Polinizando consciências

Quem éDaniel Malusá Gonçalves
Por que é importante: criou a campanha mundial “Bee or Not to Be”, que fala sobre a importância das abelhas para a segurança alimentar no planeta

Os publicitários, em geral, são aqueles sujeitos vistos como meio avoados e que possuem um modo inusitado de exercer sua criatividade. Muitas vezes, eles conseguem criar lindas peças de comunicação e marketing incentivando causas sociais e ambientais. Contudo, nem sempre possuem a habilidade para liderar projetos do gênero. Como em toda regra, também neste caso existem exceções. E uma delas é o paulista Daniel Malusá Gonçalves, sócio diretor da agência 6P Marketing & Propaganda, baseada em Ribeirão Preto (SP). Em 2013, ele criou a campanha “Bee or Not to Be”, que fala sobre o risco de extinção das abelhas e alerta como seria o mundo sem estes insetos. O trabalho se tornou referência global e vem sendo replicada pelo mundo afora. 

Do ponto de vista da segurança alimentar podemos dizer, sem medo de errar, que o mote da iniciativa, “Sem Abelha, Sem Alimentos”, está assustadoramente correto. Afinal, 70% do trabalho de polinização de culturas dependem das abelhas. Isso vale 100% no caso das amêndoas, 90% das maçãs, 48% dos pêssegos e 27% das laranjas. “No Brasil, ainda não existe uma consciência, tanto no campo quanto na cidade, sobre o importante papel desempenhado pelas abelhas”, lamenta. “Muitas pessoas vinculam estes insetos apenas à produção de mel, mas não ao trabalho de polinização.”

Este serviço ambiental foi estimado pelo economista indiano Pavan Sukhdev em US$ 190 bilhões por ano, em nível global. Quase metade do PIB da Argentina! Ou seja, olhando apenas pela ótica aritmética, não deveria ser difícil para o grupo liderado por Gonçalves, que inclui o Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura (Cetapis), de Mossoró (RN), arregimentar seguidores para esta causa. Mas não é isso que acontece. Uma das ferramentas da campanha é o aplicativo Bee Alert, que ajuda a monitorar os casos de mortandade de abelhas em determinada região. A partir daí, entram em campo os pesquisadores encarregados de descobrir os fatores que motivaram esta ocorrência.

Desde sua implantação foram realizados 76 registros. “Tenho certeza de que este número está subdimensionado”, diz o publicitário. “Isso porque, poucos apicultores já conhecem e usam nosso aplicativo.” Um dos grandes vilões para a saúde dos insetos é o uso intensivo e indiscriminado de defensivos nas lavouras. Tanto isso é verdade que algumas marcas de pesticidas foram banidas na Europa.

Segundo ele, uma das formas de gerar um processo ganha-ganha seria a mudança de mentalidade e a forma de enxergar as abelhas, a partir dos serviços ambientais prestados por elas. Nos Estados Unidos, a “venda de serviços ambientais” rende aos apicultores bem mais que a produção e a comercialização de mel. “Infelizmente, no Brasil os agricultores se acostumaram a enxergar a polinização como uma das rotinas da vida no campo, por isso o foco do setor continua sendo em relação à água, à qualidade da terra e das sementes.”