São períodos como esse que vivemos, conhecidos como períodos de aceleração histórica, que reorganizam toda a vida social. Nesse contexto, pessoas públicas e privadas buscam insights para o futuro, mitigar riscos e acertar suas decisões de investimento. Um bom instrumento para enriquecermos nossa subjetividade e motivar nossa imaginação e ação é buscar novas referências pelo mundo de soluções inovadoras e com alto potencial de impacto que possam inspirar nossa tomada de decisão.
No campo da inovação, estamos atentos aos caminhos possíveis para a construção de novas soluções, além de combinar novos arranjos metodológicos e tecnológicos para tal. Capturar novas referências de mundo produz insights valiosos para uma ação estruturada e estratégica. Também observar nossos contextos sociais, políticos, culturais e econômicos agrega elementos novos ao pensar. Por isso, este texto é um convite para que possamos, juntos, pensar em possibilidades de uma organização social inclusiva, inovadora e próspera via um empreendedorismo inovador.
Uma doença viral, por exemplo, trouxe questões de ordem biológica, econômica, social e política. A falsa segregação destas categorias nos impede de construir alternativas mais eficientes e de ampliar a percepção sobre caminhos não usuais para temas como emprego e renda, proteção das florestas, promoção de igualdade de gênero e desenvolvimento econômico no seu sentido amplo.
Se reconhecemos que o modelo tradicional de vida está em esgotamento, precisamos abrir espaço para a possibilidade de novas e melhores alternativas e construir um novo léxico para definir aquilo que buscamos: um combinado de diferentes estratégias e tecnologias de organização material e simbólica que nos auxiliarão a inovar e solucionar problemas reais.
Dentre as tendências para uma nova economia estão soluções inovadoras que não são necessariamente novas mas estão imbuídas em um contexto inédito. No entanto, quando orquestradas em torno do propósito de gerar impacto social e ambiental positivo, rearranjam-se para promover aquilo que se denomina Inovação Social.
A Stanford Social Innovation Review (SSIR), por exemplo, definiu esse conceito como “uma nova solução para problemas sociais; uma solução mais eficiente, sustentável e/ou justa do que as tradicionais e cujo valor gerado beneficia a sociedade como um todo e não apenas alguns indivíduos”.
Projetos de inovação social crescem em iniciativas públicas e privadas, uma vez que se amplia o entendimento de como ela pode ser utilizada para melhorar o bem-estar social e responder a uma tendência de mercado que é a demanda por negócios responsáveis.
No último encontro anual do Fórum Econômico Mundial 2020 em Davos, na Suíça, grandes investidores e líderes globais debateram a temática de um mundo mais coeso e sustentável. Foi discutida a transição de um capitalismo de acionistas para um focado em múltiplos interesses e valores produzidos; a ideia quase subversiva de colocar propósito antes do lucro. Para o mundo corporativo é imperativo repensar o conceito de sucesso, deixando morrer o velho modelo para um que pense em suas contribuições socioambientais objetivas.
Neste novo cenário em emergência, mais do que zerar impactos, é preciso desenhar estratégias de regeneração. É necessário investir em tecnologias disruptivas que promovam o meio ambiente e o bem-estar das comunidades. As lideranças mundiais entram no século XXI com os dois pés ao reforçar que, se os negócios não se colocarem como parte da solução eles são, necessariamente, parte do problema.
Assim, as curvas ascendentes de investimento para inovação de impacto socioambiental estimulam essas práticas, e possivelmente teremos mais inovações que promovem o bem-estar ampliado, valorizando a vida dos indivíduos e do planeta. No mesmo sentido, os velhos arranjos que não se responsabilizam pelas externalidades que produzem serão mais penalizados economicamente.
Podemos entender, então, a inovação social como a reconfiguração de práticas em resposta a desafios sociais. Incluem-se aqui corporações e empreendedores que habilitam-se a pensar nos impactos positivos reforçados por seus produtos finais, relações institucionais, comerciais e investimentos.
Um componente substancial na inovação social é a promoção de novos arranjos produtivos e econômicos. Pensemos em indústrias que passam a receber incentivos quando avaliam a qualidade e condições ambientais dos provedores de suas matérias-primas. Ao reorganizar a compra dessa matéria, orientando-a para práticas de inovação social, essas indústrias podem estimular ações regenerativas e favorecer pequenos e médios produtores.
A inovação social não é um trabalho voltado para um único player, mas sim nos múltiplos agentes que podem acionar novas combinações e relacionamentos que sejam mais eficientes e orientados para um sucesso em escala e, melhor ainda, com impacto socioambiental positivo.
*Ellen Carbonari é economista, sócia e head de inovação social da Semente Negócios, empresa de aprendizagem empreendedora que tem como objetivo contribuir para a evolução de ecossistemas inovadores.