A cada ano, sete milhões de pessoas morrem, no mundo, por conta de doenças relacionadas à poluição atmosférica. O dado da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça os argumentos de pesquisadores e ativistas ambientais pela necessidade da redução da emissão de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), aliada à preservação do meio ambiente. No primeiro caso, boa parte dos esforços estão direcionados para o setor de transporte, um dos principais vilões das emissões de poluentes, especialmente em cidades de grande porte, como São Paulo e Rio de Janeiro. No segundo, além da tese de manutenção das florestas de pé, vem ganhando espaço o debate sobre a necessidade de eliminação das chamadas ilhas de calor, que são os espaços urbanos nos quais o concreto e o asfalto tomaram conta da paisagem.
Os efeitos danosos das ilhas de calor incluem desde a maior prevalência de doenças respiratórias, uma vez que as árvores ajudam a reduzir os gases danosos, até a ocorrência de doenças de pele por conta da exposição prolongada à radiação solar durante atividades corriqueiras ao ar livre. O impacto deste fenômeno, que já vêm sendo estudado por pesquisadores de diversas universidade, como a USP, acaba de entrar no radar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que acaba de divulgar dados de um projeto piloto em Guarulhos (SP) e Palmas (TO), encravadas em dois ecossistemas distintos: Cerrado e Mata Atlântica.
De acordo com responsável técnica da pesquisa, Manuela Mendonça de Alvarenga, essa análise vai subsidiar os estudos para elaboração da proposta metodológica de uma avaliação em nível nacional. “Para nós é importante lançar este estudo em caráter experimental, para que possamos colocar a proposta de metodologia em discussão, testar sua aplicabilidade a diferentes contextos e, a partir de um retorno de outros pesquisadores, de gestores e de demais partes interessadas, propor algo que possa ser aplicável a todo o Brasil”, disse Manuela em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com o IBGE, a metodologia realizada nesta investigação utilizou a definição de áreas verdes urbanas do Código Florestal Brasileiro, que considera áreas públicas ou privadas de vegetação (natural ou recuperada), que têm uma destinação no planejamento urbano diferente de loteamentos e moradias. “Para a área de mapeamento, foi considerada uma delimitação que segue o padrão internacional da ONU-Habitat pautado em densidade demográfica e tamanho da população em áreas contínuas. Além disso, foi proposta a utilização de dados de cartografia colaborativa, que indicam a presença de áreas verdes diversas. Estes foram utilizados como insumos para identificação preliminar, cruzados com outros de imagens de satélite, que indicaram a presença de vegetação”.
Reforma do Vale do Anhangabaú, em SP, é criticada como exemplo de intervenção urbana que cria Ilhas de calor na cidade
Em Guarulhos, foram identificados 7.096,37 hectares de áreas verdes urbanas, o que representa 45% das áreas urbanizadas do município, levando em conta a área de 800 metros em torno do centro urbano. Considerando as áreas verdes intraurbanas, o tamanho é reduzido para 6.036,73 hectares, e a proporção passa a ser de 38% das áreas urbanizadas da cidade. “Com esse resultado, podemos interpretar qual é o grau do impacto que o entorno do centro urbano possui para a composição do mosaico de áreas verdes da cidade e consequentemente os serviços fornecidos à população”, explicou Manuela.
Por sua vez, na capital do Tocantins o total de áreas verdes urbanas foi de 5.137 hectares, considerando a área de mapeamento com o entorno de 800 metros do centro urbano, o que representa 49,11% do total de áreas urbanizadas da cidade. “Considerando apenas a área intraurbana, as Áreas Verdes Urbanas passam a somar 977,99 hectares, representando aproximadamente 10% da mancha urbanizada do município. A diminuição de cerca de 80% de áreas verdes entre os recortes intraurbano e periurbano se deve ao fato de que Palmas possui grandes extensões de matas ciliares de rios tributários ao Rio Tocantins que cruzam a cidade e não são consideradas áreas urbanizadas, devido à sua grande extensão sem moradias ou área construída”, afirma o instituto.
Em São Paulo, a maior metrópole da América do Sul, a cobertura vegetal normalmente está associada ao rendimento médio dos moradores de cada microrregião. Na periferia da Zona Leste, por exemplo, estão alguns dos bairros com menor cobertura vegetal, enquanto Moema, na região Sudoeste, lidera o ranking. Mas, no todo, a situação é preocupante. Isso porque, somente 11,7% das ruas da cidade são arborizadas, número muito abaixo do verificado em Porto Alegre (82,7%) e Curitiba (76,1%). Menos árvores mais calor, mais poluição e mais doenças e mortes que poderiam ser evitadas.
Com informações da Agência Brasil, Agência USP e Rede Nossa São Paulo
