Durante muitos anos, os integrantes dos meios corporativo e financeiro debateram a tese segundo a qual as empresas teriam de optar entre serem sustentáveis ou lucrativas. O aumento da pressão de ambientalistas, a emergência climática e a adoção de leis e regulamentos destinados a ampliar a eficiência energética e a redução de resíduos fizeram com que essa dicotomia fosse paulatinamente abandonada. Foi nesse contexto que grandes conglomerados industriais decidiram investir fortemente no desenvolvimento de tecnologias e equipamentos capazes de auxiliar as empresas nesta transição.
A gigante alemã Siemens foi uma das que enxergou nessa onda verde uma oportunidade de ganhos. Tanto que reformulou seu modelo de atuação, transformando unidades de negócios em empresas independentes. Este processo se deu em segmentos vitais, como o de saúde, responsável por 17% das receitas e 30% dos lucros do grupo alemão. Desde 2015, essa área passou ao comando da Siemens Healthineers AG, uma potência com receita global de 21,7 bilhões de euros e lucro líquido de 2,03 bilhões de euros, em 2022.
Uma das apostas da empresa dentro de sua jornada sustentável é a promoção da Economia Circular. Para isso conta com a linha Ecoline, composta por produtos recondicionados. “Os desafios na área de saúde passam pela sustentabilidade, que é traduzida na Siemens pelo conceito que privilegia mais eficiência com custo menor e menos processos”, diz Adriana Costa, diretora-geral da Siemens Healthineers no Brasil. Essa linha, que já existe há cerca de 20 anos na Europa, começou a ser comercializada no Brasil no final de 2021, com equipamentos de diagnósticos e tratamentos hemodinâmicos – como por exemplo, os arcos cirúrgicos que permitem aos cirurgiões visualizem todas as estruturas internas de um determinado paciente, de forma dinâmica e em tempo real.
Para a executiva, o fato de esses produtos recondicionados custarem cerca de 30% menos em relação aos novos não significa uma espécie de concorrência interna entre as linhas de produtos, capaz de causar prejuízos à Siemens. “A empresa foca suas estratégias a partir do lucro sustentável, olhando as oportunidades de negócios ao longo de toda a cadeia”, destaca.
E foi com base nesta premissa que a subsidiária da empresa alemã fechou uma parceria com a Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB). A entidade reúne cerca de 1.800 associados, responsáveis por uma parcela significativa dos atendimentos prestados no Sistema Único de Saúde (SUS), respondendo por 61% das internações de alta complexidade. O objetivo é definir estratégias para diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais assertivos nos casos de pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou que sofram de doenças cardiovasculares.
De acordo com Adriana, a linha Ecoline não é composta de produtos de prateleira. Ou seja, a definição pelo uso ou não de equipamentos remanufaturados (importados da Alemanha e que não inclui os itens produzidos no Brasil, como a máquina de rio-X, por força da legislação) é estudada caso a caso. “A análise leva em conta a necessidade de cada cliente e sua capacidade de investimento”, resume.
Os equipamentos sustentáveis da Siemens Healthineers chegaram ao país após receberem o sinal verde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A expectativa da executiva é que se repita por aqui o que já acontece nos Estados Unidos e na Europa, onde este segmento está em plena expansão.
