Uma SP para todos. Mesmo!

A Prefeitura de São Paulo está empenhada em fazer com que as pessoas só cruzem a cidade em ocasiões especiais. Isso significa que o poder municipal está se articulando para que o seu cotidiano (em verdade nosso e deles também) seja vivido em distâncias mais curtas. Algo como ir da casa para o trabalho gastando menos tempo do

que se desperdiça hoje. No mais, se você é corintiano e mora na Vila Madalena é assunto seu se aventurar até Itaquera, o que não será todo dia. Porque é desperdício ficar em uma condução para cima e para baixo. Só é bom para o operador do transporte público.

O site Brasil Post publicou uma matéria onde cita uma pesquisa do site Emprego Ligado, que mostra que optar por trabalhar perto de casa faz bem ao bolso. O texto conta que morar perto do local de trabalho equivale a uma economia de horas de locomoção que somadas chegam a 20 dias no ano. Em dinheiro, uma renda extra de R$ 800. E mais: eles informam que 37% das pessoas saíram do seu último emprego por causa da distância entre a casa e o trabalho.

Mas vamos voltar a primeira frase do texto e pergunto: como posso afirmar isso? Basta ver o caminho que a Prefeitura tem feito. Não percebeu? Está tudo claro e cristalino na forma da mudança na lei de zoneamento criando os bairros mistos. Traduzindo: emprego e trabalho no mesmo lugar com direito a moradias populares (leia-se “Minha casa minha vida”) nos terrenos públicos desapropriados para esse fim ou em terrenos privados dentro de determinadas áreas já selecionadas.

Será que vai dar certo? E se eu contar que sei onde tem uma experiência dessas em andamento, sem muito alarde e com a aplicação somente das disposições urbanas atuais? Pois é, o local atende pelo nome de Cambuci.

Há tapumes que indicam construções em andamento em diversas direções. Em resumo o que teremos no bairro é o seguinte:
Moradias populares do programa “Minha casa minha vida“ no espaço entre o largo do Cambuci e a avenida do Estado porque é o permitido pela legislação municipal atual;

Prédios de classe média e de maior poder aquisitivo para cima do largo do Cambuci, subindo a avenida Lins de Vasconcelos e irradiando em suas ruas transversais e paralelas;

Prédios de maior poder aquisitivo no novo empreendimento que será erguido no antigo terreno da Eletropaulo na avenida do Lavapés;
Duas torres comerciais – uma no terreno da Lavapés e outra onde um dia foi uma loja do Carrefour;
Um shopping onde era o Carrefour, bem ao lado da única base da Força Aérea Brasileira que não tem aeroporto.

Montando esta figura geométrica de urbanismo temos: moradia de padrão mais caro em duas bordas, moradia popular na faixa oposta, comércio local no meio em todas as direções, um centro de consumo e emprego ancorando um dos lados e nas duas pontas dois polos de emprego de melhor qualidade (as torres comerciais).

Temos ou não em andamento o surgimento de um bairro misto moderno? Certo há muito a ser feito para resolver os problemas de pessoas sem teto que estão na região em pelo menos três galpões invadidos. Mas não é insolúvel.

Para quem não sabe onde fica o Cambuci, é na região central da cidade, com vasta rede de transporte público implantada há anos e mais anos. Só não tem o metrô na porta (a estação parque Dom Pedro é perto mas oferece uma caminhada amigável para se ir a pé do Cambuci até lá), mas tem dezenas de linhas de ônibus e o expresso Tiradentes em uma das pontas.

Em outros bairros pode dar certo? Acredito e tenho esperança que sim, a despeito da gritaria egoísta da turma que só vê desvalorização imobiliária pela vizinhança do “Minha casa minha vida” mas fica fulo quando os serviçais que o atendem no dia a dia não chegam no horário ou estão estressados. Condução lotada e viagem longa esquentam a cabeça do mais zen dos mortais.
Já passou da hora de pensarmos em sociedade coletivamente. Afinal, todo mundo sonha morar perto de onde trabalha.