Quem é: Rodrigo Machado
Por que é importante: criou um projeto de intervenção urbana que tem no reparo de placas, pisos de rua etc., uma forma de se apropriar do espaço urbano
A cada 15 dias, o artista plástico Rodrigo Machado sai pelas ruas da cidade de São Paulo carregando uma pequena mala. Dentro tem alicate, chave de fenda, martelo, tinta e flanela… Material que ele usa para fazer alguns consertos. Se um poste de sinalização de trânsito está torto; ele acerta. A faixa de pedestre está com falhas; lá vai ele dar um “tapa” na pintura. O piso está quebrado? Ele coloca um punhado de cimento para melhorar a segurança de pedestres. Toda a cena é documentada para os vídeos da série do projeto Serviços Gerais, feitos pelos cineastas Filipe Machado e Gustavo McNair. “Estas intervenções têm como objetivo canalizar a revolta que eu sinto pelo estado de abandono de alguns espaços públicos”, diz Machado. “Muitas vezes as pessoas acreditam que a responsabilidade de cuidar é apenas do poder público. Mas, na verdade, é de todos.”
O ativismo socioambiental faz parte do DNA deste paulistano tanto quanto a arte. Mas esta vertente se fortaleceu a partir de 2009, quando Machado passou a integrar o coletivo Urban Trash Art. O grupo coletava resíduos sólidos nos espaços públicos, transformando-os em objetos de arte. Um dos trabalhos mais marcantes foi uma escultura confeccionada com duas toneladas de resíduos, exposta na edição de 2010 do festival de música SWU. A obra teve como coautor Pado, seu parceiro nestas viagens criativas. Mas é na rua que Machado sente sua vertente cidadã ganhar uma dimensão ainda maior.
A série de 33 vídeos da Kana Filmes vem chamando a atenção da moçada descolada e daqueles paulistanos que, assim como o trio, desejam ajudar a fazer com que a cidade seja mais humana. “Sou um sujeito bem resolvido, contudo, não consigo aceitar com passividade os problemas e sempre procuro tentar melhorar as coisas.” A presença mais constante na mídia tem tido um impacto direto no acesso ao material.”O volume de visualizações deu um salto de nove mil para 46 mil, no último mês”, conta. E quanto à arte, propriamente dita? Bem, esta parte ele exercita por meio da pintura, sua maior paixão. E enquanto não conquista o reconhecimento que julga merecer, Machado vai ganhando dinheiro com a atividade de produção de móveis e de objetos de design, feitos de refugo de madeira.
Machado diz que o nome Serviços Gerais nasceu em meio a um brainstorm com os colegas cineastas. “Pensei em homenagear aquele profissional que chamamos quando estamos com algum problema em casa”, explica. O desejo de fazer um trabalho autoral em nome da cidadania surgiu durante um grupo de estudos e debate sobre artes. “Percebi que não ainda não tinha feito nada na linha da performance ou da intervenção urbana”, explica. Mais que fazer reparos, Machado e a dupla de cineastas esperam despertar um sentimento de pertencimento, e ampliar a consciência dos paulistanos em relação ao espaço urbano. Algo que o artista plástico vem acumulando em suas andanças de trem, de metrô, de carro, de táxi ou de ônibus, em meio as contradições da terra da garoa.