De olho na classe G. De gente

Quem é: Elias Tergilene
Por que é importante: criou uma rede de shopping-centers voltados ao consumidores populares, antecipando a aposta na chamada classe C

Durante boa parte de sua infância, Elias Tergilene carregava pelas ruas de Betim (MG) uma carroça lotada de esterco. Com a venda deste resíduo ele ajudava a compor a renda familiar. O menino cresceu, se encantou pela carpintaria e terminou dono de uma fábrica de móveis planejados, em Belo Horizonte. Algum tempo mais tarde, atraiu a atenção do Grupo Doimo, baseado na Itália e o maior da Europa, que comprou metade do negócio.

Capitalizado e com um parceiro global, Tergilene poderia dedicar-se a curtir as delícias da vida. Afinal, nada mais natural para quem vinha ralando desde a tenra idade. Mas este empreendedor nato, dono de uma rara sensibilidade social, nunca se interessou por fazer o óbvio. Aliás, sua grande ambição era usar sua da experiência de vida como a base para uma verdadeira revolução: criar negócios nos quais todos os consumidores, especialmente os mais humildes, se sentissem à vontade e tivessem conforto para fazer as compras.

De uma forma bastante resumida, essa é a história do fundador da rede Shopping Uai, pioneiro em apostar de forma organizada, qualificada e maciça na chamada classe C – que se tornou a queridinha de varejistas,  industriais e prestadores de serviços em geral. Só que Tergilene foi além: "Enquanto muitos empresários ficam preocupados com a classe A, B ou C, eu me especializei na classe G. De Gente", conta.

Para o empreendedor, o capitalismo brasileiro tem inúmeros vícios que prejudicam seu pleno desenvolvimento. "Trata-se de um misto de preconceito, falta de conhecimento e incapacidade de enxergar as virtudes do Brasil real", afirma. Segundo ele, isto impede que muitos invistam nas favelas brasileiras, por exemplo, apesar das pesquisas fartas indicarem o enorme potencial de consumo das pessoas que vivem nestas comunidades.

Para mostrar que suas preocupações são genuínas e que vão muito além do discurso, Tergilene se associou ao empreendedor social Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (CUFA) e dono da Favela Holdings, em empreendimentos comerciais batizados de Favela Shopping.

A ambição de Tergilene é investir R$ 1,5 bilhão, até 2017, na construção e instalação de 22 projetos de centros populares de comércio em dois formatos: shopping-centers instalados em comunidades e camelódromos em áreas de grande circulação, como terminais de ônibus. Mais que apenas vender produtos e serviços, os projetos de Tergilene têm a marca da inserção social e da qualificação. Os empreendedores passarão por cursos ministrados por entidades como o Sebrae e a Fundação Dom Cabral. "O empreendedorismo de qualidade representa o futuro do Brasil", destaca.

Tudo na vida de Tergilene foi aprendido na prática e em meio a desafios. Na capital mineira, ele enfrentou patrocinadores e a desconfiança do Ministério Público ao promover o inusitado concurso Miss Prostituta.

A ideia era fazer a política da boa vizinhança com o pessoal que vive na região na qual abriu o primeiro shopping. Além disso, aproveitaria o mote para desenvolver um trabalho de prevenção envolvendo DST/Aids. "Uma das rádios na qual anunciávamos cancelou nossos comerciais", lembra. Hoje, o concurso está no calendário oficial da capital mineira.