Também expandiram as histórias de brutalidade, egoísmo e falta de respeito, apesar de serem nossas velhas conhecidas. Nada de novo neste novo normal. A única mudança talvez é que estamos todos mais sensíveis e fragilizados.
Esta semana, um exemplo de falta de respeito me atingiu diretamente. As árvores que plantamos no sítio para formar uma barreira e evitar que o agrotóxico pulverizado nos pomares dos vizinhos chegue às nossas plantas foram destruídas. Tal ato, coloca em risco a certificação orgânica do sítio da minha família.
As barreiras, também conhecidas como cerca viva, são uma das práticas exigidas para obtenção da certificação orgânica. Além de proteger as plantas de possíveis contaminações por agrotóxicos, são uma proteção contra insetos e doenças.
Escolhemos para formação da cerca viva um eucalipto chamado Corymbia Tolleriana. Uma espécie que pode chegar a até 10 metros de altura e que possui galhos curtos, mas com densidade de folhas suficiente para formar uma barreira bem fechada. As mudas foram plantadas dentro dos limites do sítio da minha família, a uma distância de dois metros da divisa para que os galhos não invadissem a propriedade vizinha. Pela legislação de divisas de propriedades rurais, elas poderiam ter sido plantadas exatamente na divisa, como forma de marcação de território.
Resultado da depredação no Sítio Laverani Orgânicos
Hoje, elas não cumprem sua função com eficiência. Estão doloridas e cheias de falhas.
E a pergunta que fica é: o que leva uma pessoa a destruir o trabalho de outra? A agir sorrateiramente em um domingo, quando não tem ninguém por perto?
Seja quem foi que tenha feito isso ou a sua motivação, escolheu inclusive o início do período de seca, em que provavelmente as plantas não terão capacidade de se recuperar, mesmo que sejam irrigadas. Árvores que foram cuidadas com carinho. Adubadas, capinadas e irrigadas a mão até se tornarem adultas. Não é fácil cuidar de um sítio orgânico. Se você piscar o mato toma conta e prejudica o desenvolvimento das plantas. Exige dedicação, trabalho árduo.
Um ato desses não chega nem perto de atos de brutalidade como o que aconteceu com o menino Henry Borel Medeiros, de 4 anos, que chegou morto ao hospital com sinais de violência; ou à criança que era mantida pela mãe, nua e desnutrida, dentro de um barril. Mas é dolorido quando somos atingidos tão duramente por humanos que não são tão humanos assim.
