“Eu já estou com o pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê, sei que nada será como antes amanhã ...” (trecho da música Nada será como antes, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos). O pé na estrada, não. Mas sim, a bicicleta do geógrafo e educador socioambiental e climático Leandro Costa, carioca de 50 anos, rumo a COP30, em Belém do Pará, numa travessia de longo percurso que levará 50 dias, 3.500 km, cruzando seis estados (RJ, MG, GO,TO, MA, PA). A largada foi dada em 21 de setembro, no Rio de Janeiro. A COP30 realiza-se no período de 10 a 21 de novembro, com a presença de governantes, delegações e visitantes do mundo todo para discutir as mudanças climáticas, sustentabilidade ambiental e responsabilidade social. Muito assertivo escolher a bicicleta, o meio de transporte limpo, neutro em carbono e sustentável, para chegar ao seu destino.
A expedição “Margeando Rios – da Rio 92 à COP30”, mais do que uma aventura, tem um propósito nobre. Em suas paradas pelas cidadezinhas do interior desse imenso Brasil, o ativista programou vários encontros e dinâmicas em escolas, quilombos, aldeias e coletivos urbanos para promover oficinas e rodas de conversa, a fim de levar a essas comunidades a mensagem e o entendimento do que é a COP30.
“A educação ambiental e climática não existe na grade curricular das escolas. Quero estimular que essas pessoas façam a COP dentro de seus territórios, com seus conhecimentos locais para que entendam como estão sendo impactadas pelos eventos climáticos extremos e como isso afeta as suas rotinas”, argumenta o educador. “O acolhimento da população é sempre muito bom quando falo que estou vindo do Rio e indo para Belém, principalmente se os encontros surgem de forma inesperada. São as melhores trocas de conversas”, complementa.
A jornada
Para essa extensa jornada, o condicionamento físico foi fundamental. Desde o ano passado, quando decidiu investir nesse projeto, Leandro se preparou, aumentando o ritmo de treinamento, pedalando em percursos maiores e com cargas mais volumosas para dar conta dos 3.500 km que teria pela frente.
Ciclista Leandro Costa durante atividade com estudantes em escola do Rio de JaneiroA bicicleta escolhida foi a Caloi Aluminum 1994, 21 marchas – que já está com ele há mais de 30 anos - sua grande parceira nessa empreitada enfrentando calor, frio, vento, chuva e margeando rios, estradas, vias urbanas, florestas e cachoeiras.
Na garupa, uma bagagem “enxuta” e algumas ferramentas para eventuais reparos de manutenção da bike, como câmaras de ar, por exemplo. Lembrando que, nessa altura da expedição, os pneus já foram trocados e os antigos enviados para reciclagem.
O seu planejamento consiste em pedalar de 4 a 6 horas por dia, percorrendo cerca de 80 km, em média – às vezes um pouco mais. Costuma sair sempre pela manhã e seguir pedalando até o começo da tarde, quando então visita os colégios e as comunidades para falar sobre educação socioambiental.
Em seu trajeto diário, adota uma alimentação natural e que lhe forneça uma saciedade adequada, uma boa hidratação e reposição de eletrolíticos (minerais para manutenção do equilíbrio hídrico do corpo, recomendado para quem pratica atividade física intensa). De noite, descansa em pousadas ou camping ( a barraca faz parte da bagagem).
Na opinião do ciclista, o trânsito revela-se o principal risco num percurso como esse e o cuidado deve ser constante. Em sua logística de navegação, ele procura pedalar em estradas paralelas, sem tanto tráfego. Algum problema de saúde pode também ser um agravante no meio da rota ciclística. Felizmente, tudo está seguindo em ordem nesse primeiro mês, já com a metade da meta cumprida.
Questionado sobre o que é mais relevante: o caminho percorrido ou a chegada? O educador é enfático: “Ambos. Sem o caminho eu não teria subsídios para falar de emergência climática nos territórios visitados”.
Durante a COP30, o projeto “Margeando Rios – da Rio 92 à COP30” será mostrado em um painel digital e outras apresentações, divulgando a realidade das localidades percorridas e a interação com a sua população.
A expedição conta com o apoio do Comitê Piabanha (Organização de Proteção Ambiental – Petrópolis –RJ), dos consulados da Bélgica e dos Países Baixos (Holanda), no Rio de Janeiro.
Com esse trabalho sensível, educativo e transformador, certamente “nada será como antes amanhã”, parafraseando a música citada no início dessa matéria. É o que se espera.
Boa viagem!
Para acompanhar Leandro Costa em cada etapa dessa expedição, siga o ciclista no @margenado_rios
