Dança pela vida e pela natureza

A cena é impactante. Uma mulher arrasta pelo Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, centenas de garrafas PET envoltas numa rede. Perto dali um homem se debate dentro de uma rede semelhante. De repente, os dois entram na água e boiam sobre as “jangadas” improvidas. Num deque às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, também na Zona Sul carioca, a mesma mulher dança ao lado de uma caixa de água feita de resina plástica. A performance é impactante. Tanto pela leveza dos movimentos quanto pela entrada em cena de um sujeito carregando um balde de água que grita: “Ô água!”. De volta ao Aterro, dois casais começam a se movimentar sobre garrafões de plástico usados para a venda de água mineral.

Todos estes momentos são protagonizados pela premiada bailarina coreógrafa e professora de balé Giselda Fernandes, dona da Os Dois Companha de Dança. Na quarta-feira (13/9), ela desembarca em São Paulo para apresentar outra de suas performances. Dessa vez, o palco será o recém-inaugurado teatro do Sesc 24 de Maio, na região central, onde vai mostrar a coreografia Sobre Cisnes, uma releitura de A Morte do Cisne, criada pela coreógrafa russa Anna Pavlova, no começo do século 20.

Mais uma vez, ela terá a companhia de um objeto partner, nome dado a um acessório usado durante a performance. O escolhido para contar uma das passagens desta cultuada história é o saquinho plástico destes que encontramos em supermercados e quitandas. O mesmo material é usado para preencher o cenário. “Foi a forma que encontrei para continuar na dança e ao mesmo tempo passar uma mensagem sobre as questões ambientais”, diz ela.

Apesar de nunca ter sido uma militante ecológica de carteirinha, a bailarina sempre se preocupou com os impactos causados por suas ações no dia a dia. “Houve um tempo que eu catava garrafas PET que encontrava pelo caminho”, lembra. “Ia juntando com o objetivo de levar para reciclagem”.

A opção pelas apresentações-solo e com o auxílio do objeto partner se deu no final de 1999, quando ela estava prestes a completar 40 anos. Nesta altura da vida, mesmo os corpos mais treinados na arte da dança vão enfrentando limitações na capacidade de executar movimentos. “Eu lembrei de um solo executado por uma bailarina alemã que vi na infância, e resolvi reproduzir a técnica, por aqui”. Ao adicionar uma pitada de ecologia nos enredos, Giselda acabou percebendo que o ideal seria usar também o ambiente externo.

Foi aí que surgiu a ideia de se apresentar no Aterro do Flamengo, ao lado da foz do icônico rio Carioca, e na Lagoa Rodrigo de Freitas. Desta interação entre meio ambiente a arte cênica é que surgiu o convite do Global Water Dances, em 2011. “Foi a primeira vez que o Brasil foi incluído no roteiro deste evento mundial”, conta.

Uma das performances protagonizadas pela Os Dois Companhia de Dança pode ser vista no player de vídeo na homepage do portal 1 Papo Reto.

A natureza, agradece e aplaude!