A gaúcha Saque e Pague aposta na força dos desbancarizados da América Latina

A gaúcha Saque e Pague aposta na força dos desbancarizados da América Latina

O Brasil possui desafios da dimensão de seu tamanho. Especialmente no que se refere à integração de uma expressiva parcela da população que continua à margem de serviços básicos, como água encanada, tratamento de esgoto, internet banda larga e serviços financeiros. Chega a ser difícil de acreditar, mas no país do PIX, sistema instantâneo de transmissão de dinheiro entre contas bancárias, nada menos que 34 milhões de brasileiros ainda não possuem sequer uma conta corrente ou poupança! Pior. De acordo com o Banco Central, existem 2,3 mil municípios que não contam sequer com atendimento de caixa eletrônico, forçando seus moradores a viajar para realizar tarefas simples, como receber aposentadoria ou pagar contas.

Este contingente começou a ser mapeado nos últimos 20 anos, a partir de pesquisasse estudos acadêmicos, que acabaram despertando a atenção de grupos privados do setor financeiro. Especialmente das fintechs, como é o caso da gaúcha Saque e Pague. Criada a partir de uma cisão da Getnet, em 2014, a empresa resolveu apostar na ousadia para se firmar como uma opção aos desbancarizados e ao mercado em geral.

Primeiro desafiando a primazia da rede de autoatendimento 24Horas. Segundo, transformando seus terminais em “ponto de sangria” para os lojistas que precisam reduzir o excesso de recursos em espécie, na caixa registradora. “Nos segmentos onde não há competição o custo é sempre elevado e a qualidade do serviço é ruim”, destaca Givanildo Luz, CEO da Saque e Pague.

Segundo o executivo, a empresa já nasceu com uma “ambição de gente grande”, disposta a resolver algumas das principais dores dos desbancarizados e dos pequenos comerciantes: 1) custo das operações; 2) controle do processo de venda do produto; 3) riscos inerentes às operações. Para isso, a empresa instala terminais de autoatendimento, de diversos formatos, em mercados e lojas de conveniência, por exemplo, nos quais os clientes de 34 instituições financeiras (bancos convencionais, operadoras de cartão de crédito, fintechs e cooperativas) podem realizar depósitos e saques, sem qualquer custo, além de serviços como emissão de cartões de débito e crédito. O lojista tem a possibilidade de fazer depósitos em espécie, reduzindo a disponibilidade de dinheiro vivo em seu caixa.

saque e pague Faria Lima flagship 1 papo retoFlagship da Saque e Pague na Faria Lima (SP)Em seus estudos, o time liderado pelo CEO da Saque e Pague chegou à conclusão de que muitas “dessas dores” de correntistas e comerciantes brasileiros eram comuns em toda a América Latina. Foi a deixa para que a fintech cravasse sua bandeira no México, em 2017, onde já opera em 150 pontos de venda. “Até o final do ano vamos ingressar na Colômbia”, adianta Givanildo. Assim como no Brasil, nesses países boa parte das transações de compra e venda se dão em espécie. Chegam a 80%, no México, e 65%, na Colômbia. “Falam muito que o dinheiro vai acabar em três anos. Eu tenho muitas dúvidas a esse respeito. Basta ver que, no último ano, a circulação de notas e moedas cresceu 30%, por aqui”.

Ao mesmo tempo em que cuida da expansão continental, Givanildo não tira os olhos do Brasil. É aqui que estão sendo articulados novos modelos para expansão da fintech. Um deles é a partir de flagships, pontos de venda que servem de vitrine para os serviços e produtos da Saque e Pague. Não por acaso, o primeiro deles foi aberto na av. Faria Lima, situada na Zona Oeste de São Paulo e considerada o coração financeiro do Brasil.

Quem cuida da unidade é Karen Ferreira, diretora de produtos e marketing da Saque e Pague: “Nosso objetivo é que esse espaço se converta em uma plataforma multisserviços, abrigando eventos, como hackathons (maratonas hacker) e palestras, e funcionando como um coworking para clientes que estejam de passagem pela região.”

Mais do que uma vitrine, a unidade faz parte do esforço de evangelização do mercado acerca da cultura e dos serviços da Saque e Pague. “Nossa meta é abrir entre 10 e 15 espaços semelhantes em cidades-chaves de todas as regiões do país”, destaca o CEO Givanildo. Outro foco de expansão será por meio de parcerias com o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia, instituições federais que cobrem regiões onde vive uma fatia expressiva dos desbancarizados. Para dar conta de todas essas tarefas, a fintech pretende investir R$ 150 milhões neste ano, especialmente em tecnologia. Hoje, em 52 cidades do país, o Saque e Pague é a única opção para serviços bancários e financeiros.