O que você quer ser quando crescer? Até a década de 1990 era relativamente fácil responder a esta questão. Afinal, os brasileiros, na média, “casavam” com a profissão escolhida ainda na adolescência. Hoje, essa pergunta ainda povoa a mente de muitos jovens, contudo, a resposta vem se tornando cada vez mais ampla. É que entre a carreira técnica ou universitária, o que tem definido a fonte de renda das pessoas tem sido cada vez mais seus hábitos, gostos e paladares.
Dúvida? Pois pare para pensar quantas vezes você se surpreendeu ao deparar com aquele colega do curso de engenharia que largou o emprego estável para trabalhar com agricultura orgânica. Ou aquela ex-namorada que deixou a arquitetura para fazer um curso de gastronomia e abrir um restaurante com um grupo de amigos.
Muitos especialistas enxergam neste troca-troca de profissões um movimento que tem raízes em diversos fenômenos e tendências. A lista inclui desde a necessidade de busca de um projeto de vida que contemple um ideal, até mesmo a vontade de resgatar o processo de “autoralidade”.
Neste contexto, muitas pessoas acabam fazendo do hobby de costurar as próprias roupas, de produzir cervejas ou de cultivar uma pequena horta orgânica um negócio paralelo. Outros, criam a necessária coragem e transformam o plano B no plano A.
1 Papo Reto conheceu alguns destes empreendedores bissextos no sábado 22/10, durante o evento Projeto Prainha Orgânica, realizado no andar térreo do espaço de coworking Aldeia445, em Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo. O local abrigou diversas tribos. De cervejeiros artesanais a produtores de orgânicos, passando pelo pessoal que fabrica produtos de higiene e beleza, fotógrafos e artistas plásticos.
O ponto de contato entre os 22 expositores é a sustentabilidade do processo produtivo. “Nosso objetivo é puxar uma cadeia produtiva, dando espaço para empreendedores iniciantes e aqueles já consolidados, mas que não entram em grandes redes porque sua produção é limitada”, explica Thalita Posella, que atua como produtora de eventos.
Thalita montou o Prainha Orgânica em parceria com Armando Onofri, dono de uma produtora de audiovisual, e Roseli Machado, veterana na área de alimentos. Durante muitos anos ela liderou um negócio de delivery de verduras e legumes orgânicos. Boa parte deles vinha da cidade mineira de Gonçalves, situada ao pé da Serra da Mantiqueira, na divisa com São Paulo.
O Projeto aproveita o expertise de cada um deles em suas áreas de formação. O negócio foi pensado para fazer a ponte entre o público ávido por novidades e produtos diferenciados e os produtores artesanais. Mas também inclui workshops sobre alimentação orgânica e palestras corporativas. O trio também montou versões do Projeto para serem replicadas em condomínios residenciais e centros de compras.
Aliás, a próxima edição do Prainha Orgânica será no Shopping Granja Viana, em Cotia, cidade da Grande São Paulo conhecida pelos condomínios residenciais. “Meu objetivo é sensibilizar as pessoas para um estilo de vida que valoriza a economia sagrada”, diz Rose, como Roseli é mais conhecida.
Na primeira edição do Projeto, saltava aos olhos o número de cervejeiros artesanais. Dentre eles, o maior espaço era ocupado pela cervejaria experimental Santo Pisa, de Alessandro Pisa. Apreciador das “louras geladas”, ele começou a produzir a bebida em 2009.
Desde então, os espaços vazios na casa do professor de administração e coordenador do curso no Centro Universitário Senac, no bairro de Santo Amaro, foram sendo ocupados por sacos de cevada e malte, barris de madeira para maturação da bebida e garrafas. Muitas, aliás. A produção atual é de 400 litros por mês e as vendas são direcionadas aos amigos. “Cada lote produzido é comercializado rapidamente, assim que anunciou em minha página do Facebook”, festeja.
Por conta disso, Alessandro já pensa até em se dedicar exclusivamente ao hobby. De acordo com seu planejamento, isso será possível a partir de 2021. Afinal, após cinco anos de extensas pesquisas, diversos cursos e viagens para conhecer as diferentes escolas cervejeiras dos Estados Unidos e da Europa, ele já se sente mais preparado para transformar o plano B num plano A, em matéria de profissão e fonte de renda.