Accor planta água no Brasil (e no mundo)

Projetos de reflorestamento na serra da Canastra (MG) ajudam a cumprir meta global de plantar 10 milhões de árvoresA cada ano, desde 2010, um clima de excitação toma conta das milhares de camareiras e governantas que trabalham nas bandeiras da rede AccorHotels (Formule 1, Ibis, Novotel, Mercure, Sofitel e Pullman), no Brasil. Isso porque, uma parte delas é escolhida para uma viagem que mistura grandes doses de diversão e consciência ecológica. No final de março, 1 Papo Reto acompanhou o tour de 24 camareiras à região da serra da Canastra, situada no sudoeste de Minas Gerais e famosa por abrigar a nascente do rio São Francisco. Trata-se de uma atividade que tem por objetivo ampliar o nível de engajamento deste contingente nos programas ambientais desenvolvidos pela rede francesa em todo o mundo. Sob o guarda-chuva do programa Plant for the Planet a rede pretende plantar 10 milhões de árvores até 2021. E o Brasil possui um papel de destaque neste desafio. “Hoje são cinco milhões de mudas em todo o mundo, sendo 560 mil na América do Sul”, diz Antonietta Varlese, vice-presidente de comunicação e de responsabilidade social da AccorHotels para América do Sul. O plantio está sendo feito em 25 áreas selecionadas, ao redor do planeta. Por aqui, o destaque é a sofrida serra da Canastra submetida a agressões constantes. O trabalho de campo é feito pela subsidiária da Associação Nordesta Reflorestamento e Educação, baseada e Genebra. Além de cuidar da “produção da água”, a cadeia hoteleira também se esforça para utilizar este recurso de forma inteligente. É neste ponto que entram em cena as camareiras. Afinal, são elas que fazem a coleta das toalhas usadas e têm um contato mais próximo com os hóspedes, na hora da reposição de insumos. As campanhas de conscientização e sensibilização dos hóspedes (instados a usar a mesma toalha mais de uma vez) vêm dando resultado. Uma boa amostra disso é que 60 mil peças deixam de ser trocadas a cada ano, comparando-se com o volume anterior à campanha. A seguir, o relato dos pontos principais desta viagem, acompanhada pela repórter Priscila Estevão*. Dia 1: Rumo ao desconhecido [caption id="attachment_14034" align="alignleft" width="300"] Camareiras, executivos e jornalistas prontos para partir/Divulgação[/caption] Logo ao chegar ao ponto de encontro, na sede da AccorHotels, no bairro de Pinheiros, Zona Oeste da cidade de São Paulo, notei certa timidez por parte das mulheres que integravam o staff de camareiras da rede hoteleira. Um grupo bastante heterogêneo em relação à idade, mas com um sentimento relativamente comum: jamais sonharam em fazer parte deste tipo de viagem corporativa. No total, o grupo é composto de umas 30 pessoas, entre jornalistas, dirigentes da rede hoteleira e o pessoal da assessoria de imprensa e produção. Mas as convidadas de honra são as camareiras. A expectativa em relação ao que viverão ao longo dos próximos quatro dias impregna o ar com um misto de curiosidade e empolgação. Assim que é anunciada a saída do ônibus, muitas delas deixam a timidez de lado e correm em direção ao veículo para pegar o melhor lugar. Na janela, é claro! A interação entre elas aumenta na medida em que vão ocupando os assentos. Logo, a timidez dá lugar à curiosidade sobre a rotina das colegas. "Em qual bandeira você trabalha?”, “Como é o serviço lá?”... Era o que mais se ouvia. Na medida em que a paisagem muda dos prédios e espigões, que ladeiam os rios Pinheiros e Tietê, para uma visão um pouco mais bucólica das margens da rodovia dos Bandeirantes, cresce a animação e a intensidade do papo. Nenhuma delas pensa em tirar uma soneca, mesmo tendo despertado muito cedo para chegar ao ponto de encontro no horário marcado: 06h45. E assim passam as primeiras cinco horas do trajeto ao longo da rodovia dos Bandeirantes, em direção à cidade mineira de Capitólio, distante 475 km do centro de São Paulo. Na primeira parada, eu avalio que já existe clima para deixar de lado a posição de expectadora e integrar mais fortemente com o grupo. Sento ao lado de três camareiras (uma do Rio, outra de São Paulo e a terceira de