Conheça Nadia Léauté, a empreendedora que lança pontes entre as diversas tribos para quebrar barreiras socioeconômicas

Conheça Nadia Léauté, a empreendedora que lança pontes entre as diversas tribos para quebrar barreiras socioeconômicas

Em sua página no LinkedIn, a empreendedora, ativista social, cool hunter e cientista social Nadia Léauté Legrix, 40 anos, resume sua longa e intensa trajetória no mundo do trabalho em apenas 160 palavras. Pouco, muito pouco para dar conta da rotina de uma mulher multitarefa e que vive ligada no 220V. À frente da consultoria Blend Inspire, fundada em 2019, ela vem lançando pontes entre empresários, executivos de grandes corporações, makers, artistas de rua e ativistas ambientais e sociais.

E para contar todas as histórias que ela protagonizou seria preciso escrever um livro. E esta obra, necessariamente, teria como ponto de partida sua vivência no campi das universidades Sorbonne e Sciences Po. “Eu cresci em meio ao blend cultural e racial de Paris”, conta em um português perfeito, mas ainda permeado por um leve sotaque. “E isso ficou ainda mais intenso na faculdade na qual cursei ciência política, onde convivia com pessoas oriundas de diferentes lugares e pertencentes a diversas classes sociais”.

A Paris da virada de 1999 para 2000 tinha como trilha sonora os ritmos afros, com destaque para o reggae e o emergente rap, difundido nas garages e quadras esportivas dos conjuntos residenciais situados sobretudo na periferia de Paris, Marselha e Lyon. Nadia explica que boa parte do tempo livre, inclusive as férias, era dedicado a imersões nas cozinhas das moradias estudantis. “Lá, não importava seu sobrenome ou sua classe social, mas sim o seu posicionamento político e a sua visão de mundo”. 

A trilha sonora majoritária destes encontros gastronômicos-musicais políticos incluíam desde o rap americano até os expoentes da cena francesa, como as bandas IAM e NTM e os MC´s Casey, Rocé, La Rumeur e Sheryo. Muitos dos quais eram porta-vozes do gênero gangsta, com letras carregadas de denúncias contra a brutalidade policial.

Nadia, durante evento no Mula PretaApesar de nunca ter perdido de vista os valores sociais e políticos, Nadia precisou dar uma pausa em sua porção ativista quando ingressou no mercado de trabalho. Primeiro na agência de publicidade Narun e depois na L´Oreal, onde comandou as áreas de marketing de grifes estratégicas: Yves Saint Laurent e Helena Rubinstein.

Nadia corporativa X Nadia do hip hop

Em 2010, após uma rápida passagem pelo México, onde trabalhou para a L´Oreal, Nadia e o marido, Hubert, decidiram dar uma guinada em suas vidas e apostar no Brasil. O primeiro emprego foi como executiva de marketing da subsidiária da Pernod Ricard, para a região Nordeste. “Me encantei com o carnaval, a alegria e a empatia típica dos brasileiros”, lembra. E foi este caldo de cultura que acabou fazendo com que essa francesa-brasileira decidisse fincar raízes por aqui.

A passagem por subsidiárias de gigantes globais do luxo (LVMH Fragrance Brands e Rolex) teve seu ponto final em 2019, quando Nadia optou por abraçar o empreendedorismo. “Havia um conflito dentro de mim. Apesar de gostar do que fazia, sentia que poderia ir muito além se atuasse de forma independente.” Foi aí que nasceu o Blend Inspire, uma consultoria que ajuda na construção da cultura corporativa, a partir de vivências relacionadas à tábua de Missão, Visão e Valores.

A lista de clientes inclui potências como Nestlé, Intel, Pernod Ricard, Claro, Natura e Assai Atacadista. A partir de programas como Blend My Soul e Blend My Culture, Nadia e sua equipe atuam no engajamento dos funcionários e no fortalecimento dos atributos de marca. “Atuei por 15 anos em grandes empresas e vi que, muitas vezes, a falta de oxigenação do mundo corporativo é um dos fatores que impedem a retenção de talentos ou um melhor posicionamento da marca perante a sociedade”, diz.

Daniel Pacheli Bruno Canabarro Paula Spinelli Lucas Ssseituno 1 Papo RetoDaniel Pacheli, Bruno Canabarro, Paula Spinelli e Lucas AsseitunoSegundo ela, o resultado de todas as atividades são avaliadas a partir das métricas do mundo corporativo. Para realizar este trabalho, Nadia recorre ao traquejo desenvolvido na época do hip hop, no campus da universidade, em Paris. A base é uma extensa rede de contatos formada por 200 talentos, espalhados por Brasil e Londres. “Mapeamos profissionais em diversas áreas, a partir de um único critério: o talento”, explica.

Essa lista inclui uma diversidade ímpar, que vai desde artistas de rua, como o MC Peninha, até o skatista Sandro Dias, criador da ONG Social Skate, passando pelo empreendedor social Wagner Ramalho, do Prato Verde, que produz alimentos orgânicos na Zona Norte de São Paulo, pela ativista Nina Vieira, do Manifesto Crespo, além de DJs, como Paulão, fundador da Patuá Discos, dançarinas de break, grafiteiros e artistas plásticos.

Cada um deles possui uma função estratégica dentro dos projetos de consultoria desenvolvidos sob medida. “Entendemos a necessidade do cliente e mapeamos os talentos certos para atuar sobre um posicionamento de marca ou em um trabalho interno focado na cultura organizacional”, explica. Ela diz que a entrega se dá em diversos formatos: produção de webséries, vivências ou eventos powered by Blend. “Nosso diferencial é a curadoria, mas cuidamos da execução do projeto do início ao fim.”

“Uma conexão pode mudar uma vida”

DJ Afreekssia 1 papo retoDJ Afreekssia Para “fazer essa roda girar”, Nadia criou o Blend Club. Trata-se de um evento no qual todas as tribos se encontram: da Faria Lima ao Capão Redondo. Hoje, as rodadas acontecem no Brasil, em Paris e em Londres. A meta para 2023 é ampliar para Nova York. 1 Papo Reto esteve nas duas primeiras edições, ocorridas em 2002, em São Paulo, e constatou que a diversidade com propósito dá o tom. “O objetivo desse evento é revelar quem não está na sua timeline do Instagram”, destaca.

Ela diz que esses socialtainment (junção das palavras social e entretenimento, em inglês) têm por objetivo tornar o impacto social mais atraente para os diversos públicos, a partir de um line-up variado de artistas, empreendedores sociais, MCs, DJs e dançarinos.

E é nessa verdadeira geleia geral que Nadia espera que os talentos invisibilizados ganhem notoriedade e façam as conexões necessárias para se desenvolver, num processo de ganha-ganha. “Uma conexão pode impactar uma vida”, resume. “E esse talento pode ser aquele que vai mudar o mundo amanhã”.