O domínio do fogo, por exemplo, é considerado o primeiro marco na trajetória do homo erectus. Na idade moderna, coube a fotografia o papel de abrir novas possibilidades e ampliar os horizontes. O primeiro registro fotográfico foi feito pelo daguerreótipo, concebido por Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), tendo como base os estudos feitos pelo sócio Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833). Desde 1839, o mundo começou a registrar, em tempo real, os fatos do dia a dia, desde os mais banais até os acontecimentos históricos.
Mais que apenas complementar o registro oral, a fotografia permitiu que as sociedades imortalizassem momentos, de uma forma mais acessível. Também possibilitou que o jornalismo ganhasse um peso ainda maior, em seu papel de denunciar injustiças. A imagem da pequena Kim Puhc* correndo nua, após um ataque de napalm realizado pela aviação americana, por certo, ajudou a minar o discurso oficial do governo dos Estados Unidos em relação ao seu papel na guerra do Vietnã.
E é nesse contexto educativo que o paulistano João Kulcsár (à direita, na foto que abre esse texto) gosta de enxergar a fotografia. Graduado em engenharia, ele tinha a fotografia por hobby, até fazer dela sua principal atividade produtiva. Mas, aqui, é preciso destacar o sentido que ele imprime a este ofício. “Não sou fotógrafo. Mas alguém que usa a fotografia para debater os direitos humanos e os princípios da sustentabilidade ambiental”, diz.
Esta vertente batizada por ele de Alfabetização Visual, tem sido desenvolvida em diversos ambientes pelos quais ele transitou como educador e curador de fotografia. Tanto no exterior (Harvard University, Alta Scuola Pedagogica di Locarno e Instituto Português de Fotografia) quanto por aqui (Fundação Julita, entidade que atua na empobrecida Zona Sul, da cidade de São Paulo; a Febem e o Senac-SP).
“Na Febem, eu usava a fotografia como uma ferramenta de `alfabetização visual´ dos jovens, tentando desenvolver sua consciência crítica em relação ao mundo”.
Desde 2018, João vem se dedicando a outro projeto de fôlego e que conecta as duas vertentes que o fascinam: direitos humanos e sustentabilidade. Trata-se do Festival de Fotografia de Paranapiacaba. A exposição acontece na vila no município de Santo André, que abrigou trabalhadores da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, responsável pelo escoamento do café até o Porto de Santos.
Índio pataxó diante do rio Doce / Foto: Isis Medeiros
Vazante das águas em Manaus / Foto: Alberto Cesar Araujo (Agência Amazônia Real)
No ano passado, por conta da pandemia, o Festival foi realizado em formato de lives, contando com fotógrafos de diversas partes do Brasil e representantes de diversos recortes étnicos. Parte do acervo da exposição Estado da Água pode ser vista, até 30 de junho, no metrô Estação da Luz, na região central de São Paulo. O Festival também disponibiliza em seu site a mostra online. Aproveite o passeio virtual para curtir os detalhes das fotografias.
Para este ano, o veterano fotógrafo e educador tem planos ainda mais ambiciosos para o Festival. Além de manter o cronograma de lives, nas quais apresenta iniciativas educacionais tendo como a Alfabetização Visual, João vai levar algumas imagens para uma exposição em Paris. “A mostra coletiva será aberta no dia 26 de setembro, quando se comemora o Dia Mundial dos Rios”, conta.
Sem dúvida, às vezes uma imagem vale mais que mil palavras!
*No player de vídeo do portal 1 Papo Reto, em no homepage, é possível assistir à reportagem sobre a foto de Kim Puhc, que rendeu o prêmio Pulitzer para o fotógrafo vietnamita Nick Ut.