Florianópolis) e começo a puxar assunto. Descubro que boa parte delas entrou na profissão por necessidade, mas acabou gostando muito do que faz. Decido “pegar leve” na entrevista informal e deixo que o papo flua para temas diversos. Não demora muito para que o tema sustentabilidade entre na conversa. Elas me contam que, por meio de treinamentos e palestras, foram tomando contato com um ambiente novo que fez com passassem a ter uma outra percepção sobre o mundo que as cerca e o impacto da qualidade do meio ambiente no futuro de seus filhos. Neste contexto, entendiam perfeitamente o valor de sua contribuição como “agentes ambientais”, especialmente na preservação e no uso racional da água. Voltamos para o ônibus e a excitação inicial vai dando lugar ao cansaço e o sono é inevitável. O silêncio esporadicamente por uma palavra aqui e ali. O sistema de entretenimento do ônibus "anuncia" a exibição da comédia romântica Meu Passado me Condena, com Fabio Porchat e Miá Mello. Mas é difícil concorrer com a beleza da paisagem ao longo da rodovia MG-050, formada por uma sucessão de montanhas, lagos, fazendas... De repente, a calmaria proporcionada pela paisagem bucólica cede lugar a um novo “surto de excitação” com desembarque no Hotel e Ecoresort Engenho da Serra. O complexo está situado dentro de um cenário que remete muitas das integrantes do grupo a um filme da sessão da tarde: uma paisagem de tirar o fôlego, emoldurada por árvores e lagos. Dia 2: O deslumbramento A programação do segundo dia também começa cedo. Já no café da manhã é possível ver que o entrosamento é total entre o staff de camareiras e também com os demais integrantes do grupo. A informação de que faríamos um passeio de catamarã pelo lago de Furnas volta a deixar as meninas ansiosas. De fato, a paisagem formada por cânions (como o da foto que abre esta reportagem) e uma exuberante queda d'água, deixa boquiaberto mesmo o mais experimentado viajante. Após o almoço regressamos ao hotel para uma tarde livre, na qual muitas aproveitam para explorar o local ou “recarregar as baterias” com uma tarde de sono. Até porque, de acordo com a direção da rede Accor, muitas surpresas ainda estariam por vir. Dia 3: Mãos na massa [caption id="attachment_14033" align="alignleft" width="300"] Funcionárias da AccorHotels no viveiro/ Divulgação[/caption] No café, o clima ainda era de festa devido à farra da noite anterior, na qual tivemos um jantar-dançante no restaurante do hotel, situado à beira do lago. O mote da conversa na maioria das mesas é o viveiro de mudas mantido pela ONG Nordesta, em Arcos, cidadezinha no entorno de Capitólia. Muitas querem saber se será possível plantar alguma árvore após à visita. Bem, as dúvidas e angústias duraram pouco tempo. Após uma hora e meia de percurso, o ônibus para diante do viveiro, onde somos recepcionados por Neuza Falco Galvão, presidente da Nordesta no Brasil, e o engenheiro florestal Claiton Majela. O local nos deixa boquiabertos. É difícil dizer qual das espécies chama mais a atenção. O roteiro do passeio inclui uma preleção sobre o processo de coleta de sementes, a produção de mudas e a transposição delas para o lugar definitivo. Para conferir um caráter ainda mais prático à dinâmica, recebemos algumas dicas sobre a montagem de pequenas hortas em casas ou apartamentos. Tudo acompanhado com atenção pelas camareiras. Ciente de que estará diante de uma audiência formada por leigos, Majela, responsável-técnico pelo viveiro da ONG, explica cada detalhe. Não apenas sobre o processo produtivo, como também acerca dos desafios ambientais vividos pela região. Um deles é o assoreamento das margens de uma nascente, como resultado do uso indevido da terra. Além do desmatamento para abrigar pastagem de gado, as espécies remanescentes foram suprimidas pela ação predatória do capim-braquiária, espécie usada na alimentação do gado e cujo rápido crescimento inibe a proliferação de outras espécies. Remediar é sempre mais complicado do que cuidar. Prova disto é que vamos sair para replantar uma área após quase três anos de processo de reparação. Ao longo da explanação o silêncio toma conta de todo o