O perigo ronda a comunidade LGBTQIA+ nos Estados Unidos, especialmente por conta da ação de autoridades como o governador da Flórida, Ron DeSantis, um político ultraconservador, como Donald Trump, e que está na corrida pela indicação do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2024. Na comunidade LGBTQIA+, DeSantis é mais conhecido pela lei apelidada “Don’t Say Gay” (Não Diga Gay), assinada em 2022, para restringir o ensino de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas da Flórida.
Em maio, ele expandiu as restrições trazidas por esta lei e assinou outras três que restringem performances drag, a circulação de pessoas trans em espaços públicos (como banheiros e vestiários de acordo com o gênero com o qual se identificam) e a transição de gênero para menores de 18 anos.
No mês de celebração da resistência e direito à liberdade de ser quem se é, os Estados Unidos estão às voltas com um grande retrocesso nos direitos da comunidade LGBTQIA+. No país no qual as pessoas adoram se gabar da liberdade de expressão, vivenciamos contraditoriamente exemplos nos quais grupos de radicais encontram espaço livre para pregar o ódio e tentar impor sua visão de mundo aos demais. Ao que parece, a empatia e o poder de escolha foram riscados do vocabulário!
E isso pode ser comprovado a partir do recorde de propostas de lei estaduais que visam restringir direitos da comunidade LGBTQIA+ em comparação aos cinco últimos anos, de acordo com a organização Human Rights Campaign. Foram de cerca de 520 leis, das quais mais de 220 têm como alvo pessoas transgênero e não-binárias. Destas, 70 foram aprovadas até maio, e pregam a censura à educação inclusiva em escolas e performances de drag queens, além de restringirem cirurgias de transição, entre outros. Já a organização American Civil Liberties Union, também defensora dos direitos da comunidade, acompanha a tramitação de 491 leis neste ano. Até o dia 9 de junho, 202 haviam sido derrubadas, 209 avançaram, 77 foram aprovadas e três foram propostas, mas ainda não discutidas.
Na prática, essa “liberdade de expressão” concedida aos radicais põe medo em quem luta pelo próprio direito de existir , em espaços públicos. No dia 18 de junho, uma drag queen estava se preparando para receber crianças para uma tarde de contação de histórias em um café na cidade de Concord (New Hampshire), quando homens de boné e lenços amarrados no rosto apareceram para protestar em frente ao estabelecimento, fazendo a famosa saudação nazista enquanto gritavam. Os autores da intimidação não se furtaram em declarar abertamente que pertenciam a um grupo nacionalista, a reportagem do The Boston Globe. De acordo com o jornal, ninguém foi preso, mas o governo disse que estava investigando o acontecido.
Bandeiras do movimento LGBTQIA+ decoram a igreja Old South, em Boston, conhecida por acolher minorias E a intolerância não vem somente da parte dos adultos. No dia 2 de junho, um grupo de estudantes de uma escola pública de ensino fundamental em Massachusetts organizou um evento e uma campanha educacional com cartazes a favor da comunidade LGBTQIA+, convidando colegas e funcionários a usarem roupas coloridas. Mas os alunos que não concordavam com a causa arrancaram alguns cartazes e fizeram um protesto em resposta, usando roupas com as cores da bandeira americana e gritando “EUA são os meus pronomes!”
Interessante ver que os grupos radicais e outros que destilam preconceito contra quem é diferente o fazem em nome pelo “bem dos Estados Unidos” e com a justificativa de estar “protegendo a nação”. É neste instante que eu me pergunto como alguém pode ser tão violento em nome do amor ao país.
As manifestações de ódio e os protestos contra a comunidade LGBTQIA+ não se restringem a junho. Mas é no mês do Orgulho LGBTQIA+ que as ações se intensificam. Por isso, mais do que nunca, esse é um mês simbólico, pois lembra um episódio de resistência, ocorrido no bar Stonewall Inn, em Manhattan, em 1969. Na época, ser homossexual era considerado ilegal no estado de Nova York. Conhecido point da comunidade, o bar, que segue funcionando até hoje, era atacado mais ou menos uma vez por mês pela polícia, que agredia seus frequentadores.
No dia 28 de junho, policiais vieram como de costume. Era a segunda vez que apareciam no estabelecimento naquela semana. Cansada, a clientela resolveu enfrentar a polícia. Por seis dias, eles protestaram na frente do bar, denunciando a brutalidade policial e a violência chancelada pelas autoridades.
O caso ganhou visibilidade na mídia e entrou para a história. Um ano depois, a primeira Parada Gay da cidade comemorou o aniversário dos protestos, e desde então, ela acontece anualmente. Um símbolo das tantas batalhas constantes pelo espaço de se ser quem se é.
