No dicionário Michaelis, resiliência é um substantivo feminino que possui dois significados. Na física, é a “elasticidade que faz com que certos corpos deformados voltem à sua forma original”. Na acepção figurativa trata-se da “capacidade de rápida adaptação ou recuperação”. No terreno prático, da vida cotidiana, a tradução literal seria a capacidade de uma cidade ou região passar por intempéries ou catástrofes com consequências menos onerosas em matéria de perdas materiais e humanas. Mas a resiliência não é algo que surja por geração espontânea. Ao contrário, depende da ação de governos, das instituições da sociedade civil e da forma individual como nos relacionamos com a rua, o bairro e a cidade na qual vivemos.
E foi com o objetivo de desenvolver este conceito, na prática, que a Fundação Rockfeller, ligada à icônica família de patronos do capitalismo dos Estados Unidos, lançou o projeto 100 Cidades Resilientes (100RC). A inciativa é global e inclui três capitais brasileiras: Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. Esta última, foi incorporada ao grupo na última rodada global, realizada em abril desde ano.
Em linhas gerais, o que a Fundação pretende é auxiliar as entidades da sociedade civil a influenciar na formulação e adoção de políticas destinadas a melhoria das condições de vida das pessoas. Tudo será feito a partir dos conceitos de inovação aberta e em plataforma colaborativa. “O sistema foi estruturado de forma que uma cidade aprenda com as demais 99”, destaca Helena Monteiro, diretora-adjunta do Programa 100 Cidades Resilientes. Segundo ela, os postulados do programa ganham uma maior importância, exatamente num momento de crise, como o atual, que afeta em maior ou menor grau cada uma das cidades brasileiras.
Por conta disso, muitos dos programas previstos têm por base as parcerias. Aliás, a Fundação foi a primeira a colocar a mão no bolso, ao destinar US$ 100 milhões para o projeto. Nesta conta estão incluídos os gastos com assessoria, capacitação técnica e a contratação do Chief Relisiense Officer (CRO) que, em tradução literal, seria o executivo municipal responsável por cuidar deste tema. “Os orçamentos municipais estão enxutos e não seria justo falar na criação de novas despesas”.
Helena, diretora-adjunta do Programa 100 Cidades ResilientesCabe a este profissional e sua equipe atuar na formulação de propostas e estratégias. Mas nada que inclua a substituição dos poderes constituídos. Longe disso. O ideal é que o papel do poder público seja fortalecido, dentro de uma ótica de parcerias. E isso começa com a forma de escolha do CRO. “Em Atenas o ocupante deste cargo é eleito. E a oposição já criou até a sua versão de CRO para fiscalizar o trabalho nesta área”, conta Helena. Por aqui, a ideia também está ganhando adesão das autoridades municipais das três cidades escolhidas. Ela diz que o fato de implantação da proposta ter sido feita com a administração anterior, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, não afetou em nada.
Na capital gaúcha, o prefeito Nelson Marchezan Junior, fez questão de se inteirar de todos os projetos e o foco inicial é uma iniciativa destinada a reduzir as regiões que sofrem com Ilhas de Calor, além da requalificação de uma área central da cidade. “Até o governo se interessou por este debate e anunciou que vai criar a uma lei estadual de resiliência”, conta Helena. No caso da capital fluminense, a opção foi por uma iniciativa ligada à eficiência energética em prédios públicos. A ideia é beneficiar 20 escolas da rede municipal, que receberão iluminação mais eficiente.
A diretora-adjunta do Programa 100 Cidades Resilientes destaca que o conceito de Smart City dialoga com este projeto. Isso porque, para que uma cidade se torne inteligente ela precisa funcionar como uma irradiadora de bem-estar para sua população. E isso inclui aspectos como segurança, disponibilidade de áreas verdes, mobilidade, geração de empregos, qualidade das construções etc., tudo isso feito de forma mais barata, mais inclusiva e com benefícios duradouros.
Saiba mais sobre:
100 Cidades Resilientes (em inglês)
http://www.100resilientcities.org/
Ilhas de calor
http://www.infoescola.com/clima/ilha-de-calor/
ONU lança guia sobre Cidades Resilientes
http://www.unisdr.org/files/26462_guiagestorespublicosweb.pdf