grupo. Nenhuma das camareiras e demais integrantes do grupo querem perder um detalhe sequer. É evidente o efeito pedagógico deste trabalho de campo. Cada uma das 24 camareiras exibe um brilho intenso nos olhos. Muitas relatam às colegas que se sentem com tendo cumprido uma importante missão. Elas saem da atividade transformadas. Falam em dividir os conhecimentos com familiares, vizinhos e amigos. E garantem que a experiência mudará suas vidas. Neste ponto, o clima de ansiedade e excitação do início, diante do desconhecido, dá lugar a uma verdadeira confraternização de “velhas conhecidas”. Dia 4: De volta ao batente Como se a natureza soubesse nossa partida, o dia amanheceu nublado e se abriu devagarinho. Agora, o clima no café da manhã é diferente. Reina a calma. Todas conversam de forma tranquila e relembram momentos de uma viagem que, para quase todas, permanecerá para sempre na memória. Em vez de ansiedade, vejo um sentimento de gratidão espelhado no olhar de cada um dos integrantes do staff da rede hoteleira. Chega a hora de entrar no ônibus para voltar à realidade. Muitas cochicham que estão com o “coração apertado”. Algumas revelam a intenção de fazer passeio semelhante com a família. Outras lembram da importância de conhecer melhor o ecossistema e de como isso ajuda a construir uma consciência crítica e o desejo de preservar a natureza. Aos poucos, no entanto, reina o silêncio. Muitas das camareiras e integrantes do staff aproveitam para tirar um cochilo, embalados com o balanço gostoso do ônibus. De volta ao ponto de partida, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, noto que muitas já tinham ultrapassado a condição de colegas de trabalho para a de amigas. Amizades forjadas na lida em prol da natureza e no desejo de somar esforços pela preservação de um recurso importante como a água. Afinal, essa viagem teve como efeméride o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março.   O que elas disseram:   "O ideal seria que houvesse mais propagandas a respeito da importância da sustentabilidade. As pessoas acham bobagem economizar porque o Brasil aparenta ter muita água, muito verde e muita natureza. Mas, a verdade é que não é bem assim. Será que vamos ter que perder tudo isso para termos mais consciência?" Marilza Almeida, camareira do hotel Pullman, de Guarulhos (SP)   "Eu não me vejo sem água, ela é vida, é tudo. Antes de entrar na Accor, eu já fazia de tudo para economizar. Agora é que eu faço mais, porque tudo isso é uma coisa muito séria e preocupante. Precisamos poupar. No hotel em que trabalho, os hóspedes são muito cooperativos, é incrível. Claro que sempre tem um e outro (que não colabora), mas nós vamos chegar lá". Claudiana Maria Bernardina, governanta da rede Mercure, em Florianópolis   "É incrível estar aqui. Foi uma surpresa quando minha chefe me contou que fui escolhida para fazer parte dessa viagem, fiquei sem fôlego". Eliane Soares, camareira do Ibis, em Maringá   "Acho muito importante essa ação que a Accor faz, porque ajuda a reduzir os impactos da intervenção do homem no planeta. Antes de trabalhar na rede, eu não fazia questão de fazer coleta seletiva, reciclagem (de resíduos) ou economizar água, mas hoje eu vejo o quanto isso é preciso. Alguns hóspedes não colaboram, principalmente os brasileiros, mas a grande maioria faz questão de ajudar. Isso já me deixa feliz”. Rosimeire Silva, camareira da bandeira Ibis, em Recife   "Eu tenho prazer em participar de um projeto assim, de me sentir valorizada pelo meu trabalho. Pode parecer simples, mas aqui em Minas (Gerais) eu consigo ver que realmente faz a diferença, que tudo isso o que eles falam para a gente é real". Maria Aparecida da Silva, camareira da rede Novatel, em São Paulo         SAIBA MAIS SOBRE: A ONG Nordesta O projeto Plant for the Planet (em inglês) Sobre o Dia Mundial da Água, no Brasil   *A repórter viajou para Capitólio a convite da AccorHotels
Milena Miziara

Autor: Milena Miziara

Sobre o/a Autor(a) Milena Miziara é jornalista. Desde 2019 também atua como sócia-fundadora da marca de frutas Laverani Orgânicos (SP)


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