Brasileiro assume comando do Rotary Internacional com a missão de rejuvenescer e ampliar o quadro associativo da centenária ONG

Brasileiro assume comando do Rotary Internacional com a missão de rejuvenescer e ampliar o quadro associativo da centenária ONG

Não sei se você, caro leitor, já reparou uma escultura em formato de engrenagem, instalada em praças ou entroncamentos rodoviários de diversas estradas pelo Brasil afora, com a inscrição “Rotary Club”, seguida do nome do bairro ou da cidade. À primeira vista muitos pensam tratar-se de uma associação de amantes de motores. Tem aqueles que relacionam o símbolo a uma entidade religiosa. A maioria, porém, não faz a mínima ideia do que se trata. O mesmo acontece em muitos outros países, apesar de a ONG internacional de serviço comunitário ter participado de marcos históricos importantes, como a presença nos debates de criação da Organização das Nações Unidas (ONU), representando a sociedade civil; e de ter liderado a campanha de erradicação da poliomielite, patrocinado a capacitação profissional de mulheres e apoiado a implantação de cooperativas de reciclagem no Brasil.

E é exatamente esse o principal desafio do empresário Mário César Martins de Camargo, 68 anos, que assume, em julho, a presidência do Rotary Internacional, entidade fundada em 1905. “Minha prioridade é rejuvenescer o quadro de associados, atraindo um número maior de homens e mulheres na faixa entre 28 e 48 anos, que concentra desde pessoas que estão formando famílias, até aquelas que já se tornaram líderes em sua área de atuação”, explica. Hoje, a idade média dos 1,2 milhão de associados é de 62 anos.

Quarto brasileiro a liderar a ONG, Mário César parece ter sido talhado para a tarefa. Filho de rotarianos, desde muito cedo ele acompanhou os pais nas atividades do clube – como são chamadas a unidades do Rotary – de Santo André (SP), sua cidade natal. No entanto, sua associação veio apenas em outubro de 1980, aos 23 anos, quando ingressou na empresa da família, a Gráfica Bandeirantes, após concluir o curso de administração, na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na época, a gráfica instalada em São Bernardo do Campo, maior polo industrial do ABC, na Região Metropolitana de São Paulo, já era reconhecida como principal fornecedora de manuais automotivos. Contudo, era preciso seguir avançando e se adaptar aos novos cenários trazidos pelo mundo digital.

Mario Cesar Rotary 1 papo reto valeO paulista Mário César será o quarto brasileiro a comandar o Rotary InternacionalFoi aí que se deu a principal contribuição da segunda geração. A agenda assoberbada com atividades de voluntariado social e a graduação em direito, na  FDSBC (Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo), não impediu que o empreendedor ajudasse a implantar projetos que colocaram a empresa na vanguarda do setor, em nível nacional. A lista inclui a criação de um sistema de conexão com o Banco Central (BC) para impressão de listas de cheques sem fundos – utilizada pelos comerciantes para se prevenir de maus pagadores –, e a parceria com a Microsoft para instalar a primeira injetora de CD-ROM no Brasil. A Gráfica Bandeirantes também foi pioneira em impressões de pequenas tiragens, no mercado digital. À carreira empresarial e social foram adicionados encargos setoriais como a diretoria da Abigraf, entidade que reúne as empresas do setor, e da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

COP30

E é a partir deste apetite por inovação, da experiência em órgãos associativos, da facilidade em se comunicar em diversos idiomas (é fluente em inglês, espanhol e italiano) e do desejo de continuar servindo à sociedade (Mais se Beneficia quem Melhor Serve, como prega o lema da entidade) que ele traçou um plano quinquenal para sua gestão à frente do Rotary Internacional. Para dialogar com jovens líderes sociais e empresariais serão realizadas campanhas de divulgação nas redes sociais. Além disso, a entidade vai reforçar sua presença em fóruns internacionais que discutem pautas que estão na agenda deste contingente. No Brasil, a prioridade é a COP30, principal evento sobre sustentabilidade ambiental e socioeconômica promovido pela ONU, que acontece em novembro, em Belém.

“Por muitos anos, o Rotary se manteve como uma entidade quase fechada e que atuava nos bastidores, sem nenhum  interesse em divulgar suas atividades. Hoje, com a competição maior entre as ONGs pela atração de voluntários, decidimos mudar nossa postura”, conta. A COP30 é o ponto crucial da agenda de 2025 em um dos países-chave da entidade, no qual conta com 51 mil associados reunidos em 2,8 mil clubes, espalhados por 1,1 mil cidades. Números que fazem do Brasil o líder no continente e a quinta potência do universo rotariano, num ranking liderado pelos Estados Unidos, com 270 mil integrantes.

Poderia ser ainda maior, se os jovens que passaram por programas de formação cidadã, como o Rotaract, e aqueles que receberam bolsas para intercâmbio educacional no exterior se tornassem rotarianos ao final da jornada. Mas não é o que acontece. Dados da entidade apontam que a taxa de retenção é de 5%, ou seja: de cada 20 participantes/beneficiados apenas um deles se filia ao Rotary. Diversos fatores explicam esse gap. Um deles é a imagem de “ONG de velhos” na qual os mais novos não teriam voz ativa. Outro é a rigidez dos regulamentos, que exigem presença constante em eventos calendarizados. 

Mesmo antes da posse de Mário César já havia um movimento destinado a flexibilizar as regras, incluindo a participação remota em reuniões, e outro destinado a oxigenar o quadro associativo. Para cumprir a meta de fechar a década adicionando cerca de 100 mil associados, o empreendedor diz que pretende concentrar seus esforços nas regiões emergentes do sul global, como a Índia e o continente africano, que possuem elevada densidade populacional e/ou um número expressivo de jovens. “Hoje, nos países da Europa, como Reino Unido, e nos Estados Unidos a taxa de crescimento é negativa”, dIz.