Idadismo, etarismo, ageísmo. A nomenclatura pode mudar, mas o conceito é o mesmo: preconceito e discriminação contra os mais velhos. É sobre isso que trata o recém-lançado Pequeno Manual Anti-Idadista, obra do coletivo Velhices Cidadãs, que reuniu 43 especialistas de diferentes segmentos atuantes na temática do envelhecimento, para contribuírem com suas vivências e expertises sobre o tema. O manual, com 155 páginas, está disponível para baixar gratuitamente, trazendo informações robustas, abrangentes e sob diversos pontos de vista, merecendo a atenção da sociedade, profissionais, empresas e governo na agenda de combate ao idadismo e na ampliação de oportunidades para um envelhecimento digno e empático.
Refletir sobre maturidade saudável é uma necessidade premente. Só no Brasil, são cerca de 34 milhões de idosos (IBGE) e, segundo dados da ONU, a proporção de pessoas acima de 60 anos no mundo tende a duplicar nas próximas décadas, alcançando a marca de 2 bilhões até 2050. Razão suficiente para que esses estereótipos sejam revistos com carinho e atenção.
“O idadismo é um preconceito que atinge a todos, independentemente de classe social, orientação sexual, raça ou etnia. Tanto pode prejudicar pessoas pobres – os julgados “dispensáveis”, que foram excluídos da sociedade ao longo da vida – como o CEO de uma multinacional poderosa ou influentes mandatários políticos. Todos nós podemos ser preteridos simplesmente por sermos considerados “velhos demais”, resume o médico-gerontólogo Alexandre Kalache, referência nacional e internacional em assuntos do envelhecimento.

Este manual discorre desde como surge o preconceito em relação à idade, passando pela violação dos direitos humanos, pela dificuldade no mercado de trabalho, violência e negligência, acessibilidade e mobilidade, solidão, educação, comunicação, sexualidade entre outras tantas situações onde o idadismo se faz presente. E, pasmem! Quem já não praticou o auto-idadismo referindo-se a si mesmo com frases do tipo: “Não tenho mais idade pra me aventurar nessa vibe”; “não gosto de revelar a minha idade”; “estou gorda e flácida e não quero frequentar a piscina” etc.?
No entanto, há de se considerar que existe uma “luz no fim do túnel” em alguns cenários. Cada vez mais, as gerações 50+ estão provando que continuam dispostas, ativas, atualizadas e, inclusive, prontas para o mercado de trabalho. Dezenas de empresas estão sendo contempladas com o selo “Age-Friendly” (algo como “Empregador Amigo dos Trabalhadores Maduros”), por desenvolverem programas de diversidade etária e inclusão, valorizando a cultura intergeracional no ambiente corporativo, o que denota um olhar cuidadoso para quem ainda tem muito a contribuir. No Brasil, essa certificação é representada pela Maturi, plataforma focada em diversidade etária e oportunidades para o público sênior.
Vale ilustrar também nesse contexto, a escolha pertinente do tema “Perspectivas acerca do Envelhecimento na Sociedade Brasileira” para a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano. Se até então os mais jovens não tinham ideia das situações corriqueiras vividas pelas pessoas idosas, certamente, a partir de agora, o radar estará bem ligado em busca de informações mais apuradas sobre esse universo.
A mensagem que fica desse Pequeno Manual Anti-Idadista é que não basta não ser idadista, é preciso fazer mais e levantar a bandeira do anti-idadismo. “O idadismo é um ataque à humanidade. Ser anti-idadista é um compromisso de autoeducar-se, de estarmos dispostos a denunciar a discriminação onde quer que a vejamos e ser intransigente em nossa demanda por dignidade plena e cidadania para todos em todas as fases da vida”, argumenta o doutor Kalache.
IMPORTANTE:
Ao presenciar algum tipo de preconceito e violência contra a população idosa, DISQUE 100 (Disque Direitos Humanos, disponível 24 horas, diariamente, e anônimo).
Baixe o “Pequeno Manual Anti-Idadista” aqui.
