Toda terceira segunda-feira de abril, a cidade de Boston recebe milhares de pessoas para sua maratona. Neste ano, mais de 30 mil, vindos de 120 países, marcaram presença no evento, de acordo com os organizadores da prova. Destes, mais de 600 eram brasileiros, segundo reportagem de O Globo. Considerada a maratona mais antiga do mundo pelo Guinness World Records, a corrida é o principal evento da cidade. Uma boa amostra disso é que a linha de chegada, situada em frente à biblioteca municipal, permanece pintada o ano inteiro!
Há duas semanas da corrida, parece que a cidade entra em um surto coletivo: vários corredores tomam as calçadas e, no fim de semana antes da corrida, tudo lota. O trânsito fica caótico e se torna difícil conseguir reserva em restaurantes ou encontrar vaga nos hotéis.
Mais do que as anteriores, essa edição, de número 127, vencida pelo queniano Evans Chebet (na foto que abre esse texto), foi especialmente importante para Boston. Foi a primeira vez na história do evento em que atletas não-binários ganharam sua própria categoria competitiva, de acordo com o site da corrida. Em meio a uma onda de leis anti-LGBTQIA+ em todo o país, os organizadores da maratona abriram esse espaço de acolhida. De acordo com a ONG União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), um total de 469 leis, que restringem desde o acesso a documentos pessoais com nomes inclusivos até educação sexual inclusiva nas escolas, estão em discussão nos governos estaduais americanos.
Mas acima disso, essa foi uma maratona muito emotiva para a cidade. Há dez anos, no dia 15 de Abril de 2013, duas bombas explodiram perto da linha de chegada, matando três pessoas: uma estudante de 23 anos, uma mulher de 29 anos e um menino de 8 anos, de acordo com a agência Associated Press. Pelo menos outras 260 pessoas também foram feridas durante o ataque, e dois policiais morreram em embate com os criminosos, de acordo com a agência e a polícia de Boston.
Até a comunidade brasileira local foi diretamente impactada pelo ataque, de acordo com o Brazilian Times, periódico sobre os brasileiros e imigrantes nos EUA, editado em português. Alguns brasileiros viviam na área onde os terroristas foram procurados pela polícia e o FBI bateu em suas portas à procura dos criminosos, contou ao jornal a líder de uma ONG local. O medo foi tanto que eles receberam acompanhamento psicológico por causa do episódio.
Há 10 anos, atentado deixou um rastro de mortos e feridos, em Boston / Foto: Agência Brasil
Os Estados Unidos vêm sofrendo uma alta de ataques em massa, de acordo com a Associated Press. Até o dia 21 de abril, 88 pessoas morreram em 17 tiroteios, o maior número desde 2009. De escolas a eventos para idosos, atiradores abrem fogo, atacando os presentes. Uma certa ansiedade paira no ar durante grandes eventos e entre pais e professores: “e se alguém resolver entrar atirando?”. Nas escolas, departamentos de polícia fazem simulação de tiroteios para que crianças e funcionários estejam preparados.
Em meio as ansiedades, o racismo transparece. Durante a edição da maratona neste ano, atletas negros de um clube de corrida acusaram a polícia de reforçarem o policiamento em torno deles, enquanto torciam para seus colegas que passavam, de acordo com o jornal The Boston Globe. É comum durante o evento que as pessoas estendam as mãos para que os corredores façam high five, o gesto de toque que mãos quando falamos “toca aqui” em português. E esses atletas afirmam ter sido impedidos de fazer o gesto porque policiais se postaram em fila entre eles e os corredores.
Ainda assim, o lema Boston Strong (Boston Forte), citado em todas as edições da Maratona de Boston desde o atentado, teve um significado ainda mais relevante este ano. Várias homenagens aos mortos e sobreviventes marcaram essa edição. Tanto nas redes sociais como nas ruas, a cidade se uniu para confortar as famílias dos que se foram. Em meio a tragédia, o evento continuou sendo feito na cidade com a alegria e a energia que sempre teve.
