Água: promessas, gambiarras e a crise só aumenta

Um ano atrás a gente escrevia sobre a má qualidade na gestão dos recursos hídricos no Brasil, em geral, e em São Paulo, em particular, no texto Guerra pela Água. Já estava anunciada a crise hídrica, com a falta de chuvas crônica do verão 2013/2014. Exatamente um ano depois, neste 22 de março de 2015, uma série de palavras e expressões foram incorporadas involuntariamente ao vocabulário dos paulistanos: crise hídrica, estresse hídrico, volume morto, reuso de água, gestão da água, entre outros. Até então elas compunham apenas o “dialeto” típico de integrantes de ONGs e especialistas no tema.

E estas palavras caíram na boca do povo por um motivo simples: muitos paulistas chegam em casa no início da noite, após um dia inteiro de trabalho,  e não encontram água na torneira. Por conta disso, não podem tomar banho e, muita vezes, nem mesmo preparar uma refeição.

Apesar das reiteradas negativas das autoridades, existe um racionamento, de fato, apelidado candidamente de “rodízio no fornecimento” ou “redução do nível de pressão na rede”.

No verão que se encerrou na sexta-feira 20, às 18h, não faltaram chuvas. Especialmente nos estados da região Sudeste. O que nos leva a outra conclusão: a única variante que se manteve constante neste período de 12 meses foi a falta de transparência do poder público.

A transparência – que nos remete ironicamente uma das características da água potável, ser transparente – não se fez presente na política e na administração paulista. Para o cidadão resta um mar de dúvidas e incertezas, pois não sabemos como será a vida no próximo inverno, quando as chuvas costumam, aí sim, ser mais esparsas e menos intensas.

Obras têm sido anunciadas, mas podemos e devemos acreditar nessas promessas? Difícil dizer.

Contudo, não deveria ser assim, afinal o Brasil possui 12% das reservas de água doce do planeta. No Sudeste, região mais populosa do País, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais já vivem o drama da seca, tão conhecida por nossos irmãos do Nordeste.

Ano após ano, a gestão ineficaz da água na Grande São Paulo tem feito com que muitos dos cursos d’água na cidade fossem desviados, retificados, canalizados e, principalmente, poluídos.

Mas a falta de transparência do poder público não causa só incertezas.

Para ter ideia de como as coisas têm sido feitas sem planejamento aí vai um exemplo: vários pesquisadores apontam o crescimento altíssimo da dengue no Estado de São Paulo, neste ano, como sendo uma decorrência do mau armazenamento da água.

E, pasmem, incentivado pelo próprio governo que distribuiu caixas d`água em comunidades pobres, mas se esqueceu de prover assistência técnica e outros cuidados necessários para que estes depósitos não se transformassem em criadouros de mosquitos.

Sem orientações claras e rumo, o governo deixa a população insegura, sem saber se terá água.

Se já falta água em sua torneira hoje, as gambiarras estatais ou privadas, tendem a agravar o problema. Do ponto de vista da saúde e também do abastecimento.

Nossa triste conclusão: a água vai continuar sendo usada como arma política, para prejuízo de toda a população!