Não dá outra. Quando você tem a oportunidade de circular por outras capitais do mundo, você invariavelmente as compara com a que você vive, no meu caso, Brasília. Em Paris, estive alguns dias antes do atentado ao Charlie Hebdo. O respeito à faixa de pedestres pela “grande” maioria dos motoristas de lá é bem semelhante ao que ocorre em Brasília. A diferença é que na capital brasileira convém fazer o chamado “sinal de vida”, ou seja, acenar para os motoristas antes de atravessar a faixa. Em Paris nem é necessário. Assim que o pedestre se aproxima os motoristas já reduzem a marcha.
Já em Roma, é uma confusão para quem não é de lá. Você pode estar dançando no meio de uma faixa que nem assim boa parte dos motoristas e motociclistas vai parar para dar a preferência a você. Quase passam por cima.
Interessante ver os romanos atravessarem uma rua – e melhor ainda uma rotatória ou balão – pela faixa. Eles não fazem sinal aos motoristas antes de atravessar, vão seguindo, alguns nem olham para os carros que vêm em sua direção. Alguns motoristas desaceleram, outros ignoram os passantes e em 7 dias de Roma não vi nenhum atropelamento.
Na citada rotatória, em que vêm carros de várias ruas adjacentes ao mesmo tempo e aparentemente não há preferencial, a mistura deveria ser mais explosiva de pedestres e carros.
Que nada: os romanos vão pra faixa e atravessam como se quase não houvesse movimento.
Xingando em italiano
Claro que fui imitá-los. Quase fui atropelado umas três vezes, xingado algumas vezes em italiano e em outras línguas, mas sobrevivi. Minha filha foi cobaia comigo alguma vezes. Puxava-a pela mão e seguia como um romano enfrentando o trânsito sobre a faixa. Uma motoneta quase me pegou. Xinguei em italiano, claro!
Outro lance interessante de comparação são filas. Em Brasília há fila para muita coisa. Os motoristas adoram ficar em fila para manobras para as quais nem precisava, mas…
Em Paris e em Roma os locais e turistas europeus não gostam muito de ficar em fila indiana, não. Em museus, supermercados e até na Torre Eiffel furavam (pelo menos tentavam furar) a fila à minha frente na maior cara de pau.
Se aqui eu não deixo brasileiro fazer isso não vai ser lá que isso iria acontecer. Tem uma alemãzinha com cara de assustada até hoje pela bronca que levou de mim na Torre por ter tentado tomar meu lugar.
Estacionamentos subterrâneos
Em Brasília você circula de carro por quase todos os principais locais, à exceção das zonas de segurança, como palácios (do Planalto e Alvorada por exemplo). Em Roma, no centro histórico, há ruas “fechadas eletronicamente” ao trânsito. Se você estiver dirigindo e não ficar atento às placas e adentrar uma dessas vias é multa na certa. Logo, logo devo receber umas três…
Estacionar é outro ponto a se comparar. Em Paris e em Roma os parquímetros procuram democratizar as vagas, embora a um custo alto. Em Brasília o estacionamento em qualquer lugar já é caótico e nem sinal de que alguém vá implantar ao menos uma Zona Azul (como em São Paulo) pelo menos.
Outro ponto positivo nas duas capitais são os estacionamentos subterrâneos, algo que Brasília deveria já ter feito para preservar o verde e os monumentos do acúmulo de carros.
E por fim, placas, menus e diversos outros materiais em Paris e em Roma escritos ou falados em INGLÊS. Isso facilita muito a vida do turista internacional. Apenas em função da Copa das Confederações (2013!!!!) é que Brasília foi dotada de alguma sinalização pública em inglês. Restaurantes e bares não têm quase nada em inglês (pelo menos a maioria). É uma capital muito voltada para brasileiros ainda. Deveria estar mais aberta ao mundo.
Sergio Cross é diretor da Profissionais do Texto Agência de Comunicação