De celebridades, como Tite, a pessoas comuns: os casos de depressão explodem no Brasil

De celebridades, como Tite, a pessoas comuns: os casos de depressão explodem no Brasil

Durante muitos anos, os episódios de depressão, estresse, ansiedade e outras doenças mentais foram considerados casos menores dentro das empresas. Muitas vezes, essas doenças eram classificadas como “frescura”. Felizmente, a sociedade brasileira evoluiu a ponto de personalidades bem-sucedidas em diversas áreas, como o DJ Alok, o falecido jornalista Ricardo Boechat e mais recentemente o técnico Tite (foto), admitirem sofrer de depressão. Essas “doenças silenciosas” afetam a todos os brasileiros, independentemente da classe social. E é isso que indica o estudo recém-divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), referente ao período 2023-2024 e no qual foi registrado um crescimento de 134% nos afastamentos do trabalho por conta de saúde mental, pulando de 201 mil para 472 mil episódios. 

Entre os casos, destacam-se eventos referentes aos efeitos de estresse (28,6%), ansiedade (27,4%), episódios depressivos (25,1%) e depressão recorrente (8,46%). A participação percentual de diferentes setores econômicos nos afastamentos por incapacidade temporária acidentárias se alterou significativamente ao longo da série histórica. No setor bancário, por exemplo, o total de casos de afastamento relacionados à saúde mental atingiu 9,3%, em 2012, e alcançou o patamar de 20%, em 2024. Já no comércio varejista de mercadorias (hipermercados e supermercados) saltou de 3,9%, em 2012 para 5,6% do total, em 2024. Os profissionais de saúde também se destacam em números de caso, partindo de 1,2%, do total de 2012, para 10,2%, em 2024. É evidente supor que a sobrecarga gerada pela Covid-19 tenha sido um importante catalisador deste processo.

No âmbito governamental, tem havido ajustes para enfrentar a questão. Uma das providências foi a atualização da Norma Regulamentadora n.º 1, do MTE, para inclusão da obrigatoriedade de avaliação de riscos psicossociais no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). A mudança destaca que riscos psicossociais, como estresse, assédio e carga mental excessiva devem ser identificados e gerenciados pelos empregadores como parte das medidas de proteção à saúde dos trabalhadores.

“É preciso internalizar que o investimento em saúde é um ganha-ganha para as pessoas, para as famílias, para as empresas e a sociedade como um todo. O investimento na promoção da saúde mental beneficia toda a sociedade, porque promove ambientes de trabalho seguros e saudáveis, minimiza a tensão e os conflitos e melhora a fidelização do quadro de pessoal e o rendimento e a produtividade do trabalho,” disse o diretor do Escritório da OIT para o Brasil, Vinícius Pinheiro. “No entanto, a discussão sobre saúde mental continua sendo um tabu no mundo do trabalho globalmente. Por isso, é importante apoiar a prevenção de riscos, proteger e promover a saúde mental no trabalho e apoiar as pessoas com problemas de saúde mental, para que elas possam participar e prosperar no mundo do trabalho. Investimento e liderança serão fundamentais para a aplicação das estratégias e dos princípios e direitos fundamentais do trabalho.”, acrescentou Pinheiro.

Embora o trabalho decente possa ser um fator protetor para a saúde mental, ambientes de trabalho inseguros ou insalubres, caracterizados por riscos psicofisiológicos e sociais – como ruído, altas demandas e assédio – podem prejudicá-la significativamente. Estimativas da OIT apontam que a prevalência de transtornos mentais na população ativa chegou a 15% (2019) e os enormes custos associados à consequente perda de produtividade alcançam US$ 1 trilhão anualmente.

No geral, a OIT indica que os afastamentos causados por doenças e acidentes de trabalho representam perda média anual de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No caso específico do Brasil, essa porcentagem equivale anualmente a cerca de R$ 468 bilhões, levando-se em conta o PIB de R$ 11,7 trilhões, registrado em 2024. Em números acumulados desde 2012, o prejuízo econômico pode chegar a R$ 5 trilhões, cerca de metade do PIB anual do Brasil em números de hoje.

 

Com informações da ONU Brasil

Para saber mais, siga @oit_brasil nas redes e visite a página da Iniciativa SmartLab de Trabalho Decente