Quando criança, o arquiteto e urbanista Marcelo Falcão, 36 anos, costumava percorrer as ruas do Centro da cidade São Paulo. Nestas andanças, ele conheceu praticamente cada ponto de lazer entre os bairros da Barra Funda, onde nasceu e ainda mora, e Santa Cecília. Um de seus mais recorrentes companheiros de aventuras era Pedro Ichimaru, colega de escola. Decorridos cerca de 30 anos, Marcelo continua caminhando pelas ruas da cidade. Só que em vez de buscar locais para se divertir, ele está interessado mesmo é em prospectar oportunidades de negócios para a Somauma Incorporação e Desenvolvimento Imobiliário.
Ao lados dos sócios Vitor Penha e Pedro, o colega dos tempos de escola primária, Marcelo aposta na técnica do retrofit como uma alternativa viável para revalorizar e requalificar a região central. “Somente entre a Vila Buarque e a Praça da República estão sendo investidos cerca de R$ 1 bilhão em novos empreendimentos e projetos de restauração, em diversos níveis”, destaca.
Todos muito bem-vindos, sem dúvida. Afinal, o Centro Expandido amarga fortemente os impactos socioeconômicos trazidos pela pandemia, como o aumento da população em situação de rua e da violência. Os casos de furtos e roubos de aparelhos celulares, por exemplo, são recorrentes no noticiário. Mais. As constantes ações da Polícia Militar e da Guarda Civil na região conhecida como Cracolândia, perto da Estação da Luz, acabaram por criar inúmeras zonas de consumo de drogas por diversos pontos da área central.
Esse cenário, no entanto, não parece arrefecer o interesse dos sócios da Somauma. “A violência e a falta de zeladoria são problemas comuns a quase todos os bairros”, pondera. “Independentemente disso, as pessoas continuam tendo de morar e viver na cidade.” E é a partir dessa percepção que ele acredita ser possível interromper o esvaziamento da região central.
Afinal, é lá que se concentra uma das maiores ofertas de equipamentos de transporte (metrô, trem e ônibus), lazer (parques, casas de shows e restaurantes) e cultura (teatros, bibliotecas e escolas) de toda a cidade. Some-se a isso o fato de existirem cerca de 1,5 mil imóveis vazios ou subutilizados. “Não faz sentido ter todos esse patrimônio construído no centro e muitos paulistanos não terem onde morar”, diz.
Os sócios da Somauma já identificaram 140 edifícios com potencial para passar pelo processo de retrofit. Seus empreendimentos são focados em famílias com renda média ou média alta. Desde sua fundação, no final de 2019, a empresa já investiu R$ 100 milhões na requalificação de três edifícios. Outros dois imóveis, que totalizam 450 apartamentos, deverão ser entregues até o final do ano.
Além da necessária engenharia financeira (Marcelo e seus sócios trabalham basicamente com capital de risco aportados por fundos de investimentos), cada negócio exige um complexo estudo jurídico (para desatar amarras sucessórias ou pendências tributárias) e um olhar holístico. “A cada lançamento nós criamos uma equipe de trabalho responsável por dialogar com moradores, comerciantes e outros grupos existentes no entorno do prédio”, conta.
A cidade mais sustentável do mundo
Esse aprendizado ele diz ter trazido dos estudos que fez sobre o tema em cidades como Boston, nos Estados Unidos, e Vancouver, no Canadá. Na primeira, ele desembarcou como turista ao lado da então namorada, Ana Beatriz, com quem se casou anos depois. Na época, Marcelo trabalhava como corretor de imóveis. “Fiquei tão impressionado com os edifícios de Boston que, quando voltei ao Brasil, resolvi me matricular na faculdade de arquitetura”, conta.
A estada em Vancouver, considerada uma das cidades mais sustentáveis do mundo, se deu num contexto de busca pela consolidação de conceitos modernos de urbanismo. Lá, o sócio-fundador da Somauma passou dois meses conhecendo projetos de ocupação do espaço urbano que valorizam a diversidade, a convivência e a sustentabilidade ambiental.
Antes de criar a Somauma, Marcelo fez estágio na construtora Idea Zarvos e cofundou a Open 11, focada em projetos arquitetônicos e loteamento, e o Térreo Virgínia, um misto de hub de inovação, galeria de arte e espaço de entretenimento.
Uma curiosidade: o nome da empresa é derivado da árvore símbolo da Amazônia, a sumaúma, considerada uma árvore sagrada na América do Sul e na África, capaz de atingir 70 metros e altura e cujas raízes se espalham por vastas extensões, irrigando outras espécies.
