Saiba como a parceria entre governo, empresas e ONGs ajuda a preservar a Costa dos CoraisDurante aproximadamente 50 minutos, um grupo formado por cerca de 20 pessoas (entre biólogos, ecologistas e executivos de empresas privadas) se viram diante de uma tarefa tão estafante quanto prazerosa. Em alguns momentos era preciso usar a força dos braços e das pernas para segurar a imensa rede, com a firmeza necessária. Noutros, a serenidade se fazia presente por meio de passos ritmados de um lado a outro de uma área cercada por estacas de madeira, às margens do rio Tatuamunha, na pequena Porto de Pedra, cidade do litoral norte de Alagoas.
Ao término da delicada operação, que incluiu uma avaliação médica e a colocação de uma boia com GPS, duas frases ditas pelo diretor-presidente da Fundação Toyota do Brasil, Percival Donato Maiante, deram o tom simbólico daquela atividade: “Vá com deus Diogo. E que não voltes mais”.
[caption id="attachment_14065" align="alignleft" width="300"]

Recife de coral de fogo, em Tamandaré (PE)[/caption]
O personagem em questão é o 46º exemplar de peixe-boi reintroduzido ao habitat natural, desde 1994, e o 16º desde 2014, quando a Fundação incluiu o Projeto Peixe-Boi entre os beneficiados na parceira com a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais. A preservação deste mamífero marinho acontece a partir de um trabalho de fôlego, que envolve biólogos, ambientalistas, pescadores e, acima de tudo, os jovens da região.
É no manguezal situado no estuário do rio Tatuamunha que é feita a reintrodução dos peixes-boi resgatados ao longo da APA Costa dos Corais. O local é considerado um verdadeiro santuário para a espécie graças ao manguezal (onde eles bebem água doce e encontram um local abrigado para reproduzir e cuidar dos filhotes) e à abundância de capim-agulha (base de sua alimentação) tanto no rio quanto no mar.
A iniciativa de preservação assumiu uma outra dimensão a partir de 2000, quando foi criada a Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos no Litoral do Nordeste. Cabe aos seus integrantes realizar o resgate de espécimes e encaminhá-las aos dois centros de reabilitação: em Itamaracá (PE) e em Fortaleza. Um dos beneficiados foi o jovem Diogo, de seis anos, batizado em homenagem a praia Diogo Lopes, no litoral do Rio Grande do Norte, na qual foi encontrado.
Ocorrências deste tipo são comuns e se devem a diversos fatores, especialmente a ação humana. Muitos peixes-boi ficam presos em redes de pesca, por exemplo, ou se perdem das mães, feridas na colisão com hélices de embarcações. Como os filhotes são dependentes das mães nos primeiros quatro meses de vida, quando o leite materno é seu principal alimento, eles têm de receber cuidados especiais antes de serem reintroduzidos na natureza.
União de esforços
[caption id="attachment_14068" align="alignleft" width="300"]

Cercado onde é feito o manejo do peixe-boi[/caption]
A soltura de Diogo foi o ponto alto da celebração dos oito anos de assinatura da parceria da Fundação Toyota do Brasil com a APA Costa dos Corais. O trabalho inclui inúmeras iniciativas de proteção do ecossistema marinho que vai dos recifes de corais, espalhados ao longo da costa, até os manguezais.
Outra efeméride que marcou a visita de um grupo formados por jornalistas, ambientalistas e executivos da subsidiária da montadora japonesa foram os 20 anos de criação da APA. Os bons resultados obtidos até agora, em diversas frentes, se devem à união de esforços entre gestores públicos e sociedade em geral: o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a ONG SOS Mata Atlântica, além de empresas privadas.
Nosso tour ecológico pela APA teve início na deslumbrante costa de Tamandaré, cidade situada na Zona da Mata de Pernambuco e distante 100 km de Recife. Lá, tivemos a oportunidade de conhecer uma Zona de Preservação da Vida Marinha (ZPVM) de 440 hectares. O território, que começa a menos de um quilômetro da faixa de areia, em meio às barreiras de recifes de corais, foi estabelecido em 2000.
Ancoramos nas cercanias da ZPVM para um refrescante mergulho. Antes, porém, ouvimos uma rigorosa preleção sobre alguns cuidados essenciais. Pisar nos corais de fogo, estava fora de questão. Atrair os peixes com alimentos, nem pensar! Munidos de snorkel descemos do catamarã para apreciar a diversidade de peixes e a beleza dos recifes e da vegetação esparsa.
Além da pesca predatória, a região convive historicamente com outro tipo de ameaça: a exploração do turismo de forma insustentável. “Sofremos pressões de todos os lados”, conta Iran Campello Normande, analista ambiental do ICMBio e responsável pela Costa dos Corais. Para virar o jogo, o órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) atua com poder de polícia (fazendo incursões de agentes para multar e prender infratores), ações de educação ambiental (por meio de palestras e cursos em escolas) e muita integração com a comunidade (especialmente com as associações de pescadores e operadoras de turismo).
Os resultados, começam a aparecer. Os estudos indicam que a teoria de manter a área como uma “poupança de peixes”, defendida pelo chefe da APA, está funcionando. “Houve uma grande recuperação do ambiente desde a implantação da ZPVM”, confirma Leonardo Messias, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene/ICMBio).
Na estrada, atrás de tartarugas
[caption id="attachment_14066" align="alignleft" width="300"]

