Coletivo e plural

Quem é: Luiz Paulo Lima
Por que é importante: profissional multimídia, ele lidera algumas das principais iniciativas que têm como viés a identidade afro-brasileira

É difícil adentrar em um local onde a pauta envolva a discussão sobre a cultura afro-brasileira e não encontrar o diretor de cinema, fotógrafo, jornalista e empreendedor Luiz Paulo Lima. Isso vale tanto para São Paulo, onde vive, como também para o Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, sua terra natal, nas quais reúne amigos e admiradores. Seu campo de ação, no entanto, não se resume à região central destas cidades, muito menos a seus salões refrigerados. Luiz Paulo gosta mesmo é de ir para lugares ermos, como os quilombos e as quadras de escola de samba, para beber na fonte do conhecimento ancestral. Apesar de trazer na bagagem importantes distinções no fotojornalismo, como o Grande Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo e o Prêmio Wladimir Herzog dos Direitos Humanos, Luiz Paulo vêm se dedicando cada vez mais à carreira de cineasta e agitador cultural.

A alavanca destes trabalhos é a BK4 Comunicações, uma produtora de conteúdo audiovisual, especializada em roteiros, pré-produção e produção para TV e cinema. As dificuldades típicas de um segmento que depende 100% de patrocínio, não assustam. "Empreender significa correr riscos, mas acredito na meritocracia, na capacidade de resolver problemas para os clientes e de ser feliz", conta. Na lista de "riscos" o mais recente deles é a trilogia "Outros Carnavais". O primeiro da série -  "Entre Batuques e Sambas Paulistas", produzido em 2009 –, lança luzes sobre a trajetória do samba paulistano até sua consagração, a partir de histórias contadas pelos pioneiros deste movimento. Um dos grandes méritos da obra foi não ter se limitado aos "berços do samba" ditados pela mídia. A sequência incluiu produção e filmagem de obras semelhantes em Porto Alegre e no Rio de Janeiro.

Em um país como o Brasil, onde as questões raciais ainda se impõem, existiriam barreiras maiores para os cineastas negros? "As dificuldade são mais acentuadas", explica. "Além do investimento técnico, financeiro e de recursos humanos precisamos agregar um trabalho extra de sedução e uma estratégia com o objetivo de convencer os investidores que somos competentes, para superar os preconceitos." Para Luiz Paulo, a facilidade na formalização de pequenos empresários, está ajudando a fazer com que cada vez mais os empreendedores afro-brasileiros saiam da clandestinidade, representada pela informalidade.

A partir daí, a expectativa é que surjam mais realizadores como ele. Para isso, ele ajudou na criação da Rede Kultafro, um projeto coletivo de startups que têm em comum o fato de reunir empreendedores afro-brasileiros. São crias deste movimento o Instituto Feira Preta, a grife de roupas Xongani, a De Victor Produções Artísticas e a Leno.Org. "São iniciativas que se constituíram em um benefício para a cidade de São Paulo, pois geram o pagamento de tributos, postos de trabalho e renda para muitas pessoas", destaca. "Isso permite reduzir as estatísticas de desigualdade social." Para o agitador cultural e cineasta, a atuação em rede ajuda a construir um processo capaz de viabilizar novos territórios e a criar ferramentas de interatividade entre diversos empreendedores.