Sustentabilidade dos pés à cabeça

Quem é: Gabriel Silva

Por que é importante: criou a Ahimsa, uma das mais festejadas grifes de calçados veganos

O paulistano Gabriel Silva, de 25 anos, vem de uma família de sapateiros. Mas nunca gostou de ter os pés apenas no chão. Foi isso que o fez seguir para os Estados Unidos, onde morou e atuou por um longo período como instrutor de voo. Foi lá, também, que ele conheceu a filosofia vegana que, em linhas gerais, rejeita tudo que tenha origem animal. Desde a alimentação até as roupas. O estilo de vida acabou se transformando em uma alavanca para ele voltar às origens.

Como é muito difícil encontrar calçados que não usem insumos animais, ele resolveu apostar neste filão. Foi então que, no começo de 2013, ele regressou ao Brasil, juntou as economias, cerca de R$ 30 mil, e convenceu os pais, donos da Freedom, a deixá-lo usar um espaço na empresa para produzir sua linha, batizada de Ahimsa.

A empresa, cujo nome remete ao princípio da não-violência, se tornou hoje uma plataforma de negócios que tem como foco os cerca de 17,5 milhões de brasileiros, de acordo com pesquisa do Ibope. São pessoas que se declaram vegetarianas, incluindo as que fazem concessões ao ovo e ao leite, itens não consumidos pelos veganos.

"Percebi que não fazia sentido deixar de consumir produtos de origem animal, mas seguir usando calçados de couro", explica Silva. No início deste ano, ele começou a tirar do papel o ambicioso plano de montar sua própria fábrica perto da sede da Freedom, em Franca, cidade do interior de São Paulo que se firmou como o maior polo calçadista masculino do País.

O investimento de R$ 30 mil na abertura da unidade levou em conta a necessidade de atender o crescimento da demanda e reforçar os controles sobre todas as etapas da produção. Até então, abrigada em um espaço dentro da Freendom, a Ahimsa tinha de terceirizar muitos serviços. "Com a produção própria, nós conseguimos reduzir muito os riscos associados ao negócio, mesmo com o aumento da despesa fixa. Atuamos com um estoque limitado, que é reposto de acordo com o ritmo de vendas, por meio de nossos canais nas mídias sociais", diz. "Deste modo podemos reagir rapidamente a uma demanda inesperada, gerada por um produto específico."

Sua meta para 2014 é atingir faturamento de R$ 250 mil, montante 20% maior que o apurado em 2013 com as 10 linhas de produtos, entre sapatos, tênis, chinelos, bolsas e carteiras. Os calçados são inspirados em modelos consagrados como os docksides e os mocassins e são produzidos com materiais alternativos, como manda a filosofia organic shoes.

A lista inclui desde plástico feito de resina de PET reciclado, borracha biodegradável e cola à base d'água, além de lonas de algodão orgânico. "Todos de excelente qualidade", garante o empresário. "Não teria sentido substituir insumos animais por derivados de petróleo."