Fome animal

Em 2016, a produção industrial recuou 6,6%, completando o terceiro ano consecutivo de queda. Culpa da crise econômica que lançou o país numa forte recessão, afetando o consumo das famílias e criando um efeito efeitos cascata em todas os setores econômicos. Contudo, mesmo diante de um quadro dramático, alguns segmentos continuam aquecidos.

Um deles é o de rações para cães e gatos, estimado em R$ 19 bilhões e cujas vendas cresceram cerca de 6% no ano passado. Uma boa amostra disso foi dada na quinta-feira (2/2), na inauguração oficial da fábrica de rações úmidas da Purina, em Ribeirão Preto (SP). A unidade da empresa controlada pela suíça Nestlé consumiu investimentos de R$ 270 milhões.

E no que depender do apetite dos executivos da subsidiária, a unidade deverá receber nova rodada de aportes financeiros. “Nosso plano de investimentos prevê desembolsos de R$ 500 milhões até 2020”, conta Fernando Mercê, presidente da divisão América Latina da Nestlé Purina. “Por isso, ainda contamos com um orçamento de R$ 230 milhões para investir”.

A euforia dos executivos da Purina está baseada em fatores objetivos. Hoje, o Brasil já desponta como o segundo maior mercado para rações para pets. Perdendo apenas para os Estados Unidos. Com uma população de 52 milhões de cachorros e 22 milhões de gatos, a expectativa é de crescimento contínuo. Até porque, esta categoria de produtos só está presente em cerca de 45% dos lares brasileiros.

A unidade de rações úmidas de Ribeirão Preto é a nona deste tipo que a ­Purina possui no mundo, e a segunda fábrica da marca na cidade. Por conta disso, é considerada estratégica em diversos sentidos. Até então, os itens dessa linha vendidos por aqui eram importados dos Estados Unidos e da França. A produção local, de acordo com os executivos, permitirá maior competitividade no mercado local, além de possibilitar que a subsidiária abasteça os demais países da América do Sul.

A fábrica também incorpora alguns diferenciais em matéria de sustentabilidade, pois opera no conceito Resíduo Zero. Ou seja: nenhum subproduto de sua operação é enviado para o aterro sanitário. “A água não consumida é tratada e devolvida ao sistema hídrico da cidade”, conta Mercê. Outra característica importante é a política de aquisição de matérias primas. Segundo o executivo, 90% dos insumos são adquiridos na região, em particular, e no Brasil, em geral. “As importações se limitam a itens que não são encontrados no Brasil”.

Califórnia brasileira

Conhecida pela força no agronegócio, nas pesquisas tecnológicas e pelo clima quente e seco, Ribeirão Preto acabou sendo apelidada de a Califórnia brasileira. No início do século passado, o café reinou absoluto. Hoje, sua pujança econômica está ligada à uma grande diversidade de culturas (laranja, soja, algodão, arroz e cana-de-açúcar) e também ao setor industrial, notadamente ao que se vincula ao agronegócio: máquinas, equipamentos e insumos para alimentação animal.

A existência de matérias-primas em abundância, mão de obra qualificada e proximidade dos centros consumidores fizeram com que a americana Ralston-Purina desembarcasse na cidade há 44 anos. Com a aquisição da companhia pela suíça Nestlé, em 2001, por US$ 10,3 bilhões, as vantagens competitivas da cidade do interior paulista pesaram na hora de decidir pela implantação da nova fábrica.

*O jornalista Rosenildo Ferreira viajou a Ribeirão Preto a convite da Purina (Nestlé)