Não seria exagero dizer que os sonhos e a trajetória almejados por Amanda Balbino, a nova Miss Distrito Federal, se devem, em boa medida, ao pioneirismo da gaúcha Deise Nunes, eleita Miss Brasil em 1986. Foi um choque, especialmente para quem não conhecia a longa trajetória da menina, filha de lavadeira e empregada doméstica. O mundo da beleza sempre fez parte da vida de Deise.
Aos 9 anos foi eleita Miss Simpatia, na escola. Antes de se tornar modelo profissional, em 1984, ela já havia vencido outros 10 concursos regionais de beleza. Neste contexto, o estrelato em nível nacional e até internacional seria uma questão de tempo.
Em 1986, Deise se tornou Miss Brasil. E não foi apenas mais uma miss, e sim a primeira afro-brasileira a atingir tal posição. Na disputa mundial ficou em sexto lugar. A visibilidade global, a partir de sua atuação nesta área, lhe rendeu convites para desfiles em Paris, um deles com o badaladíssimo costureiro Guy Laroche. Até hoje Deise vive e trabalha no universo da beleza, da moda e do show business. Quer seja como empresária, consultora de moda, apresentadora de eventos ou de programas de televisão.
Aproveitando o embalo com o sucesso da miss DF, 1 Papo Reto foi falar com Deise para que ela contasse um pouco de sua trajetória e deste momento atual para as mulheres afro-brasileiras que desejam seguir carreira na área de modelo e ingressar nos concursos de beleza. A primeira conclusão é ver que Amanda, de certa forma, ainda tem de lidar com alguns dos dilemas e questões vividos pela gaúcha há quase 30 anos, quando os brasileiros de todos os cantos se surpreenderam ao saber da vitória de uma candidata afro-brasileira.
Na entrevista, Deise fala dos desdobramentos de sua carreira na passarela e dá um conselho à Amanda: “Seja humilde e aproveite todas as oportunidades de participar do Miss Brasil”. Deise fez questão de compartilhar seu email profissional para aqueles que desejarem conhecer um pouco mais de seu trabalho:
A seguir, os principais trechos do bate-papo:
Parte de sua trajetória como modelo e miss tem muitas semelhanças com a de Amanda Balbino, a miss DF, que foi aconselhada a mudar o visual. Você se espanta em ver que decorridos quase 30 anos desde a sua coroação, as candidatas negras ainda serem raridade neste tipo de concurso?
Achei estranho quando li que sugeriram para ela alisar o cabelo e afinar o nariz. Fiquei muito feliz, depois da minha vitória, de ver candidatas negras, mas depois de um tempo elas sumiram dos concursos. Espero que voltem para que consigamos ter outra Miss Brasil negra.
Se você pudesse dar um conselho à miss DF qual seria?
O meu conselho a Amanda é que seja humilde e que aproveite ao máximo a experiência de participar do Miss Brasil. Eu já era modelo profissional quando participei do Miss Brasil. O concurso me proporcionou muitas coisas boas como visibilidade, muitas viagens e trabalhos.
Você construiu uma sólida carreira empresarial na área e também como mestre de cerimônia em eventos de destaque. A opção pelo empreendedorismo deve ser pensada em carreiras de fôlego curto, como a de miss e de modelo?
A carreira de modelo, hoje em dia, não está mais curta como alguns anos atrás. Hoje as modelos tem uma carreira mais longa, o que acho muito bom. A carreira de miss só é curta se ela não aproveitar as oportunidades que aparecem durante o ano de reinado. É nas oportunidades que plantamos as sementinhas para colher mais tarde. Um empreendedor só tem carreira curta se ele não estiver preparado para tocar o negócio.