Por Rosenildo Ferreira, especial para Coalizão Verde (1 Papo Reto e Neo Mondo)
Até bem pouco tempo, os vegetarianos e sua versão mais radical, os veganos, eram taxados como excêntricos. Um epíteto, digamos, compreensível num país que sempre se gabou de ser o maior produtor e exportador de proteína animal, e no qual a diversão de fim de semana quase sempre inclui um churras! Mas o jogo começa a mudar. E não apenas por aqui, onde estima-se existirem 30 milhões entre veganos e vegetarianos.
A elevação do número de adeptos do veganismo (doutrina que proíbe a ingestão de insumos animais), associada a uma maior consciência ambiental e aos cuidados com o bem-estar físico fizeram com que a indústria de plant-based food (alimentos feitos de insumos vegetais, em tradução livre) desse um salto expressivo. Trata-se de um segmento que já movimenta US$ 10,9 bilhões, em termos globais, segundo o The Good Food Institute. Deste montante, o Brasil colabora com US$ 82,5 milhões (cerca de R$ 460 milhões).
O crescimento cinco vezes maior que o setor de produtos alimentícios convencionais está ligado a dois fenômenos distintos. De um lado, a entrada de gigantes globais (leia-se JBS, Marfrig e BRF, no caso do Brasil). De outro, a aposta de empreendedores neófitos e aqueles que enxergam no veganismo uma tendência que veio para ficar. Neste último pelotão, um dos destaques é a foodtech Vida Veg, especializada em queijos, iogurtes e leites produzidos a partir de castanhas, coco e outros insumos vegetais.
Baseada em Lavras (MG), a startup pretende duplicar de tamanho neste ano, aproveitando a maré favorável para a categoria. “Já estamos presentes em cinco mil pontos de venda, espalhados por todas as capitais”, conta Álvaro Gazolla, sócio-fundador da empresa. A taxa de crescimento, que se mantém expressiva desde 2016, quando a empresa começou a operar, ganhou um impulso maior a partir de agosto do ano passado, com a entrada do X8 Capital.
O fundo é focado em negócios que adotam boas práticas ESG (meio ambiente, social e governança, da sigla em inglês). O aporte de R$ 18 milhões está sendo usado na ampliação da linha de produtos (hoje, a startup possui 28 itens) e na melhoria da logística para chegar a novos pontos de venda.
Para este ano, as atenções de Álvaro e de seu sócio Anderson Rodrigues se concentram em dois itens do portfólio: a linha de bebidas proteicas (Veg Protein, que mimetiza os famosos whey protein, queridinhos da galera que puxa ferro) e a de queijos (muçarela fatiada e parmesão) feitos de castanha-de-caju e direcionados para o segmento de food service (bares e restaurantes). “Nossos produtos são democráticos porque atendem as necessidades de todas as classes de consumidores”, destaca Álvaro.
A Vida Veg foi criada a partir de uma conversa com o sócio, seu colega na Faculdade de Engenharia de Lavras, durante as férias na Praia do Rosa (SC), em 2014. “Em minhas viagens pela Europa e os Estados Unidos eu notei um progressivo aumento da oferta de lácteos à base de vegetais”, lembra.
Por coincidência, o amigo Anderson, que já tinha aderido ao veganismo, havia focado sua tese de mestrado no mercado de plant-based food. Na época, Álvaro trabalhava no laticínio Verde Campo, adquirido pela Coca-Cola, em 2016. Antes de se graduar em engenharia de alimentos se tornar sócio da empresa, o empreendedor passou por diversos postos. Foi office-boy e faturista e atuou nos departamentos comercial e financeiro.