Campanha "É Agro ou Fake?" alerta sobre a desinformação na área rural

Campanha "É Agro ou Fake?" alerta sobre a desinformação na área rural

Produtores rurais do sul da Bahia estão enfrentando um problema cada vez mais comum no campo: a circulação de informações falsas sobre insumos, práticas agrícolas e questões ambientais. Para responder a esse desafio, o projeto CompensAÇÃO, apoiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e financiado pela República da Alemanha, lançou a campanha “É Agro ou Fake?”, voltada diretamente aos agricultores familiares atendidos, com foco no combate à desinformação e qualificação do acesso à informação no meio rural por meio da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Digital.

Durante a implementação do projeto, que ocorre em 77 municípios baianos, técnicos de campo identificaram a circulação recorrente de conteúdos enganosos entre os produtores, especialmente por meio de aplicativos de mensagens e redes sociais. Propagandas de produtos sem comprovação técnica e promessas de resultados milagrosos, como fertilizantes líquidos anunciados como solução imediata para problemas no solo, são os tipos mais comuns.

Neste contexto, com o intuito de orientar os produtores, o projeto passou a incorporar o enfrentamento às informações falsas (fake news) como parte da estratégia de ATER Digital, que tem sido utilizada como aliada no combate à desinformação, ampliando o acesso a conteúdos técnicos confiáveis e fortalecendo a tomada de decisão dos agricultores familiares.

Os produtores atendidos pelo projeto são orientados a encaminhar os conteúdos sobre os quais têm dúvidas diretamente aos técnicos de campo. Quando os temas se repetem, eles são transformados em materiais educativos, como vídeos curtos, cards informativos e orientações técnicas, e divulgados nas redes sociais do projeto. Além disso, são reforçados em atendimentos presenciais, videochamadas e conversas virtuais.

A iniciativa ocorre em territórios inseridos no bioma Mata Atlântica, região que enfrenta desafios como pobreza rural, degradação ambiental e forte dependência de insumos externos. O projeto beneficia 1.600 famílias agricultoras, com prioridade para mulheres, jovens, comunidades tradicionais e assentados da reforma agrária.

Impacto e alinhamento global da ação

Ao combater a desinformação, a iniciativa contribui para reduzir riscos produtivos e ambientais, fortalecer a confiança na ciência e melhorar a adoção de práticas agrícolas sustentáveis. O tema também tem ganhado espaço nas agendas internacionais, como nas Conferências das Partes da Convenção do Clima (COPs) e nas discussões do G20 sobre integridade da informação e regulação de plataformas digitais. Já no início da implementação, a campanha registrou centenas de compartilhamentos nas redes sociais e diversos relatos positivos de técnicos e agricultores sobre a utilidade das informações.

O apoio do FIDA ao tema reforça o compromisso do sistema ONU com o desenvolvimento rural inclusivo, a adaptação às mudanças climáticas e a segurança alimentar no Brasil. A experiência no sul da Bahia demonstra como a inovação digital pode ampliar o alcance da assistência técnica e gerar impacto direto na vida de agricultores familiares.

A expectativa é que a abordagem seja ampliada para outros projetos e territórios, fortalecendo sua replicabilidade no portfólio do FIDA no país.

Inovação nas ações de ATER: modalidades presencial e digital integradas

O projeto CompensAÇÃO é implementado pela Organização de Conservação da Terra (OCT) e atua na promoção de sistemas agroflorestais sustentáveis na cadeia do cacau. A ATER presencial é realizada por dez técnicos de campo, responsáveis por orientar os produtores sobre boas práticas produtivas e ambientais, apoiar a implementação de planos de adequação e acompanhar a entrega de insumos.

Para complementar esse trabalho, o projeto iniciou, em julho de 2025, um piloto de ATER Digital, conduzido pela startup ManejeBem. O serviço inclui atendimento remoto aos produtores, plantão de dúvidas online 24 horas, conteúdos quinzenais, videochamadas e apoio direto aos técnicos em campo, além de sistemas de registro e monitoramento dos atendimentos.

Para Yngrid Santos Assunção, beneficiária do projeto, não existem soluções milagrosas quando se trata de resultados no campo.