmosférica