Nas séries estrangeiras, especialmente aquelas ambientas em Nova York, as lavanderias de autosserviço entram como pano de fundo de alguma situação vivida por um dos personagens. Tão comuns quanto os botecos no Brasil, essas redes fazem parte da paisagem urbana de metrópoles e cidades médias nas quais o número de solteiros é mais relevante. Fenômeno semelhante já começa a ser observado por aqui. Mesmo que não ainda não tenham sido incluídas no roteiro de produções de TV ou cinema, as lavanderias vão ganhando cada vez mais espaço na paisagem urbana. De acordo com o Sindilav, entidade que representa as empresas do setor, existem cerca de 8 mil lavanderias espalhadas pelo país, sendo 2 mil industriais e 6 mil domésticas. É neste último filão que a rede 60 Minutos vem cavando seu espaço.
Controlada pelo Grupo Hi, baseado em João Pessoa, é uma potência do segmento. “Já somos a maior rede de lavanderias de autosserviço na América Latina e nossa intenção é fechar 2025 com 1,4 mil unidades”, conta Sidney Lima, diretor de operações do Grupo Hi. O aumento em 58% no número de lojas terá impacto direto no faturamento previsto para atingir a marca de R$ 100 milhões neste ano, um incremento de 70% em relação a 2024.
A 60 Minutos é fruto de uma série de acasos e tacadas certeiras do empresário Isaelson Oliveira. Nascido na Paraíba, ele conheceu o serviço durante uma temporada de estudos nos Estados Unidos. Se apaixonou pela praticidade do sistema self-service e resolveu implantar algo semelhante no Brasil. Graduado em administração de empresas, pela Universidade de Brasília (UnB), com especialização em gestão estratégica de RH, na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2015 ele resolveu dar uma guinada em sua trajetória profissional. Foi neste ponto que o professor universitário deu lugar ao empreendedor serial. A partir da primeira unidade, aberta em 2015 em Bancários, bairro estudantil da capital paraibana, ele percebeu que para ganhar escalar não bastaria montar uma franquia convencional.
Foi aí que veio a ideia de operar de forma verticalizada, controlando todas as etapas de operação: da fragrância usada na etapa final da lavagem até a tecnologia de automação dos pontos de venda, passando pelo sistema de pagamento e o sabão biodegradável, tudo é desenvolvido internamente por empresas que compõe o Grupo Hi: Laundry in Box, HiPlim, BolePix e ikli. Nesta última, responsável pela área de TI, atuam 10 dos 100 funcionários do Grupo, baseado em Cabedelo, cidade da Região Metropolitana de João Pessoa. “ A verticalização nos permitiu uma vantagem importante em relação aos competidores”, destaca Lima. “Hoje, somos o quinto maior distribuidor de máquinas da LG, em termos globais.”
Sidney Lima, diretor de operações do Grupo Hi, diz que empresa fará duas aquisições neste ano
Competição, aliás, que só faz crescer. O serviço de lavanderia no Brasil sempre foi um nicho extremamente restrito e administrado basicamente por famílias. O setor começou a ganhar embalo em meados da década de 1990, com o desembarque de redes globais, como a francesa 5àsec e a americana DryClean USA. Contudo, apenas na década seguinte começaram a surgir experiências de autoatendimento, idênticas às existente em Nova York e Londres, por exemplo, nas quais todo processo é realizado pelo cliente e o controle se dá de forma remota. O sistema permite atuar com lojas compactas, as da 60 Minutos ocupam uma área entre 18m² e 40m², que podem ser instaladas em áreas movimentadas: postos de combustível, faculdades ou até mesmo na garagem de condomínios. Outro componente que facilitou a disseminação dessa modalidade foi a onda dos apartamentos compactos, especialmente no eixo Rio-São Paulo. A falta de espaço, a busca por comodidade e a maior consciência ambiental acabaram funcionando como um motor para essa tendência. “A crise hídrica fez com que muitos brasileiros entendessem a importância da preservação dos recursos naturais”, aponta.
Segundo o diretor de operações do Grupo Hi, é partir destes postulados que a rede traçou seu plano de crescimento para os próximos 10 anos. A estratégia embute ações no mercado local, onde está previsto o crescimento orgânico, a partir do aumento do número de franqueados, e por meio da aquisição de concorrentes. “Estamos conversando com duas redes menores e assim que finalizarmos a fase de due dilligence vamos decidir se fechamos ou não a transação”. Mesmo se levarmos em conta que os brasileiros possuem um perfil diferente dos consumidores americanos e europeus, pode-se dizer que o setor ainda possui muito espaço para crescer. De acordo com o Sindilav, 4% dos brasileiros utilizam este serviço e o potencial é de até 20% da população. São números que fizeram com que gigantes como a rede francesa 5àsec e a britânica Unilever investissem em franquias de lavanderias de autosserviço, com as marcas Lavpop e Omo Lavanderia.
No front externo, a primeira parada, de acordo com Lima é Portugal, país no qual Isaelson, fundador d0 Grupo Hi, migrou há três anos. Ele pretende usar o país como teste para a internacionalização da marca, em um roteiro que inclui a Espanha, na primeira fase, e, em um momento seguinte, os Estados Unidos. “Nos impusemos o desafio de levar a 60 Minutos para a pátria das lavanderias de autosserviço”, diz Lima. Tamanha confiança, digamos assim, está alicerçada no suporte do megainvestidor João Kleper, dono da Bossa Invest, parceiro de um grupo de startups que faturam um total em torno de R$ 1 bilhões por ano. “Ele começou como nosso investidor anjo e hoje ocupa a presidência do Conselho de Administração do Grupo Hi”, conta
