O grafite ainda é considerado algo transgressor e subversivo, pelo fato de que quem o faz não necessariamente possui autorização para pintar os muros da cidade. Dito isso, podemos lembrar um pouco sua história e seus eternos dilemas – eu, particularmente, como artista e arte-educador, gosto de contar essa história.
O grafite, como arte de rua e manifestação sociopolítica, teve seu início marcado em meados da década de 70, nos Estados Unidos. Pintados nos muros dos bairros do Brooklin por artistas anônimos e ligado diretamente a cultura hip-hop.
Esta expressão artística com o passar dos anos ganhou inúmeros adeptos, pois se trata de uma linguagem que usa como pano de fundo os muros das grandes cidades. Ou seja, é acessível a todos, de forma democrática, está fora dos museus, ao alcance da população. Sua característica totalmente urbana aproxima quem o vê por mera admiração de assuntos que às vezes são de cunho social e político. Outros grafites apenas exploram a expressão de técnicas artísticas e estilos de pintura proporcionados por esse tipo de manifestação.
Logo, o leitor deste texto já pode desconfiar de que vira e mexe voltamos a debater um velho embate: o grafite é arte ou deve ser repreendido judicialmente? Claro que essa discussão é ampla. Mas podemos dar uns pitacos.
Ao meu ver e respondendo ao primeiro questionamento, creio que o grafite pode e deve sim ser tratado como arte, devido à sua essência contestadora e instigante, pois assim como qualquer outro tipo de arte o grafite desperta o olhar dos indivíduos para as coisas que se passam ao seu redor e nem sempre ficam claras.
Ele questiona visualmente, interage com o observador, tirando-o de sua zona de conforto. Isso, para mim, é um dos papéis principais da arte.
Mesmo que nem todos os artistas se preocupem ou não se apropriem de um discurso político claro, algo que também pode ser válido, o grafite acima de tudo é uma expressão artística livre.
Em segundo lugar, em relação à punição, o buraco é mais embaixo.
Cabe ao artista saber o modo de como fazer a sua arte, podendo ser vista como ato de vandalismo que em certos momentos invade espaço alheio, ou como uma ferramenta artística contundente na busca de auto-afirmar que é sim arte e pode estar onde houver possibilidade de interação com as pessoas que o admiram.
Viva a arte de rua!
Rodrigo Garcia é designer gráfico e arte-educador. O que o move no mundo é a possibilidade de ver a arte, seja ela em grafite, ilustração ou em tela