O combio de SW4, o SUV da Toyota[/caption]
Cumprida esta etapa da viagem, embarcamos novamente em potentes SUVs (utilitários esportivos, da sigla em inglês) da Toyota, em direção ao litoral norte de Alagoas. Ao longo de todo trajeto, os jornalistas se revezaram na direção dos veículos, numa espécie de test-drive informal dos utilitários. O enviado de 1 Papo Reto pilotou uma incrementada SW4 que entregou performance e conforto ao longo de todo o trajeto. Tanto em trechos de baixa velocidade e terrenos adversos, quanto ao longo da AL- 101 quando foi possível pisar fundo no acelerador.
E foi dessa forma que chegamos à Praia da Sereia, na Região Metropolitana de Maceió, onde conhecemos alguns dos pontos de desova de tartaruga. O trabalho de proteção dos ninhos é feito pelo Instituto Biota de Conservação, comandado pelo biólogo Bruno Stefanis de Oliveira e uma briosa equipe de voluntários. Eles se integraram à APA Costa dos Corais e desde o ano passado contam com o suporte financeiro da Fundação Toyota do Brasil.
De acordo com o biólogo, o "trabalho de formiguinha" começa a mostrar resultados. “Nos últimos três anos, registramos um aumento de 155% de ninhos nas praias monitoradas”, diz. Oliveira sonha alto. “Acredito que a região poderá se converter, no futuro, numa das principais áreas de desova de tartarugas, do Brasil”.
Boa parte do sucesso se deve ao uso de tecnologias e também da assimilação de práticas de gestão desenvolvidas por ONGs já estabelecidas neste nicho como o Instituto Tamar. A criação de um aplicativo (app) facilitou o resgate de animais encalhados ao longo da costa alagoana. “O aplicativo funciona de modo simplificado e permite que tenhamos uma completa interação com os usuários”, destaca Oliveira. "As informações geram uma notificação e o desdobramento de cada ocorrência pode ser acompanhado por todos".
[caption id="attachment_14070" align="alignleft" width="300"]

Tartaruga de um dos ninhos monitorados pelo Instituto Biota, em Alagoas[/caption]
Outra iniciativa de fôlego do Instituto Biota de Conservação está no processo de educação ambiental de comunidades. Tudo começa com palestras nas escolas públicas e privadas, nas quais são mostrados os efeitos nefastos da poluição sobre a vida marinha. "As tartarugas que escapam de predadores acabam morrendo engasgadas com objetos como restos de bexigas de festa infantil, descartadas de forma incorreta", lamenta.
Uma curiosidade. De acordo com o líder da ONG, no início do século, Maceió abrigou uma das maiores fábricas de pentes da América do Sul. A empresa se orgulhava de utilizar casco de tartaruga como matéria prima. A caça predatória quase levou à extinção da espécie tartaruga-de-pente. Um passado que, ao que tudo indica, parece ter ficado para trás!
SAIBA MAIS SOBRE:
A APA Costa dos Corais
Sobre a atuação do ICMBio
Sobre o aplicativo BiotaMar
Sobre o trabalho da SOS Mata Atlântica
Credito das fotos: divulgação (Rafael Munhoz)
* O jornalista viajou para Pernambuco e Alagoas a convite da Fundação Toyota do BrasilAutor: 1 Papo Reto
Sobre o/a Autor(a) 1 Papo Reto
Últimos artigos: