Na era da empatia

Na era da empatia

Da Redação de O Mundo que Queremos, especial para Coalizão Verde (1 Papo Reto, Neo Mondo e O Mundo que Queremos)

Ter empatia pressupõe conhecimento, diálogo e disposição. É uma habilidade que precisa ser praticada nos mais diversos espaços de convivência, incluindo locais on e offline, como o ambiente escolar e o universo digital. “Empatia possui várias dimensões, uma delas é a da ação. Acontece quando você se encontra com o outro e tem a ver com o que se faz a partir da transformação mútua que ocorre nesse processo”, define Flavio Bassi, Líder da Estratégia de Empatia da Ashoka. Esse debate é fundamental nos dias de hoje. 

A polarização da sociedade, os embates nas redes sociais, a acentuação das desigualdades e a necessidade crescente de incluir os grupos menos privilegiados na educação são motivos para colocar a empatia como ferramenta essencial para o desenvolvimento da cidadania. A importância crescente da empatia nos ambientes de aprendizado e nas relações com as redes sociais levou um grupo de educadores, envolvidos com transformação social, a realizar um debate sobre o tema, em São Paulo. A discussão ocorreu durante um Círculo de Aprendizagem, no encerramento do Fórum Nacional Escolas2030, um evento realizado pela Ashoka em parceria com a Faculdade de Educação da USP.

Flavio Bassi ressalta, ainda, que a empatia não trata-se de resolver o problema do outro. “Se conectar com esse objetivo, não vai dar certo. Ao se deparar com o problema do outro, você encontra o seu problema e identifica os problemas coletivos. O exercício de empatia compreende muitas formas de existir, gera novas formas de existência e cultiva espaços em que possa florescer”, afirma Bassi.

Para Luana Borba, da Rede Amazônica, afiliada da Globo no Amazonas, a oportunidade de abordar os diversos aspectos da empatia surgiu por meio de uma nova vivência: a adoção. A chegada dos filhos Maria Alessandra, de 12 anos, e Vinicius, de quatro anos, há dois anos, motivou a jornalista a refletir sobre a importância da empatia. “O processo de adoção foi longo, quase três anos. Durante esse tempo entendi que era necessário estreitar a relação com o outro para entendê-lo e, que isto, só é possível com conhecimento”, explica Borba.

Os desafios enfrentados por ela e o marido, Rodrigo, com as burocracias, a nova formação familiar e as questões que envolveram a nova escola dos filhos, impulsionaram a apresentadora a abordar o assunto nas redes sociais, em um blog e em um livro recém lançado, o ‘De Repente 5’. “O livro é um projeto cheio de amor e que busca dar mais alguns passos em direção à prática da empatia e da importância de falarmos sobre filhos, principalmente os que são gerados em outros ventres”, destaca a jornalista.

Empatia é movimento

José Neto é paraense, indígena e, com apenas 15 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar. Formou-se em Engenharia de Produção e considera que a experiência de sair de seu estado o ajudou a formar sua identidade e senso crítico. “Ter deixado meu território também foi muito importante para poder identificar o que as pessoas consideram diferente. Eu achava, por exemplo, que todo mundo come farinha e peixe. Identificar o que as pessoas não conhecem, a partir da própria vivência e experiência, são formas de comunicar para uma educação que transforma”, pontua.

No Instagram, José Neto fala sobre a Amazônia e os povos da floresta. “Empatia é construída por meio da observação e da comunicação. Por isso, tento apresentar diferentes contextos da Amazônia e dos povos indígenas da região. Essas existências estão aí há muito tempo, mas não são observadas da forma correta. Acredito que ter uma comunicação empática na internet é viabilizar essas diferentes existências para conviverem juntas”, ressalta.

O fotógrafo e comunicador Roger Cipó também acredita que as transformações acontecem no movimento. “A gente precisa se chacoalhar um pouco e entender as nossas responsabilidades. Eu recebi pouca empatia em minha vida. Então, não quero ser cobrado por uma empatia que não me permita indignação”, aponta Cipó. “Fui educado pelo movimento negro e, para mim, raça é pilar que estrutura as relações da sociedade. Por isso, pergunto: a empatia sobre a qual tanto falamos tem cor, gênero e qual é o CEP dela?”, questiona.

Cipó é natural da cidade de Diadema, região metropolitana de São Paulo, considerada a cidade mais violenta nos anos 2000. “Era justamente nessa época que eu trabalhava nos lixões do município. E, assim como em outros extremos do Brasil, a empatia que a gente vislumbra e acredita, nem sempre chega dessa forma elaborada ou está sendo constantemente atravessada por violências. Precisamos de uma empatia que movimente e mobilize as pessoas”, reflete.

Nesse sentido, o professor Romulo Bolivar tem uma definição particular de empatia. “Ser empático é sofrer com a dor do outro, mas é também querer vibrar com a vitória. Se só quer experimentar a felicidade do outro, você é falso. Se quer absorver a dor, você está deprimido”, afirma. Bolivar foi aluno de escola pública e encontrou durante a jornada escolar professores que o incentivaram a entrar em uma universidade pública.

Atualmente, Bolivar participa de projetos de aulas pré-vestibular pela internet e presenciais na região de Madureira, Morro da Mangueira e Morro da Baiana, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. “Eu prometi que um dia voltaria para a sala de aula em escolas públicas. Hoje sou um educador que quer transformar a realidade e identificar sujeitos, com suas singularidades, para fazer reflexões sobre empatia”, revela.

O Círculo de Aprendizagem, promovido pela Ashoka Brasil em parceria com O Mundo Que Queremos, teve como tema “Ressignificando a conversa e a convivência no universo digital” e encerrou a programação do Fórum Nacional Escolas2030, na quinta-feira (24/11), em São Paulo. “A Ashoka é pioneira e a maior rede global de empreendedores sociais, há 40 anos. Neste período, detectamos que tudo começa com a empatia e esta é uma das habilidades mais importantes a serem desenvolvidas”, acentua Andrea Margit, Líder de Comunicação e Novos Paradigmas da Ashoka.

Para assistir ao Círculo de Aprendizagem completo, clique aqui.