Catarse jardineira

Quem é: Débora Didonê
Por que é importante: organizou um dos mais ativos movimentos de mutirão para requalificação de áreas verdes, de Salvador

A jornalista Débora Didonê é uma globettroter. Nascida em Santo Ângelo (RS), ela foi criada em Joinville (SC). Também morou em Florianópolis (SC) e São Paulo. E desde 2011 ela vive em Salvador. Foi na capital soteropolitana que Débora plantou algumas das mais belas sementes de sua vida. A começar pelo movimento Canteiros Coletivos, que trabalha na requalificação de praças e outras áreas verdes da cidade, no esquema de mutirão. Um trabalho que, nas palavras da jornalista, pode ser definido como "ressignificar o espaço público, recuperar o espaço verde e seu uso". A ligação da jornalista e ativista social com a ecologia surgiu em São Paulo e ganhou um sentido muito mais amplo na capital baiana. Mais precisamente em fevereiro de 2012, quando nasceu o Canteiros, em meio às discussões de temas comunitários, como o abandono de áreas públicas, na época do debate político-eleitoral.

"As ações de jardinagem e arte são uma forma lúdica de ocupar espaços públicos e de fazer com que as pessoas se sintam parte deles, de verdade", explica. A primeira intervenção aconteceu no Vale do Canela e hoje o grupo, que começou com apenas duas pessoas, chega a reunir até 30 voluntários em cada ação. As atividades incluem a limpeza do espaço, o plantio de mudas e também a "decoração" do local. Este trabalho é feito por meio de oficinas de sensibilização, que envolvem moradores da comunidade beneficiada, em especial as crianças.

Débora rejeita o rótulo de ativista. Para ela, a forma correta de classificar as pessoas que realizam intervenções na cidade é de "ativas". Ela também se surpreende com o estranhamento de alguns segmentos sociais, em relação à disposição desta galera em arregaçar as mangas pelo bem coletivo. "Essa é uma mentalidade que estamos começando a despertar em uma sociedade que se diz democrática", diz. Para pagar as contas, a jornalista atua como educomunicadora na ONG Cipó Comunicação Interativa, na qual ingressou em 2013. Segundo Débora, repaginar canteiros em uma cidade com grandes carências, como é o caso de Salvador, é uma forma de mobilização social. "Sem envolver as pessoas locais, esses canteiros não sobrevivem após a recuperação."

O Canteiros Coletivos já se tornou uma referência na cidade quando o assunto é requalificação de espaços verdes. Isso fica evidente na quantidade de parcerias, envolvendo desde o Curiar, o Escritório Modelo de Arquitetura da UFBA, e empresas privadas até ONGs de destaque como o Instituto de Permacultura da Bahia (IPB). Graças aos recursos financeiros e técnicos advindos destes contatos, o grupo liderado por Débora conseguiu colocar em ação uma série de oficinas gratuitas de jardinagem, ecologia e arte urbana.

Hoje, o trabalho se concentra em quatro áreas da capital baiana. Na verdade cinco, uma vez que a casa da jornalista abriga o berçário de mudas que abastece o projeto. Nesta verdadeira catarse jardineira, Débora não colheu apenas cidadania. Afinal, foi no projeto que ela conheceu Thiago, seu marido. Hoje, a família é composta, também, pelo cão Zeus.