No começo de 2015, a taxa de desemprego atingiu a marca de 5%, índice tão reduzido que os economistas passaram a dizer que o país vivia um ciclo de pleno emprego. Dez anos depois, o fenômeno se repete, com o patamar medido pelo IBGE na casa dos 5% (5,6%, para ser mais preciso). Tratam-se de números robustos e que mostram um quadro alentador. Contudo, quem mergulha mais a fundo nos dados da pesquisa identifica a permanência de um problema sistêmico: assim como em 2014, os jovens continuam à margem deste cenário positivo. Isso porque, na faixa entre 14 e 17 anos a taxa de desocupação segue em níveis estratosféricos: 21,7%, o que equivale a quase quatro vezes a taxa total! Tão persistente quanto o elevado desemprego entre os jovens é a incidência quase que absoluta deste fenômeno no contingente formado por moradores das periferias brasileiras, em especial as mulheres e os afro-brasileiros.
Apesar de existir uma unanimidade em relação à gravidade do problema, gestores públicos e privados seguem “culpando” os jovens pela desdita, argumentando que só não consegue se colocar nas vagas disponíveis aqueles que não contam com a qualificação profissional e educacional exigidas pelo mercado. “Existe um olhar enviesado dos setores público e privado em relação a estes jovens”, diz Gabriella Bighetti, CEO da United Way Brasil (UWB) , maior entidade filantrópica sem fins lucrativos em nível global. “Em geral, as empresas não contam com programas de acolhimento, tampouco uma gestão por parte do RH focada nas necessidades específicas deste contingente.”
E é nesta direção que segue um dos programas tocados pela United Way Brasil, o Global Opportunity Youth Network (GOYN), projeto mundial criado pelo Instituto Aspen, dos Estados Unidos. Segundo Gabriella, a iniciativa nasceu a partir da percepção acerca da importância da inclusão produtiva dos jovens como um elemento vital para o desenvolvimento econômico das nações do Sul Global. É nesta região que estão situados os países que ainda podem se beneficiar do bônus demográfico, quando o número de jovens em idade produtiva é maior que o de crianças e aposentados.
Gabriella Bighetti, CEO United Way Brasil (UWB), lidera projeto de inclusão produtiva de jovens em risco socioeconômico
Hoje, o Juventudes Potentes está sendo tocado em 17 cidades, em nível global. Em São Paulo, a representante brasileira, as ações começaram a ser desenvolvidas em 2020 e, desde então, já foram mapeados 800 mil jovens moradores de bairros das zonas Sul e Leste, regiões nas quais se concentram o maior número de adolescentes em situação de elevada vulnerabilidade socioeconômica. A meta de beneficiar 100 mil jovens, prevista para 2030, deve ser antecipada, pois até 2025 já foram sensibilizados 80 mil pessoas. O programa é tocado em parceria com ONGs locais, empresas e entes governamentais. Tudo começa com a qualificação dos parceiros em cada território, pois são eles que irão ajudar a construir um ambiente seguro para que os jovens possam se sentir aptos a desenvolver suas capacidades e se tornar donos do próprio destino.
A CEO da United Way Brasil conta que a grande adesão se deve ao fato de a metodologia partir de um processo colaborativo, no qual os beneficiários possuem voz ativa, ao longo de todo o processo. E este protagonismo estará em evidência nos três dias do Global GOYN Convening, encontro que tem como tema “Conexões que transformam as juventudes: o poder de uma comunidade global”, nos dias 6, 7 e 8 de outubro. Promovida pela UWB, a iniciativa contará com representantes do programa em nível global que apresentarão iniciativas tocadas por cada uma das 17 unidades. O intercâmbio dará aos jovens a oportunidade de trocar experiências e cocriar possíveis soluções para a inclusão produtiva. “As periferias de São Paulo e da Índia possuem muitas semelhanças. E esse diálogo é importante para acelerarmos o processo de inclusão produtiva dos jovens”, destaca.
Além da marca de 80 mil beneficiados, a CEO da UWB pretende mostrar outras conquistas obtidas nestes cinco anos. Uma delas é a inclusão da categoria Primeira Infância e Juventudes Potentes no disputado Prêmio Great Place to Work. Outro ganho foi a evolução das ONGs de base, cuja atuação deixou de ser unicamente empírica e passou a se guiar por ferramentas de gestão e análise de dados, o que ajuda a aumentar o grau de eficiência dos projetos.
