um lugar próspero. Que todas as pessoas e seres sejam felizes e vivam bem. E este anseio pela prosperidade transcende identidades. Já dizia Clayton Christensen, referência em Inovação disruptiva: “Prosperidade é a capacidade de geração de riqueza no sentido da ampliação do bem-estar econômico, social e político dos indivíduos”.
Ou seja, prosperidade estaria ligada a avanços econômicos, mas também às liberdades individuais, à capacidade e habilidade que os seres possuem de sonhar e o acesso às ferramentas para realizarem seus sonhos. Por isso, a busca pela prosperidade deve instigar o investimento em pessoas, ideias e redes como principal riqueza de uma nação.
No contraponto da apatia e da ignorância que subtraem a vida, a inteligência e o amor são capazes de regenerar ecossistemas. São virtudes aliadas à busca pela prosperidade. Sabemos que a atuação do homem criou o mundo que vivemos hoje, mas é sua consciência que precede a matéria. Assim, temos que ter clareza do mundo que queremos criar para então executá-lo.
Para materializar a prosperidade, olhamos para a inovação como um processo derivado da inteligência humana na busca por soluções mercadológicas para ampliar o bem-estar. À busca pelo amor, daremos o nome de propósito, aquilo que dá sentido à ação humana e resgata a interdependência inerente a nossa espécie. Este é um exercício para criar novos léxicos e sonhar. Por isso estamos aqui falando de prosperidade através da inovação e do propósito.
Inovação para valorizar a vida
Destas abstrações surge um instrumento poderoso: a inovação com propósito para valorizar a vida das pessoas e do planeta. Ou seja, a ideia viável de unir inovação e sentido na mesa de negócios transformando conhecimento em valor econômico e social.
Esta concepção de regenerar os espaços nos quais fazemos negócios está ganhando coro pelos principais fóruns econômicos e de investimento pelo mundo. Crescem os investimentos públicos e a orientação ao investimento sustentável pelos bancos de desenvolvimento, por exemplo. No Brasil, essa movimentação começa a aparecer através de investimento de 8,5 bilhões de reais para projetos com critérios ESG (Ambientais, Sociais e de Governança – Environmental, Social and Governance, em inglês). No último encontro anual do Fórum Econômico Mundial 2020, em Davos, os maiores investidores e líderes mundiais debateram a temática de um mundo mais coeso e sustentável. Os presentes debruçaram-se sobre a transição de um capitalismo de acionistas para um focado em múltiplos interesses e valores produzidos; a ideia quase subversiva de colocar propósito antes do lucro.
Por isso não há melhor hora do que o agora para imaginar como construir um futuro radicalmente melhor através da tecnologia e do propósito. Passamos os últimos séculos acumulando descobertas científicas e métodos para que a inovação habilitasse o trabalho e as vidas humanas. As incubadoras, os centros de tecnologia e autores clássicos do campo da inovação como Eric Ries e Steve Blank, nos ensinaram como operar através de uma lógica de abundância em ecossistemas inovadores: através das múltiplas interações entre atores, da aprendizagem constante e do trabalho em rede; até aqui aprendemos com as startups sobre senso de urgência e pragmatismo para construir, testar e aprender.
E estes conhecimentos acumulados e validados estão sendo transpostos para além dos laboratórios de inovação, alcançando governos, pequenos e médios empreendedores, empreendedores sociais e tantos outros.
Autores como Ann Mei Chang, especialista em tecnologia no Vale do Silício, endossam a importância da inovação como processo e do impacto socioambiental positivo como resultado primeiro deste investimento. O professor Clayton Christensen também fornece insights sobre o desenvolvimento de nações prósperas a partir da inovação. Em sua obra O paradoxo da Prosperidade, reforça que as inovações criadoras de mercado habilitam e impulsionam o desenvolvimento e a prosperidade das nações quando desenvolvidas a partir das condições daquele território, desenvolvendo produtos e serviços que sejam simples e fáceis o suficiente para atender às necessidades locais. Ambos os autores propõem o olhar cuidadoso para o mercado final, não apenas como mercado consumidor mas como detentor de saberes e tecnologias estratégicas para o processo de inovação.
O mundo dos negócios precisa levar a sério o propósito de existência das organizações e as externalidades que as mesmas produzem. Para além de ser um ótimo branding, estratégia de retenção de talentos e engajamento de públicos compradores, falar de propósito é manter-se vivo. Lary Fink, CEO da Black Rocks, maior gestora de ativos do mundo aponta (sobre sustentabilidade no mundo dos negócios): se você não é parte da solução, você é parte do problema.
Não amanhã, não em 2025. Hoje!
*Ellen Carbonari é economista, sócia e head de inovação social da Semente Negócios, empresa de aprendizagem empreendedora que tem como objetivo contribuir para a evolução de ecossistemas inovadores.