O campo de provas da Ford

Quem mora nas periferias das regiões metropolitanas das grandes cidades brasileiras sabe o quão é difícil ter acesso a serviços básicos como saúde e educação. Do ponto de vista econômico os desafios são igualmente grandes. Afinal, além de gastar muitas horas no deslocamento para o local de trabalho, o custo com transporte pesa bastante no bolso dessas pessoas. Foi de olho nestas questões que o Ford Fund, braço filantrópico da Ford Motor Company, decidiu apostar num programa inédito no mundo, batizado de Ford Lab: Mobilidade para Todos, que prevê o financiamento de startups que atuem com a mobilidade urbana focada no impacto social.

O anúncio foi feito hoje (14/6) durante a abertura da Campus Party Brasília em meio a pompas e circunstâncias. Afinal, trata-se da oitava edição, em cinco anos, que a montadora participa do evento considerado um dos mais efervescente em matéria de inovação aberta, do Brasil. E os principais integrantes do staff da subsidiária Ford América do Sul marcaram presença. A começar pelo presidente da região, Lyle Watters, além de autoridades do Governo do Distrito Federal e do Ministério da Ciência e da Tecnologia.

Mas o dono do show era Jim Vella, presidente do Ford Fund, (retratado na foto que abre esta reportagem). Segundo ele, o programa funcionará como uma espécie de laboratório em nível global. “Faremos todo o possível para que o projeto seja bem-sucedido, para que ele possa ser levado para outros países”, diz Vella. O executivo destacou que essa a primeira vez que o Fundo aposta no desenvolvimento de uma proposta desde o estágio inicial. “Normalmente, nós procuramos iniciativas sociais que já estejam em operação e damos suporte financeiro ou técnico para melhorar seu nível de mobilidade”.

Para tirar a ideia do papel, a Ford Fund assinou uma parceria com a ARTEMISIA, especializada na aceleração de negócios com impacto social. O trabalho contará com o suporte dos times de mobilidade mantidos pela Ford em Palo Alto (cidade situada no coração do vale do Silício, na Califórnia), em Dearborn (onde fica a matriz da montadora) e no Brasil. O primeiro passo para tirar a ideia do papel será a construção de uma Tese de Impacto em Mobilidade. “Tivemos a humildade de reconhecer que não sabemos tudo e que deveríamos aprender e gerar conhecimento”, explica Vella.

No decorrer dessa etapa, as 20 startups selecionadas serão convocadas a participar de seminários e dinâmicas que resultarão na definição dos três projetos que contarão com suporte financeiro do braço filantrópico da montadora. Todas as iniciativas terão como mote o cruzamento entre problemas sociais e oportunidades de negócios.

INOVAÇÃO NO CERRADO

A Campus Party Brasília (CPBSB) começa em clima de expectativa. E não era para menos. Afinal, quatro mil campuseiros se inscreveram para o evento, fazendo com que todos os ingressos fossem vendidos com um mês de antecedência. “Já nos daríamos por satisfeitos se atingíssemos metade desse montante”, diz o criador da Campus Party, Francesco Ferruggia. Para atender a demanda e democratizar o acesso, a organização do evento criou uma atividade paralela e gratuita: a Arena Open, situada na área externa do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde acontece a Campus.

Na Arena, acontecerão eventos de robótica e showcases de startups em estágio inicial, além da presença de um grupo de desenvolvedores mostrando como criar produtos a partir de impressoras 3D e outras ferramentas tecnológicas. Ferruggia destacou o comprometimento do governo do GDF com a realização da CPBSB. “Normalmente levamos um ano para organizar e viabilizar este evento em uma cidade. Em Brasília, foram necessários apenas seis meses”, conta.

De acordo com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), foi apenas recentemente que Brasília começou a mergulhar na era da Economia Criativa. Para recuperar o atraso, ele aposta em eventos de grande porte e nas parcerias com desenvolvedores. Um destes eventos vai acontecer durante a Campus Party, quando o governo pretende abrir dados das áreas de educação, segurança e saúde, desafiando os hackers a criarem soluções em diversos níveis.

“Queremos fomentar o hackativismo (neologismo a partir da junção das palavas hacker com ativismo) e usar o conhecimento compartilhado como forma de melhorar a vida das pessoas”, diz. Isso será feito, por exemplo, a partir da construção de aplicativos (app) capazes de facilitar a matrícula nas escolas de rede pública e o atendimento à saúde, além de incentivar os registros de ocorrências policiais.

SAIBA MAIS:

Sobre a Campus Party Brasília

Sobre a ARTEMISIA

Sobre os projetos de mobilidade da Ford

 

* O jornalista Rosenildo Ferreira viajou a Brasília a convite da Ford América do Sul